Aquele era um típico sábado a noite de inverno na capital paulista. O tempo estava frio e chuvoso, mas mesmo assim os shoppings e pizzarias estavam lotados de gente. Estava recebendo a visita de alguns familiares, e decidimos caminhar alguns quarteirões de minha casa até uma pizzaria. Nas ruas cruzamos com outras famílias e casais, vestidos com casacos pesados e enrolados em cachecóis, que também andavam e conversavam animadamente. Quando chegamos à pizzaria, o local estava cheio, mas o cheiro e calor eram acolhedores. Tivemos que esperar alguns minutos até que o garçom indicasse onde poderíamos nos acomodar. Alguns momentos depois estávamos analisando o menu para decidirmos o sabor da pizza que iríamos pedir.
Entre uma risada e outra, algo chamou minha atenção... Senti alguém tocar no meu ombro. Voltei os olhos rapidamente e o que vi me deixou desconsertada. Era uma menina de bochechas rosadas e cabelos cacheados. Ela tinha no máximo nove anos. Vestia uma blusa de frio gasta, calça jeans e um tênis velho. Rapidamente ela abriu uma caixa retangular e sussurrou:
- Moça, você gostaria de comprar um pano de prato? Tá baratinho!
Não sei o que deu em mim. Estava surpresa, pois não esperava ser abordada por essa menina dentro do restaurante. Em São Paulo é comum encontrarmos vendedores de rua nos faróis e esquinas da cidade. De certa forma, estamos preparados para lidar com suas ofertas. Mas naquele momento não consegui raciocinar. Respondi rapidamente: - Não obrigada. - Dei um sorriso para tentar minimizar o aspecto de frustração que brotou naquele pequeno rosto.
Sem insistir, ela se dirigiu para a mesa ao lado onde foi ignorada. Fez mais duas tentativas, mas as pessoas reagiram como eu. Meus olhos ficaram presos a essa menina, e vi o momento em que a recepcionista do restaurante a conduziu para fora. Ela foi devolvida para a noite úmida e extremamente fria de São Paulo. Naquele local quente e acolhedor, a menina não foi capaz de encontrar uma pessoa que estivesse disposta a ajudá-la. Tudo isso aconteceu muito rapidamente, mas aquele olhar esperançoso ficou cravado em minha mente.
Lembrei-me da época em que era estudante e vendia livros de porta em porta para ajudar a pagar os meus estudos. Naquela época, sabia valorizar qualquer ato de simpatia e compaixão recebido de estranhos que se dispunham a me ajudar da maneira que podiam: com um sorriso, com atenção, com um copo de água ou comprando meus livros.
Nesse momento, me arrependi de não ter perguntado para aquela menina onde morava, se estava trabalhando sozinha ou se a mãe estava esperando do lado de fora da pizzaria, se estava com fome... Podia ter feito tantas coisas! Mas não fiz nada.
Levantei rapidamente da mesa e me dirigi para a porta de saída. Já na calçada olhei para todos os lados para ver se a menina ainda estava ali por perto. Não a encontrei... era tarde demais.
Naquela noite pedi perdão a Deus pela minha falta de compaixão. Roguei que me ajudasse a ser uma mulher e mãe capaz de demonstrar carinho e atenção a todas as pessoas e em todas as situações. Pedi que Jesus fizesse com que aquela menina encontrasse outras pessoas que a tratassem como merecia... com amor verdadeiro.
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