quinta-feira, 8 de agosto de 2024

MIGALHAS

Convido você a refletir no milagre realizado na vida de uma mãe estrangeira que foi rejeitada pelos judeus e acolhida por Jesus.

A mulher torna-se mãe com o nascimento do primeiro filho. Com a maternidade, acumulam-se alegrias, aprendizado transformador e desafios em cada etapa do desenvolvimento. Cada mãe tem sua própria “lista” de alegrias, aprendizado e desafios. De modo especial, queria destacar as mães que têm filhos com alguma limitação de saúde. Elas se esforçam ao máximo, todos os dias, para proporcionar o melhor que podem a seus filhos. E não foi diferente com a mãe que é a personagem bíblica da nossa reflexão de hoje.

A mulher cananeia (ou siro-fenícia) não teve sua identidade revelada na Bíblia. Pouco sabemos sobre essa mulher, mas sua fé foi registrada devido à sua ousadia e persistência. Ela morava na região que hoje corresponde ao Líbano, e seu povo era odiado e desprezado pelos judeus (a região hoje corresponde a Israel). Ela era descendente dos cananeus, que causaram muito sofrimento ao povo de Israel no passado. Os judeus chamavam os cananeus de cães, no sentido pejorativo – algo como “vira-latas sarnentos”.

Para agravar a situação, a mulher tinha uma filha que sofria demais com possessão demoníaca, mas sua fé era sólida como a rocha. Uma fé viva impulsionou essa mulher a enfrentar o preconceito de sua época e buscar cura para sua filha.

Vejamos o enredo dessa história em Marcos 7:24-30, A Mensagem
"Dali Jesus partiu e foi para os arredores de Tiro. Entrou numa casa para não ser encontrado, mas a notícia de sua chegada se espalhou. Ele estava dentro de casa quando uma mulher, cuja filha era perturbada por um espírito maligno, ficou sabendo de sua presença ali. Ela se ajoelhou aos seus pés, implorando ajuda. A mulher era grega, siro-fenícia de nascimento, e pediu que ele curasse sua filha. Ele disse: 'Espere sua vez. Os filhos devem ser alimentados primeiro. Se sobrar alguma coisa, os cães poderão comer'. Ela foi rápida: 'Entendo, Mestre. Mas os cães não comem das migalhas que os filhos deixam cair?' Jesus ficou impressionado: 'Tem razão! Vá para casa. Sua filha não está mais perturbada. A aflição demoníaca se foi'. Ela foi para casa e encontrou a filha tranquila na cama, livre daqueles tormentos."
A mulher soube de Jesus por meio de judeus que viviam no país dela. O amor materno a encorajou a buscá-Lo. Cristo já sabia da situação dessa mulher e direcionou Sua rota para encontrá-la e quebrar barreiras construídas pelo preconceito e orgulho judaico.

A crise e o desespero dessa mulher podem ser entendidos pelos relatos de Mateus e Marcos, ao informar que sua única filha estava endemoninhada e sofria demais.

Ao longo da vida, teremos experiências desagradáveis com doenças, solidão, acidentes, calamidades, injustiça, preconceito e morte. A vida nem sempre parecerá “justa”. A maioria de nós já perguntou num ou noutro momento porque Deus permite que aconteçam coisas más a pessoas inocentes. Pare e pense por um momento: como estava essa mulher emocionalmente? Muitos de nós carregamos preocupações diversas com os filhos, mas conviver com um filho que tem possessão demoníaca deve ser algo terrível. Alguns problemas são inevitáveis; outros, inesperados, e precisam ser administrados com a sabedoria de Deus para não causarem maiores prejuízos.

Segundo Ellen G. White, a atitude de Cristo em relação à mulher, de aparente indiferença, num comportamento típico dos judeus, tinha a intenção de “impressionar os discípulos quanto à maneira fria e insensível com que os judeus tratariam um caso como esse, ilustrada pela forma como Ele recebeu a mulher. Ele queria impressioná-los também quanto ao modo compassivo pelo qual desejava que eles lidassem com essas aflições, conforme exemplificou ao atender posteriormente ao pedido dela” (O Desejado de Todas as Nações, p. 316).

No diálogo entre Jesus e a mulher, observa-se que ela mantinha uma fé sólida diante do difícil contexto em que se encontrava. Insistia em apresentar sua necessidade em crescente ardor, porque percebeu a compaixão que Cristo não conseguia esconder. Essa mulher não tinha preconceitos e imediatamente aceitou Jesus como seu Redentor.

O clamor da mulher incomodou os discípulos, e eles pediram a Cristo que a despedisse. Jesus lhes respondeu: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24). Apesar de estar em terra estrangeira, Jesus enfatizou qual era Sua missão: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1:11). 

O povo do Messias o rejeitou, mas a mulher cananeia aproximou-se de Jesus e O adorou, dizendo: “Senhor, socorre-me!” A adoração da mulher aparentemente não surtiu efeito, porque Jesus respondeu: “Espere sua vez. Os filhos devem ser alimentados primeiro. Se sobrar alguma coisa, os cães poderão comer”. Jesus estava enfatizando que Sua missão estava vinculada à casa de Israel, e atender ao pedido da mulher seria comparável ao ato de um pai de família que tira o pão dos filhos e dá aos cachorrinhos.

A mulher continuou, audaciosamente, desafiando uma ideologia de favoritismo aos judeus. Ela reclamou seu lugar no plano de Deus. Não permitiu que nada a extraviasse de seu objetivo. Ela afastou os discípulos; ignorou o silêncio de Jesus e Sua observação sobre ter sido enviado apenas ao povo de Israel. Ela simplesmente se recusou a deixar que as circunstâncias a desviassem de seu propósito.

A resposta da mulher cananeia é surpreendente, pois ela não se fez de vítima ao ser comparada aos cães e respondeu: “Entendo, Mestre. Mas os cães não comem das migalhas que os filhos deixam cair?" Ela confirmou o que Jesus lhe disse e enfatizou que não buscava o alimento destinado aos filhos, mas a migalha que cabe aos cachorrinhos. Para aquela mulher, a migalha da mesa do Filho de Davi era suficiente para resolver seu problema.

Jesus lhe respondeu: “'Tem razão! Vá para casa. Sua filha não está mais perturbada. A aflição demoníaca se foi'. Ela foi para casa e encontrou a filha tranquila na cama, livre daqueles tormentos." Acabou ali uma guerra espiritual, por causa da intervenção de Deus e da insistência de uma mãe perseverante e resiliente que não perdeu o foco, em nenhum momento, da bênção que fora buscar. Ellen G. White afirma que ela " a despeito das aparências que a poderiam ter levado a duvidar, confiou no amor do Salvador. É assim que Cristo deseja que nEle confiemos. As bênçãos da salvação destinam-se a toda alma" (DTN, p. 282).

Se você luta com a doença crônica ou terminal de um filho, não desanime. O Senhor está com você. Se você enfrenta discriminação, perseguição ou preconceito de alguma forma, saiba que o Senhor é quem o abençoa, lhe dá paz e concede oportunidades. Se você sente a solidão de morar longe de sua cidade natal, o Senhor é quem guarda você. “Quando você passar pelas águas, eu estarei com você; quando passar pelos rios, eles não o submergirão; quando passar pelo fogo, você não se queimará; as chamas não o atingirão. Porque eu sou o Senhor, seu Deus, o Santo de Israel, o seu Salvador” (Is 43:2, 3).

O Senhor abençoa, cura e atende a todos que vão a Ele. Perseveremos em oração e fé viva, ativa. Estejamos atentos para que não haja nenhum tipo de discriminação em seu lar, trabalho ou igreja. Ellen G. White diz que "Qualquer discriminação é aborrecível a Deus. É-Lhe desconhecida qualquer coisa dessa natureza. Aos Seus olhos, a alma de todos os homens é de igual valor" (DTN, p. 282). 

Que de nossos lábios não saia nenhuma expressão de desprezo ou discriminação. Que a convicção de receber a bênção de Deus seja tão real em nossa vida como foi para a mulher cananeia. Temos agora a oportunidade de nos colocar em humildade diante de nosso Salvador, apresentando a Ele nossas dificuldades.

Querido Deus, ajuda-nos a confiar em Ti e atende o nosso clamor, te pedimos em nome de Jesus. Amém!

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