sexta-feira, 21 de março de 2025

SACUDIDURA: OS 14 GRUPOS QUE DEIXARÃO A IGREJA

“Sacudidura” é uma palavra figurativa usada em nossa igreja que designa uma experiência especial de seleção entre o povo de Deus. A palavra vem do ambiente agrícola. Após a colheita, os grãos são peneirados e sacudidos, método que descarta os grãos quebrados e a palha é soprada para fora.

"Vou dar ordem e vou separar os bons dos maus em Israel, como quem separa o trigo da casca, sem perder um só grão" (Amós 9:9).

A sacudidura escatológica, conforme ensinam os adventistas, é um período que acontecerá antes da segunda vinda de Jesus Cristo, finalizando com o término do juízo investigativo no santuário celestial (fechamento da porta da graça), abrangendo tanto indivíduos como grupos.

Ellen G. White alerta: “A sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja” (Carta 46, 1887, p. 6). "Haverá uma sacudidura da peneira. No devido tempo, a palha precisa ser separada do trigo. Por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos está esfriando. Este é precisamente o tempo em que o genuíno será o mais forte" (Eventos Finais, p. 173).

Quem são os que deixarão a Igreja, sob a ação da sacudidura, identificados de forma geral sob as figuras do “joio”, “palha” e “mornos”? Em diferentes fontes, nos escritos de Ellen G. White, encontramos pelo menos 14 grupos que, eventualmente, deixarão a igreja:

1. Os autoenganados (Testemunhos para a Igreja, v. 4, p. 89, 90; v. 5, p. 211, 212).

2. Os descuidados e indiferentes (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 182).

3. Os ambiciosos e egoístas (Primeiros Escritos, p. 269).

4. Os que recusam sacrificar-se (Primeiros Escritos, p. 50).

5. Os orientados pelo mundanismo (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 288).

6. Os que comprometem a verdade (Testemunhos para a Igreja, v. 5, p. 81).

7. Os desobedientes (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 187).

8. Os invejosos e críticos (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 251).

9. Os fuxiqueiros, que acusam e condenam (Olhando Para o Alto, p. 236).

10. A classe conservadora superficial (Testemunhos para a Igreja, v. 5, p. 463).

11. Os que não controlam o apetite (Testemunhos para a Igreja, v. 4, p. 31).

12. Os que promovem desunião (Review and Herald, 18 de junho de 1901).

13. Os estudantes superficiais das Escrituras (Testemunhos para Ministros, p. 112).

14. Os que perderam a fé no dom profético (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 84).

Dois fatos aqui são convergentes. Primeiramente, a ampla variedade desse catálogo. Em segundo lugar, todas essas categorias estão hoje representadas na igreja. 

Ellen White afirma: "Ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário" (O Grande Conflito, p. 608). Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os infiéis que abandonarão a igreja.

"Ele, porém, respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada" (Mateus 15:13). Neste texto, Jesus nos adverte contra as heresias teológicas do rigorismo farisaico como plantas que Deus não plantou. As heresias, contudo, não se limitam às doutrinas. Há também as heresias do comportamento, que serão também eliminadas.

Confira estes outros dois textos de Ellen White: "Introduzir-se-ão divisões na igreja. Desenvolver-se-ão dois partidos. O trigo e o joio crescerão juntos para a ceifa" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 114). "É uma solene declaração que faço à igreja, de que nem um entre vinte dos nomes que se acham registrados nos livros da igreja, está preparado para finalizar sua história terrestre, e achar-se-ia tão verdadeiramente sem Deus e sem esperança no mundo, como o pecador comum" (Eventos Finais, p. 172).

O extraordinário a respeito desse processo é que ele ocorrerá naturalmente, como resultado da incompatibilidade fundamental entre a verdade e tudo aquilo que é contrário a ela. Nosso desafio é: "Quando a religião de Cristo for mais desprezada, quando Sua lei mais desprezada for, então deve nosso zelo ser mais ardoroso e nosso ânimo e firmeza mais inabaláveis. Permanecer em defesa da verdade e justiça quando a maioria nos abandona, ferir as batalhas do Senhor quando são poucos os campeões - essa será nossa prova. Naquele tempo devemos tirar calor da frieza dos outros, coragem de sua covardia, e lealdade de sua traição" (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 31).


A purificação da igreja virá, mas administrada pelo Senhor da igreja. "Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá, quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, refinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata" (Malaquias 3:2 e 3).

Ellen White adverte: "Estamos no tempo da sacudidura, tempo em que cada coisa que pode ser sacudida, sacudir-se-á. O Senhor não desculpará os que conhecem a verdade, se não obedecem a Seus mandamentos por palavra e ação" (Eventos Finais, p. 173).

Contudo, a igreja não cairá, e por fim, novos conversos ocuparão os lugares dos que se retirarem: "A igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados fora na sacudidura - a palha separada do trigo precioso. É esse um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 380).

"Os lugares vagos nas fileiras serão preenchidos pelos que foram representados por Cristo como tendo chegado na hora undécima. Há muitos com quem o Espírito de Deus está lutando. O tempo dos juízos destruidores da parte de Deus é o tempo de misericórdia para aqueles que [agora] não têm oportunidade de aprender o que é a verdade. O Senhor olhará para eles com ternura. Seu coração compassivo se enternece, e a mão do Senhor ainda está estendida para salvar, enquanto a porta é fechada para os que não querem entrar. Será admitido um grande número de pessoas que nestes últimos dias ouvirem a verdade pela primeira vez" (Eventos Finais, p. 182).

quinta-feira, 20 de março de 2025

ADOLESCÊNCIA

Recém lançada na Netflix, a minissérie "Adolescência" lidera a lista de séries mais vistas da plataforma no Brasil com uma história perturbadora. Em uma noite tranquila, a polícia invade a casa da família de Jamie Miller (Owen Cooper) e prende o garoto de 13 anos pelo assassinato de uma colega de classe. Dividida em quatro episódio gravados em plano sequência (quando não há cortes entre as cenas), a produção revela como o crime vira de ponta cabeça a vida da família. 

Com uma narrativa densa e provocativa, a obra convida o público a refletir sobre as dinâmicas familiares, a vulnerabilidade dos jovens e os desafios da comunicação entre pais e filhos. A série não apenas expõe as dificuldades enfrentadas pelos adolescentes, mas também escancara o impacto das escolhas, ou da falta delas, dos adultos ao seu redor.

“PAI, VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO. VOCÊ ESTÁ PERDIDO.”
Essa frase dita pelo adolescente Adam, filho do policial Luke Bascombe, é um dos momentos mais impactantes da minissérie. Ela traduz a desconexão entre adultos e adolescentes, tema central da obra. O que acontece quando os adultos acreditam que estão no controle, mas, na realidade, estão perdidos em relação ao que seus filhos sentem, pensam e vivenciam? Adolescência não busca oferecer respostas prontas, mas sim levantar questionamentos profundos sobre essa fase da vida. 

UMA NARRATIVA QUE PROVOCA E DESAFIA EXPECTATIVAS
A minissérie conta a história de Jamie, um garoto de 13 anos acusado de cometer um crime chocante. Desde o início, a narrativa conduz o público a um jogo de percepção: Jamie é franzino, branco, aparentemente um “bom moço”. Sua fragilidade é enfatizada em cenas impactantes, como quando urina nas calças no início da série, evidenciando o medo e a vulnerabilidade. Esse conjunto de elementos desperta no espectador uma inclinação à empatia, gerando a esperança de que ele seja inocente.

Ao longo dos episódios, no entanto, a série vai desconstruindo essa visão inicial. Não existem respostas simples, e os personagens são apresentados de maneira complexa e multifacetada. Jamie representa muito mais do que um adolescente específico: ele é um símbolo da adolescência negligenciada, das dores silenciadas, da dificuldade em se expressar e da falta de espaço seguro para que os jovens sejam ouvidos.

O PAPEL DA ESCOLA E A SOCIEDADE QUE JULGA
O ambiente escolar é um dos cenários centrais de "Adolescência", e a série faz questão de mostrar como a escola falha em proteger seus alunos. O bullying está presente em toda parte, e não apenas Jamie sofre com isso. Katie Leonard, a própria vítima do crime, também era alvo de ataques constantes e, além disso, sofreu sexting, tendo uma foto íntima exposta e ridicularizada, um retrato cruel da misoginia na sociedade.

Ao mesmo tempo, os professores se mostram completamente despreparados para lidar com essas questões. A falta de intervenção eficaz transforma a escola em um espaço onde o sofrimento é normalizado e os problemas dos alunos são ignorados até que se tornem graves demais para serem contornados.

E então surge a sociedade que julga. Os pais de Jamie passam a ser condenados e rotulados. A irmã também carrega o peso de um sobrenome que agora se tornou um estigma. Mas a grande ironia é que as mesmas pessoas que apedrejam essa família, que se perguntam “como não viram?”, são aquelas que também fecham os olhos para o que acontece dentro de seus próprios lares.

A REFLEXÃO BRUTAL DOS PAIS: ATÉ ONDE PODERIAM TER EVITADO?
Um dos momentos mais emocionantes da série é a reflexão dos pais de Jamie. O pai admite que sofreu violência doméstica na infância e quis criar o filho de uma maneira diferente. A mãe lembra que sempre tentaram oferecer o melhor: um quarto bem montado, um videogame, conforto. Mas, ao mesmo tempo, confessa que notava que o filho passava cada vez mais tempo isolado no quarto. E ela não viu problema nisso.

O pai se lembra da cena em que não conseguiu olhar para o filho, quando ele não atendeu às expectativas por não ser bom nos esportes. Ele também admite que, mesmo vendo o vídeo, não quis acreditar, não soube lidar.

E quantos pais não fazem o mesmo? Acreditamos que o perigo está nos grandes sinais: nas explosões de raiva, nas agressões físicas, nos comportamentos que fogem completamente da normalidade. Mas e as pequenas coisas? Os silências prolongados, os afastamentos sutis, as mudanças imperceptíveis no comportamento?

A grande lição de "Adolescência" é que é preciso equilibrar responsabilidade e auto-perdão. Sim, os pais concluem que poderiam ter feito mais. Mas também precisam aceitar que não existe uma fórmula perfeita para criar um filho e que, muitas vezes, os sinais de alerta são quase invisíveis.

O IMPACTO DA PSICÓLOGA E A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PROFISSIONAL
Outro ponto forte da série é a relação entre Jamie e a psicóloga, Dra. Briony Ariston. Essa cena é fundamental porque mostra como um profissional bem preparado pode acessar as verdades que estão escondidas sob camadas de silêncio e autodefesa.

Jamie chega a comparar o trabalho da psicóloga com o de outro profissional que o atendeu anteriormente, mencionando que “ele não fazia perguntas difíceis”. Essa diferença é crucial: enquanto um apenas tocava na superfície, o outro realmente conseguiu penetrar nas camadas emocionais do adolescente, criando um espaço onde ele, finalmente, se abriu.

E isso levanta uma questão importante: quantos profissionais estão realmente preparados para lidar com adolescentes? Quantos conseguem sair da trivialidade e mergulhar nos dilemas dessa fase da vida?

A VIDA SEGUE, MAS O QUE MUDAMOS COM ISSO?
A série termina sem um desfecho fechado porque a vida continua. Os policiais seguirão fazendo seu trabalho. Os pais precisarão encontrar um jeito de seguir em frente e reconstruir sua família. A irmã de Jamie precisará lidar com o peso do que aconteceu. A sociedade seguirá julgando, e a maioria das pessoas continuará não enxergando o que acontece dentro de suas próprias casas. E fica o questionamento final: será que vamos aprender algo com essa reflexão? Ou apenas assistiremos à série "Adolescência" e deixaremos tudo seguir como sempre foi?

Deixo aqui algumas advertências de Ellen G. White para refletirmos sobre esse tema tão desafiador:

"É impossível descrever os males que resultam de deixar a criança entregue à sua própria vontade. Alguns que se extraviam porque são negligenciados na infância, mais tarde, incutindo-se-lhes lições práticas, voltarão a si, mas muitos se perdem para sempre porque na infância e juventude receberam apenas uma cultura parcial, unilateral" (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 112).

"A má influência em torno de nossos filhos é quase avassaladora; ela lhes está corrompendo a mente e arrastando-os à perdição. Pais e mães muitas vezes deixam os filhos escolher seus próprios entretenimentos. Se se deseja formar hábitos corretos e estabelecer retos princípios, há uma fervente obra a ser feita. Se se deseja corrigir hábitos errôneos, requer-se na realização da tarefa diligência e perseverança" (O Lar Adventista, p. 466).

"Os filhos não devem ser deixados a vagar pelos caminhos a que estão acostumados, a penetrar nas avenidas que se abrem por todos os lados, afastando-se do caminho reto. Ninguém está em tão grande perigo como os que não reconhecem qualquer perigo e não têm a paciência da cautela e do conselho" (Testemunhos para a Igreja 5, p. 545).

"É obra especial de Satanás nestes últimos dias, tomar posse da mente dos jovens, corromper os pensamentos e inflamar as paixões, pois sabe que assim fazendo, pode levar a ações impuras, e assim se tornarão vis todas as nobres faculdades da mente, e ele poderá dirigi-las para satisfazer aos seus próprios propósitos" (Orientação da Criança, p. 287).

"Pais que têm negligenciado as responsabilidades que Deus lhes deu, terão de enfrentar essa negligência no juízo. O Senhor inquirirá: 'Onde estão os filhos que vos entreguei para os educardes para Mim? Por que não estão a Minha mão direita?' Muitos pais verão então que o amor irrazoável cegou-lhes os olhos para as faltas de seus filhos e deixou que estes adquirissem caráter deformado, inadequado para o Céu. Outros verão que não deram a seus filhos tempo e atenção, amor e bondade; sua própria negligência do dever fez dos seus filhos o que são" (Conselhos sobre Educação, p. 38).

"A juventude de hoje é um indicativo certo do futuro da sociedade e, ao vê-la, que podemos esperar desse futuro? Os jovens, em geral, não são educados a formarem hábitos de diligência. As cidades e até as povoações rurais estão tornando-se como Sodoma e Gomorra, e como o mundo nos dias de Noé. A disciplina dos jovens naqueles dias era semelhante à forma em que as crianças estão sendo educadas e disciplinadas nesta época, a saber: amar a excitação, glorificar a si mesmas e seguir após a imaginação de seu perverso coração. Agora, como naquele tempo, a depravação, a crueldade, a violência e o crime são os resultados. Que se deve fazer para salvar a nossos jovens? Nós podemos fazer pouco, mas Deus vive e reina, e Ele pode fazer muito" (Fundamentos da Educação Cristã, p. 317).

terça-feira, 18 de março de 2025

A VIOLÊNCIA ESTÁ COM OS DIAS CONTADOS

O sangue e a crueldade, todos os dias, são estampados nos jornais do mundo todo. Mas o caso Vitória, sobre a adolescente de 17 anos que desapareceu e foi encontrada morta em Cajamar, na Grande São Paulo, tem dominado as atenções de todo o país nas últimas semanas.

Vitória Regina de Souza desapareceu no fim de fevereiro depois que saiu do trabalho, em um shopping de Cajamar, na Grande São Paulo. Naquela noite, a jovem pegou um ônibus e mandou mensagem para uma amiga dizendo que estava com medo de estar sendo seguida. O corpo dela foi encontrado no dia 5 de março, com facadas no tórax, pescoço e rosto. A vítima estava nua e com a cabeça raspada. Até o momento, uma pessoa foi presa pelo crime, apontado pela Polícia Civil como o único suspeito. A investigação preliminar aponta que ele sequestrou Vitória por vingança.

Dados assustadores: mais de 21 milhões de brasileiras, 37,5% do total de mulheres, sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses, de acordo com pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Uma mulher é vítima de feminicídio a cada 17 horas no Brasil, aponta Rede de Observatórios da Segurança. Uma mulher é assassinada pelo parceiro ou por um parente a cada 10 minutos no mundo, aponta relatório da ONU.

É difícil dizer se houve, em algum momento da história, uma indiferença e crueldade tão imensuravelmente maior contra a vida. O que sabemos é que, pelas notícias diárias de criminalidade, nada mais parece chocar, assustar, assombrar, surpreender ou aterrorizar a sociedade de uma maneira tão impactante, marcante e perturbadora. Veja o que Ellen G. White diz: "Satanás está empregando todos os meios para tornar populares o crime e o vício aviltante. A mente é educada de maneira a familiarizar-se com o pecado. A conduta seguida pelos que são baixos e vis é posta perante o povo nos jornais do dia, e tudo que pode provocar a paixão é trazido perante eles em histórias excitantes. Ouvem e leem tanto acerca de crimes aviltantes que a consciência, que já fora delicada, e que teria recuado com horror de tais cenas, se torna endurecida, e ocupam-se com tais coisas com ávido interesse" (Patriarcas e Profetas, p. 336).

Parece estranho, mas o que fica evidente é que um surto de espanto e pavor de ontem não é muito diferente do surto de hoje e, claro, não será diferente do surto de amanhã. A diferença mesmo está na intensidade, pois na medida em que o tempo passa, a selvageria, desumanidade, truculência e improbidade se tornam maiores, intensas e, infelizmente, cada vez mais comuns. Ellen G. White afirma: "Os relatos de homicídios e crimes de toda a espécie chegam até nós diariamente. A iniquidade está-se tornando uma coisa tão comum que não ofende mais as suscetibilidades como em tempos passados" (Eventos Finais, p. 23).

O que desejo dizer é que nos assustamos não tanto mais pela hediondez do crime, mas pela onda ou intensidade em que essas coisas têm se tornado corriqueiras. Paulo, o Apóstolo, ao contemplar o futuro, não observou nada diferente quanto à realidade da natureza moral e racional do que vemos hoje. Não fomos pegos de surpresa porque a Palavra de Deus já havia nos alertado do aumento da maldade humana. O apóstolo afirmou o que “os homens maus e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2 Timóteo 3:13).

Esta tônica da profecia de Paulo é desconcertante e temerosa, pois, segundo sua perspectiva, melhor dizendo, segundo a perspectiva de Deus, no mundo não haverá dias melhores. Jesus também não foi otimista quando, ao descrever os dias finais da história, com ênfase em Sua segunda vinda, retratou o mundo como se parecendo com os dias de Noé (Lucas 17). Naqueles dias, o pecado mais agravante, além de outros, era a violência em todo seu viés. O mesmo juízo que recaiu sobre a geração de Noé será o mesmo juízo que recairá sobre o mundo impenitente de hoje. Deus intervirá hoje como interveio no passado. A qualquer momento Ele fará a Sua visitação extraordinária.

Ellen G. White alerta: "Nenhuma teoria científica pode explicar a firme marcha de obreiros iníquos sob o comando de Satanás. Em toda multidão, anjos ímpios estão em operação, instando homens a cometer atos de violência. A perversidade e crueldade dos homens alcançarão tal altitude que Deus Se revelará em Sua majestade. Muito em breve a impiedade do mundo terá atingido seu limite e, como nos dias de Noé, Deus derramará os Seus juízos" (Olhando para o Alto, p. 372).

Não há dúvidas de que estamos todos chocados com o terror em cada esquina. A vida se tornou tão insignificante que muitos torturam e matam uma pessoa como se ela fosse um mero inseto. Amor, sentimento, dor, sofrimento humano ser tornaram profundamente banais para muitos. Mas, o que conforta é saber que a justiça honrará a todos os que foram humilhados e pisoteados pelo pecado. Uma certeza bem gratificante é que o mal, na agenda de Deus, está com data marcada para acabar.

Por mais que pareça tardia, a justiça de Deus não tarda e não falha. Na verdade, ela ocorre no tempo oportuno e certeiro. Viva confiante e com a certeza da providência divina. Olhe para sua sombra e contemple a presença do anjo do Senhor ao seu lado. Viva com os olhos no céu com a convicção da justiça de Deus.

Jamais deixe de orar antes de inserir os seus pés para fora de casa. Sempre peça a Deus que conserve ao seu lado a presença do anjo protetor. Lembre-se que todos os que confessam o nome de Deus e vivem ao Seu lado podem, mesmo em meio a tanta tribulação, viver na paz de espírito. Ele está atento a todas as desordens que tem trazido dor e medo e fará justiça por cada uma delas. Alegre-se, porque a nossa estadia nesta terra está chegando ao fim. Lembre-se:

“Porque Deus conduzirá a Juízo tudo quanto foi realizado e até mesmo o que ainda está escondido; quer seja bem, quer seja mal” (Eclesiastes 12:14).

“Porque determinou um dia em que julgará o mundo com o rigor de sua justiça, por meio do homem que para isso estabeleceu. E, quanto a isso, Ele deu provas a todos, ao ressuscitá-lo dentre os mortos!” (Atos 17:31).

“Porquanto, todos nós deveremos comparecer diante do tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba o que merece em retribuição pelas obras praticadas por meio do corpo, quer seja o bem, quer seja o mal. Perfeita reconciliação com Deus” (2 Coríntios 5:10).

Ellen G. White complementa: "Na grande obra de finalização, nos defrontaremos com perplexidades que não saberemos contornar, mas não nos esqueçamos de que as três grandes potestades do Céu estão atuando, que a divina mão está posta ao leme, e Deus fará cumprir os Seus desígnios" (Evangelismo, p. 65).

Mateus 24:12 diz que “por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”, mas no verso 13 encontramos outra fórmula atual: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”. Resumindo, somos chamados a perseverar em Cristo, nossa única esperança, e que nos prometeu um mundo novo e sem violência. Você pode acreditar.

segunda-feira, 17 de março de 2025

VOCÊ TEM AMADO DE FATO SEU PRÓXIMO?

A escritora e cientísta política Ilona Szabó de Carvalho escreveu certa vez: "Olhe para o lado. Olhe nos olhos de quem está ao seu lado. Comece por onde se sente confortável, na sua casa, e em seus círculos mais próximos. Mas vá além. Ande pelas ruas e olhe nos olhos de quem cruza seu caminho nas calçadas. Preste atenção para não perder ninguém, pois pode passar por alguém que está sentado no chão, ou grudado na janela de um ônibus lotado. Reconheça o outro, não o evite. Reconheça-se no outro, seja pelas semelhanças, seja pelas diferenças e privilégios."

A Bíblia diz que nos últimos tempos o amor de muitos esfriaria. Se “o amor esfriar” não é ignorar as pequenas necessidades do próximo, não sei o que é. Infelizmente, é muito difícil mudarmos as outras pessoas. Mas o que podemos fazer é mudar a nós mesmos. Por isso proponho a você uma reflexão sobre suas atitudes. Será que você tem amado de fato o próximo?

Entenda que o amor ao próximo não se demonstra apenas em gestos grandiosos. Não é sendo missionário na África, tornando-se a Madre Teresa de Calcutá ou doando milhões de reais para a caridade que você será alguém que ama o próximo. Até porque, convenhamos, essas são ações que não estão ao alcance da esmagadora maioria das pessoas. Mas você tem a possibilidade de exercer o amor ao próximo diariamente, em pequenos gestos.

Ellen G. White declara: "Não aguardeis grandes oportunidades, negligenciando as pequenas oportunidades atuais para praticar pequeninos atos de bondade. Nas palavras, no tom da voz, nos gestos, na expressão do rosto podeis representar o Espírito de Jesus. Quem negligencia essas coisinhas e ainda alimenta a ilusão de estar preparado para realizar coisas maravilhosas para o Mestre, estará em perigo de fracassar redondamente. A vida não se compõe de grandes sacrifícios e maravilhosas realizações, mas de pequenas coisas. Bondade, amor e cortesia são as características do cristão" (Este Dia com Deus, p. 147).

Ceder o lugar no ônibus, abrir a porta para senhoras passarem, puxar a cadeira no restaurante, ceder a vez no trânsito, permitir que gente idosa passe à sua frente na fila, deixar que o último pão da padaria seja comprado por outra pessoa, abrir mão do seu tempo para ouvir quem está triste, fazer elogios, dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede… Atitudes como essas custam muito barato ou nada e, acredite, não doem.  

Você pode achar que pequenos gestos como esses não fazem a diferença. Mas lembre-se de que é do acúmulo de uma grande quantidade de tijolos bem pequenos que você constrói um enorme edifício de dezenas de andares. Ellen G. White diz: "A edificação de vosso caráter de maneira alguma está terminada. Cada dia é colocado na estrutura um bom ou mau tijolo. Ou estais construindo tortuosamente, ou com exatidão e correção que formarão um belo templo para Deus" (Carta 16, 1886).

Pequenos gestos de amor fazem toda a diferença. Jesus morreu pela humanidade, e isso foi um gesto grandioso. Mas Ele também providenciou comida para pessoas que estavam com fome. Ele chorou em solidariedade à tristeza daqueles que estavam abatidos com a morte de Lázaro. Ele criou as galáxias, mas também as pequenas sementes, o que demonstra que dá atenção ao macro e também ao micro. Perceba: Deus se preocupa com amor e não apenas com grandes gestos de amor. Se for amor, pode ter a dimensão que tiver, será apreciado pelo Senhor e fará toda a diferença para o próximo.

Em Lucas 10:25-37 encontramos uma história que nos ensina muitas verdades, e cada vez que a lemos, aprendemos muitas lições. Ela é conhecida como O Bom Samaritano. Ellen G. White escreveu que nessa história, Cristo ilustra “a natureza da verdadeira religião. Mostra que a religião consiste, não em sistemas, credos ou ritos, mas no cumprimento de atos de amor, no proporcionar aos outros o maior bem, na genuína bondade. Na história do bom samaritano, Jesus apresentou um retrato de Si mesmo e de Sua missão. A humanidade tem sido ferida, roubada e deixada quase morta por Satanás, mas o Salvador deixou a Sua glória para vir nos resgatar. Ele curou nossas feridas, nos cobriu com Seu manto de justiça e, à própria custa, tomou todas as providências em nosso favor. Mostrando Seu próprio exemplo, Ele diz aos Seus seguidores: 'Como Eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros' (Jo 13:34)" (O Desejado de todas as Nações, p. 497).

Amor é amor. O que revela o amor, seja “grande” ou “pequeno”, é um coração que abre mão de si pelo próximo. Ellen G. White diz: "Qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível. Devemos cuidar de todo caso de sofrimento e considerar-nos a nós mesmos como instrumentos de Deus para aliviar os necessitados até o máximo de nossas possibilidades. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Sem o exercício desse amor, a mais alta profissão de fé não passa de hipocrisia" (Beneficência Social, p. 45-46).

Amar o próximo é mandamento. É preceito que está no topo da pirâmide. Dizer que ama a Deus, mas não amar o próximo, em verdade e de forma prática, é atitude que faz de nós mentirosos, diz a Palavra. A olhos humanos limitados por sua humanidade, amor pode ser uma opção, uma escolha. Mas, para Deus, não é. Amor ao próximo é mandamento. É ordenança divina. É dever sagrado e inegociável.

Peço a Deus, meu irmão, minha irmã, que você faça a diferença, que entenda que vivemos dias de muito desamor e que o amor é um item extremamente necessário e cada vez mais raro em nosso meio. Nem que sejam pequenas gotas de amor. Porque uma gota de amor após a outra, após a outra, após a outra… acaba gerando uma inundação de amor. Faça a sua parte. Ame. Por favor, ame. Pelo amor de Deus, ame. Abra mão de si em benefício do próximo, assim como Jesus abriu mão de si em nosso benefício. Acredito que, ao chegar diante do Pai celestial, o teu pequeno sacrifício será reconhecido como um grandioso gesto de amor.

Ellen G. White conclui: "O egoísmo e a fria formalidade quase têm extinguido o fogo do amor, dissipando as graças que deveriam deixar o caráter perfumado. Muitos dos que professam o nome de Jesus têm esquecido que os cristãos devem representar Cristo. A menos que mostremos sacrifício prático para o bem dos outros onde quer que estejamos, não somos cristãos, não importa o que declaremos ser" (O Libertador, p. 293).

quarta-feira, 12 de março de 2025

OS CINCO "ISMOS" DO MAL

Estamos em guerra! Essa é a principal lembrança de Apocalipse 12 para aqueles que vivem no fim do tempo do fim. Uma batalha contra o maior “sedutor” (Ap 12:9) de todos os tempos. Para ­enfrentá-lo, nosso coração não pode ser apenas controlado pelos desejos, mas precisa ser comandado pela Palavra. Fique alerta contra cinco “ismos” destruidores.

Comodismo. É a doença daqueles que vivem confortáveis com o pouco que possuem, subnutridos espiritualmente e mantidos pelo consumismo espiritual. Não usam seus dons, não participam em ministérios, não se aprofundam na mensagem, não cumprem a missão e, o pior, não passam um legado espiritual às novas gerações. Para eles, receber é uma obrigação e oferecer é um sacrifício. Pensam estar alertas, mas estão dormindo.
"Não nos sentemos em indolente comodismo, sem fazer nenhum esforço especial para realizar nossa obra. Façamos a escolha em alguma parte da grande vinha do Mestre e realizemos uma obra que exija exercício de tato e talento. Os que amam o comodismo não praticam a abnegação e paciente perseverança; e quando há necessidade de homens para realizarem grandes proezas para Deus, esses não se acham dispostos a responder: 'Eis-me aqui; envia-me a mim' (Isaías 6:8). Há trabalho árduo e penoso a ser feito, e felizes os que estiverem dispostos a efetuá-lo quando seus nomes forem chamados. Deus não recompensará homens e mulheres no mundo futuro por procurarem viver comodamente neste mundo" (E Recebereis Poder, p. 345).
Institucionalismo. É a doença do triunfalismo religioso e do formalismo espiritual, a síndrome de Laodiceia, que se julga rica, mas é miserável (Ap 3:17, 18). Seus adeptos acreditam que o fato de cumprir regras, manter cerimônias, proteger tradições e viver uma vida repetitiva os manterá seguros e agradará a Deus. Também se encantam com resultados, aplausos, notícias, curtidas, investimentos, eventos e outras formas de parecer relevantes. Suas atitudes fazem a igreja deixar de ser movimento para se tornar monumento, deixar de ser conhecida pela mensagem para ser aplaudida pela grandeza. A relevância social se torna mais importante que o crescimento espiritual. Causar boa impressão passa a ser mais importante que o cumprimento da missão. Sobram glórias e falta coração. Sua mensagem é defendida, mas não encarnada.
"A mensagem à igreja de Laodicéia é uma impressionante acusação, e é aplicável ao povo de Deus no tempo presente. O povo de Deus é representado como em uma posição de segurança carnal. Sentem-se bem, pois se imaginam em exaltada condição de realizações espirituais. Eles não sabem que sua condição é deplorável à vista de Deus. Enquanto aqueles que são abordados se lisonjeiam de achar-se em exaltada condição espiritual, a mensagem da Testemunha Verdadeira destrói sua segurança com a surpreendente denúncia de seu verdadeiro estado espiritual de cegueira, pobreza e miséria" (Testemunhos Seletos 1, p. 327).
Achismo. É apenas um sintoma do secularismo que vê a simplicidade da vida cristã como um suicídio intelectual. Busca uma religião racional, cheia de lógica, vazia de fé e distante de Deus. Seus adeptos não adoram o “Deus Eu Sou”, mas o “Deus que querem que Ele seja”. Para seu racionalismo Deus não é suficiente e para sua independência Deus não é necessário. Não notam que estão envolvidos num ciclo de deterioração da verdade, criado pelo próprio “sedutor”. No Jardim do Éden éramos guiados pela verdade. Na tentação, a serpente questionou a verdade. Séculos mais tarde, a igreja romana modificou a verdade. Anos depois, a Revolução Francesa tentou destruir a verdade. Mais perto de nós, o pós-modernismo estabeleceu que cada um é dono de sua própria verdade. E a multimodernidade, em nossos dias, trouxe a intolerância com a verdade do outro.
"A verdade é de Deus; o engano, em todas as suas múltiplas formas, é de Satanás; e quem quer que, de alguma maneira, se desvia da reta linha da verdade, está-se entregando ao poder do maligno. Não é, todavia, coisa leve ou fácil falar a exata verdade; e quantas vezes opiniões preconcebidas, peculiares disposições mentais, imperfeito conhecimento, erros de juízo, impedem uma justa compreensão das questões com que temos de lidar! Não podemos falar a verdade, a menos que nossa mente seja continuamente dirigida por Aquele que é a verdade" (O Maior Discurso de Cristo, p. 68).
Criticismo. É consequência do achismo e efeito colateral do egoísmo. Pessoas contaminadas por esse mal se importam apenas consigo mesmas. Tudo o que foge aos seus padrões pessoais e não atende aos seus interesses particulares serve de vitamina para a crítica. Seus adeptos estão em busca de justiça para todos e esperam misericórdia para si mesmos. Falam sem conhecer, machucam sem se importar e derrubam sem levantar. Descarregam suas frustrações sobre pessoas, situações ou instituições. A igreja sofre com esses “reformadores” modernos, que são capazes de corrigir a todos, menos a si mesmos. São especialistas em apontar falhas, mas incapazes de construir soluções. Cultivam pouca gratidão e muita indignação, muita desconfiança e pouca esperança, muito zelo e pouco amor. Podem ter até boas intenções, tentando ser instrumentos do “Consolador” (Jo 14:26), mas acabam se tornando agentes do “acusador” (Ap 12:10).
"Ninguém engane sua própria alma nesta questão. Se abrigardes o orgulho, o amor-próprio, o desejo de supremacia, vanglória, ambição egoísta, murmuração, amargura, maledicência, mentira, engano e calúnia, não tendes Cristo em vosso coração, e as evidências demonstram que tendes a mente e o caráter de Satanás, e não o de Jesus Cristo, que era manso e humilde de coração. Podeis ter boas intenções, bons impulsos, podeis falar compreensivelmente a verdade, mas não estais habilitados para o reino dos Céus. [...] Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição muito mais saudável" (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 441 / Conselhos para a Igreja, p. 182 ).
Sensacionalismo. É a doença do superficialismo. Daqueles que têm pouco de Deus no interior e precisam de muito estímulo exterior. Navegam pelo mundo real e virtual em busca de novidades. Novas interpretações, novas datas, novos vídeos, novas descobertas, novos oradores carismáticos. Não se alimentam do “Assim diz o Senhor”, mas do “assim diz o pastor, o pregador, o influenciador”. Acabam afetados pela rotina, decepcionados pelo engano e destruídos pela apostasia.
"Tenho sido instruída de que não é de doutrinas novas e fantasiosas que o povo precisa. Não necessitam de conjecturas humanas. Precisam do testemunho de homens que conhecem e praticam a verdade. As notícias sensacionalistas prejudicam o desenvolvimento da obra. Não temos ânsia de excitação, de sensacionalismo; quanto menos disso tivermos, tanto melhor. O raciocínio tranquilo e fervoroso com base nas Escrituras, é precioso e frutífero" (Evangelismo, p. 170).
Por que não substituir esses “ismos” do mal pelos “ismos” do Senhor? Oferecer palavras de otimismo, desenvolver atitudes de altruísmo e cumprir a missão do adventismo.

[via Revista Adventista - Textos em vermelho de Ellen G. White]

segunda-feira, 10 de março de 2025

CONCLAVE, TRUMP E APOCALIPSE 13

Segue abaixo um trecho do excelente e revelador artigo do jornalista Jamil Chade sobre o próximo grande objetivo político do presidente americano Donald Trump:

"Permeado por católicos ultraconservadores e tradicionalistas, o governo de Donald Trump colocou o conclave como seu próximo grande objetivo político. Com a participação da diplomacia americana, de deputados da base mais conservadora e uma rede de entidades e religiosos, a Casa Branca tenta influenciar a direção que pode tomar a escolha do novo papa, caso Francisco tenha de renunciar ou não sobreviva a seus problemas de saúde.

O cálculo do governo americano é de que, mesmo que o pontífice não morra no curto prazo, os próximos quatro anos serão decisivos para influenciar a escolha do novo papa. Trump terminará seu mandato com um papa que, se vivo, terá 92 anos. Preparar o conclave, portanto, se transformou em um objetivo político da Casa Branca. Ainda que o voto seja exclusividade de cardeais e que muitos deles tenham sido nomeados por Francisco, a percepção é de que se pode criar um "clima" de pressão e, desde já, articular nomes que poderiam se apresentar como alternativas a uma continuação da gestão de Francisco.

Do lado político, reconquistar o Vaticano seria estratégico para permitir que a agenda ultraconservadora americana ganhe a benção e a chancela diplomática da Santa Sé para ser difundida pelo mundo. Ao anunciar seu embaixador em Roma, Trump escancarou a relação entre a política, a fé e sua escolha. "Brian é um católico devoto, pai de nove filhos e presidente da CatholicVote. Ele recebeu inúmeros prêmios e demonstrou uma liderança excepcional, ajudando a construir um dos maiores grupos católicos de defesa de direitos do país", anunciou o republicano.

O presidente lembrou que Burch "me representou bem durante a última eleição, tendo obtido mais votos católicos do que qualquer outro candidato presidencial na história". Os dados de fato confirmaram que os católicos optaram por Trump por uma margem de 20 pontos e foram decisivos nos estados decisivos no Cinturão da Ferrugem e no Sudoeste.

Fontes em Washington explicaram ao UOL que Burch é apenas uma das peças da engrenagem, ainda que crítica. Dentro do governo, os católicos mais tradicionais contam com representantes de peso, entre eles Tom Homam, o "czar das fronteiras", Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, e JD Vance, o vice-presidente. Também são católicos Linda McMahon, secretária de Educação, Elise Stefanik, embaixadora para a ONU e que afirmou que Israel tem "direito bíblico" sobre as terras palestinas. A lista ainda inclui Marco Rubio (Departamento de Estado), Sean Duffy (Transporte), o diretor da CIA, John Ratcliffe, e Robert F. Kennedy Jr., na Saúde.

No dia 21 de janeiro, horas depois de Trump tomar posse, o vice-presidente da CatholicVote, Joshua Mercer, deixou explícito que a vitória do republicano era parte de um plano maior. "Pela graça de Deus, recebemos uma oportunidade que tem sido cada vez mais rara na história moderna: levar nossa visão de mundo política católica para os corredores da maior potência do mundo." (Leia o artigo na íntegra em UOL).

Apocalipse 13
Sem querer ser alarmista ou sensacionalista, este artigo nos lembra da importância de nos prepararmos a cada dia para a breve volta de Jesus e estudarmos as Escrituras, principalmente as profecias, para não sermos pegos de surpresa. Meu objetivo não é condenar ou difamar alguma pessoa ou organização religiosa. O propósito é chamar a atenção de todos para a importância de descobrir a verdade, e de submeter-se ao Senhor.

Apocalipse 13 é um texto simbólico profético que faz menção às duas bestas: a que emerge do mar e a que emerge da terra. Tendo em vista que a palavra “besta” em profecia significa “poder religioso ou político” (Dn 7:17), podemos concluir que a primeira besta representa um poder religioso e a segunda besta, um poder político. Apocalipse 13 menciona a união entre essas duas bestas como potencialmente perigosa, principalmente no desfecho da história deste mundo, formando um poder político religioso. Estudando a fundo as profecias, chegamos à conclusão que a primeira besta representa o sistema religioso papal e a segunda os Estados Unidos da América.

Existe uma associação inconfundível entre este capítulo e Daniel capítulo sete. Ambos apresentam uma sequência de animais e destacam a figura de uma besta ou animal “terrível e espantoso” (Dn 7:7). Esses animais, na sequência da profecia de Daniel, bem como na estátua do sonho do rei Nabucodonosor, representam, respectivamente: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Mas de todos estes impérios, o último, descrito como um animal medonho, deixaria registrado na história um reinado de medo e descaso para com a Palavra de Deus. João, por sua vez, viu uma besta que saiu do mar. Ou seja, uma besta que surgiria de “povos, multidões, nações e línguas” (Ap 17:15). Observem que João apresentou um regresso histórico, uma ordem contrária dos animais citados por Daniel (v.2), corroborando com o fiel cumprimento da profecia referente aos reinos que já haviam passado.

Findo o período da supremacia política dos impérios, Roma passou a reger as nações através do poder político e religioso do papa. Considerado líder supremo, o pontífice tornou-se a figura mais importante do globo e sua palavra passou a ter vigor em todas as esferas da sociedade. Existem diversas semelhanças entre o chifre pequeno da profecia de Daniel e a besta que emerge do mar. Ambos, portanto, representam o mesmo poder: Roma Papal. Vimos que este tempo de apogeu durou “quarenta e dois meses” (v. 5), 1260 anos, tendo o seu fim em 1798 com a prisão do papa Pio VI. A profecia apresenta, porém, um período no futuro em que este poder recobraria as suas forças, quando diz: “essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (v. 3). Ou seja, Roma Papal reassumirá o controle do poder civil e religioso e revelará ao mundo um discurso que atrairá multidões, “aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (v. 8). Será que o cenário mundial atual já não revela indícios suficientes de que esta profecia já está se cumprindo?

A besta que surge da terra, ao contrário de mar, representa um poder que surge de um lugar deserto ou pouco povoado. Fugindo da perseguição, muitos cristãos desbravaram os mares à procura de viver com liberdade a sua crença. Foi assim que surgiu a nação dos Estados Unidos da América, com seus ideais protestantes de liberdade civil e religiosa. Ellen G. White diz: “Que nação do Novo Mundo se achava em 1798 ascendendo ao poder, apresentando indícios de força e grandeza, e atraindo a atenção do mundo? A aplicação do símbolo não admite dúvidas. Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações desta profecia; esta aponta insofismavelmente para os Estados Unidos da América do Norte” (O Grande Conflito, p. 439).

Como os “dois chifres” não possuem coroas ou diademas como na descrição da besta anterior, eles não se referem a reinos, mas podem se referir a esses dois ideais de liberdade, já que parece um cordeiro, isto é, aparenta ser uma nação cristã, mas que no fim revelará a sua verdadeira face, “como dragão” (v. 11). Ellen G. White afirma: “A ‘fala’ da nação são os atos de suas autoridades legislativas e judiciárias. Por esses atos desmentirá os princípios liberais e pacíficos que estabeleceu como fundamento de sua política. A predição de falar ‘como o dragão’, e exercer ‘todo o poder da primeira besta’, claramente anuncia o desenvolvimento do espírito de intolerância e perseguição que manifestaram as nações representadas pelo dragão e pela besta semelhante ao leopardo” (O Grande Conflito, p. 441).

Há alguns anos, seria impossível fazer qualquer ligação ou conexão entre a nação norte-americana e o Vaticano. Hoje, vemos que as relações estão cada vez mais estreitas e que as portas estão sendo abertas para uma associação cada vez mais íntima.

A besta que sobe do mar representa as duas fases de Roma: pagã e papal. Partindo do princípio de que ela emerge do meio de povos e nações, as sete cabeças representam os seguintes reinos: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma pagã e Roma Papal; os povos que representam os piores inimigos do povo de Deus ao longo da história. A profecia indica que Roma adquiriu características peculiares de alguns desses povos: da Grécia (leopardo) a semelhança no sistema religioso de culto a imagens e invocação de santos; da Medo-Pérsia (urso), a instituição do domingo como dia de guarda, pois os persas dedicavam o primeiro dia da semana como um dia de culto ao deus Sol; e da Babilônia (leão), Roma copiou a soberba, o orgulho e o descaso para com a Lei de Deus (Is 13:11; Is 14:10-14).

O início da cura da ferida mortal se deu no ano de 1929, quando Benito Mussolini assinou uma concordata concedendo ao papado 44 hectares de terra, que, mais tarde, se tornaria o menor país do mundo, o Estado do Vaticano. A partir daí, os pontífices voltaram a ter um prestígio que só vem crescendo, e a nação norte-americana aclamada como grande potência mundial, mostrando que caminha para dar as mãos à primeira besta. Logo, nos será tolhida a liberdade de crença, a liberdade econômica (v. 17) e até o direito fundamental de ir e vir. Além do inevitável decreto de morte a todos os que se recusarem a adorar “a imagem da besta” (v. 15).

Uma marca será imposta “a todos […], sobre a mão direita ou sobre a fronte” (v.16). Uma contrafação ao que o Senhor determinou para o Seu povo (Dt 6:8), que é “a perseverança e a fidelidade dos santos” (v. 10). Como está escrito: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). Será, portanto, uma questão de decisão voluntária (fronte) em obedecer os mandamentos de Deus ou mandamentos de homens (mão direita). A necessidade atual é de cristãos que reconheçam a sua incapacidade de enfrentar a grande prova final e, como Jacó, agarrem-se firmemente à destra da Onipotência até que do alto sejam revestidos de poder.

A compreensão dos símbolos de Apocalipse, porém, não pode ser maior do que o desejo por conhecer Aquele a quem este livro revela: Jesus Cristo. Pois “a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). A grande controvérsia final é uma guerra entre verdadeiros adoradores e falsos adoradores, e “o número da besta” (v. 18) é a representação de uma falsa adoração. 

A questão é: De que lado estamos hoje? Lembrem-se: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Ap 1:3). Assim como as profecias indicam, um tempo virá em que o mundo se voltará contra aqueles que permanecem leais a Deus. Nossa missão é sermos testemunhas do reino eterno, sem ceder às tentações do poder terreno. Enquanto caminhamos para o cumprimento das profecias de Apocalipse, que cada um de nós siga com o olhar fixo em Cristo e na promessa de um reino que não tem fim. Maranata!

sexta-feira, 7 de março de 2025

QUARESMA

Passadas as festividades do Carnaval, um termo tem chamado a atenção, especialmente no contexto brasileiro. Ele possui fundo religioso. É o período conhecido como Quaresma. A palavra vem do latim quadragésima ou quadragésimo dia. É historicamente presente nas tradições católica romana e católica de rito oriental, ortodoxas e até mesmo em certas denominações protestantes históricas. Consiste em um período de 40 dias que antecede a Páscoa, marcado pela necessidade de observância de penitências, jejum, oração e caridade. No catolicismo romano, o período costuma iniciar na Quarta-Feira de Cinzas (último dia das festividades do Carnaval).

Segundo artigo do professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Washington Paranhos, “nos primeiros séculos não temos registro da Quaresma entre os cristãos. A Páscoa anual era preparada através de dois ou três dias de jejum. A primeira evidência desta época do ano litúrgico remonta ao século IV”.¹

O Código de Direito Canônico (Cânon 1250) diz expressamente que “no direito da igreja universal, são dias e tempos penitenciais todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma”. Há outros documentos que atestam a necessidade de se seguir as práticas durante a Quaresma.

Um dos motivos alegados para seguir tal tradição é explicado no Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 540. Ali é dito que os 40 dias são uma alusão ao momento da tentação de Jesus no deserto. Textualmente, o documento oficial afirma que “a Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto”.

Princípios bíblicos
Não há qualquer ordenança, dentro do registro bíblico, para que os cristãos observem 40 dias de penitências, jejum, oração e caridade dentro de uma formalidade pós-Carnaval e pré-Páscoa. Trata-se, obviamente, de tradição construída pela liderança religiosa depois do período apostólico.

A Bíblia evidentemente fala da importância do arrependimento e confissão dos pecados a Deus e do Seu perdão todos os dias (Salmo 32:1; Isaías 55:7; 1 João 1:9; Hebreus 8:12). E, também, destaca que o jejum tem seu lugar ligado sempre a um propósito espiritual. O jejum é voluntário e individual. É o que vemos na história de Daniel, que jejuou parcialmente por 21 dias para buscar compreensão em Deus sobre algumas preocupações (Daniel 10:2,3). É uma prática que pode ser realizada coletivamente, como se vê em algumas experiências bíblicas de Josafá (2 Crônicas 20:18) e Esdras (Esdras 8:21). Jejum e obediência a Deus estão interligados (Isaías 58:1-14).

Oração é essencialmente uma conexão permanente com Deus (1 Tessalonicenses 5:17), e o próprio Jesus falou e viveu a realidade da oração constante. Quanto à caridade, os exemplos bíblicos são vários e sempre aparecem como uma evidência de um estilo de vida dos cristãos tementes a Deus (Mateus 25:31-46).

Os Adventistas do Sétimo Dia, por exemplo, não seguem o calendário litúrgico romano nem o período da Quaresma. Sua crença, com base na Bíblia Sagrada, enfatiza a necessidade de preparo e reavivamento espiritual diariamente. O que nos torna vivificados é a confiança na morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Mais do que 40 dias
A Quaresma enfatiza um período de intervalo para “purificação espiritual” entre o período carnavalesco e a Páscoa. É caracterizada muito mais como uma tradição ritualística temporária e passageira. Pode até produzir algum efeito conceitual, mas limita a necessidade de preocupação com questões espirituais a 40 dias. E, portanto, contrasta com a ideia de que todas as práticas ali recomendadas devam ser vividas integralmente e constantemente pelos cristãos.

Os textos bíblicos indicam a importância de o cristianismo ser vivenciado como um estilo de vida. Ultrapassa uma visão tradicional de alguma mágica presente no intervalo entre as festividades costumeiramente marcadas por imoralidade e depravação dos sentidos e a celebração da Páscoa.

O cristianismo alicerçado na Bíblia precisa ser consistente o tempo inteiro. Muito mais do que 40 dias ritualmente apontados em um calendário histórico. A importância de se buscar a Deus e experimentar as bênçãos do viver baseado na confissão e perdão dos pecados, oração, jejum e caridade é inigualável.

Faça esse teste todos os dias e o efeito certamente será mais duradouro do que festas ou tradições temporais.

Felipe Lemos via Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN)

Referência: