Quando o vi, não quis acreditar. Ele ia muito contente, todo sorriso, caminhando pela avenida à beira-mar, fazendo o seu cooper. Mas, o que tem isso demais? É que ele tinha olhos para ver, cabeça para pensar, coração para pulsar, pernas para andar, mas tinha os braços e mãos atrofiados. Assim mesmo, caminhava alegre, como se tivesse aqueles membros perfeitos... E cumprimentava as pessoas com o sorriso e a fala. E teve momento em que ele parou um pouco para contemplar o mar.
Pus-me a refletir. O que é que um homem sem braços pode fazer sozinho? Quase nada. Como se alimentar? Como tomar banho? Como escrever? Como acariciar? Ah, leitor, ter os membros superiores atrofiados deve ser muito doloroso. Faça uma experiência: imagine-se sem eles...
Numa época de tecnologia tão sofisticada como a nossa, o dedo é tudo; com ele fazemos o eletrodoméstico funcionar; com ele discamos; com ele digitamos; com ele pressionamos uma campainha...
Tudo isso eu ia pensando, enquanto o homem andava à minha frente. Muito moço, deveria ter uns 30 anos. Qual seria a sua religião? Protestante? Católica? Espírita? Por que tanta conformação diante do sofrimento? Por que não ficou em casa, amargando a sua sorte? Por que não se revoltava? Por quê? Por quê?...
Como esse homem me ensinava com a didática de seu sofrimento... Aí, monologuei: o importante não é sofrer. O importante é saber sofrer... Enquanto ele sorria para a manhã de sol, quanta gente se lamentando, se queixando, se revoltando, maldizendo e - o que é pior - tirando a própria vida... Quanta gente culpando Deus pelo seu sofrimento.
Mas ele tinha os olhos para contemplar as belezas da natureza, tinha a boca para falar e sorrir, tinha a cabeça para pensar, tinha as pernas para caminhar, tinha um coração para sentir e amar, um pulmão para respirar o ar puro da praia... E, de certo, tinha uma religião saudável, uma religião sem medos e sem mistérios.
Agora, o homem conversava com um grupo de amigos, contente e feliz. Depois continuou movimentando as pernas, sempre atento, sempre alegre. Meu medo era que ele tropeçasse e caísse... Que pensamento pessimista...
Mais adiante, lá estava ele em direção contrária à minha. Estaria indo para casa ou ia se encontrar com alguém da família a fim de levá-lo de carro? Não sei, leitor. Só sei que me senti muito inferior a esse rapaz.
E fiz o propósito de nunca mais lamentar tudo que acontece na vida...
Abaixo, uma entrevista de Kevin ao Today Show (em inglês) contando suas experiências.
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