Cá estou eu, sentado no ônibus, em pleno engarrafamento. Você certamente já ficou preso num ou em milhares de engarrafamentos de trânsito, então sabe exatamente do que estou falando. Da irritação. Da sensação de perda de tempo. Da impotência de não poder fazer nada. Da raiva de não ser rico e ter um helicóptero para ir ao trabalho.
Todos os dias passar por engarrafamentos faz doer as costas, o bumbum fica achatado, as pernas acabam dormentes. É uma chatice. Mas aí, sem querer ser fanático que diz que se o arroz queimou é culpa do diabo, por outro lado não sou adepto de heresias como o Teísmo Aberto ou a Teologia Relacional e, portanto, acredito sim que Deus controla todas as coisas. Gênesis 1 diz que Ele se preocupou em formar o universo, mas também as sementes das plantas, ou seja, o Senhor atua no macro, mas também no micro. Então isso me faz suspeitar fortemente que Deus tem alguma coisa a ver com os engarrafamentos que pego diariamente para chegar ao trabalho.
Não. Que fique claro que não creio que engarrafamentos são grandes conspirações celestiais contra a humanidade, mas eu os uso como uma metáfora daqueles momentos em que Deus deixa algo ruim acontecer a nós para o nosso benefício. Seriam os “engarrafamentos da vida”.
A Bíblia afirma que Deus “castiga” ou “disciplina”, dependendo da tradução, todas as pessoas que Ele ama (Pv 3:12; Hb 12:6).Também que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que O amam, dos que foram chamados de acordo com o Seu propósito” (Rm 8:28). Então procuro tentar discernir espiritualmente por que cargas d’água tenho que enfrentar engarrafamentos todos os dias. Ou doenças. Ou tristezas. Ou dores. Ou mágoas. Ou injustiças. Ou o senso da minha própria pecaminosidade. E como minha onisciência anda meio fraca ultimamente, só me resta acalmar o coração e deixar aquele que é supremamente onisciente falar: o Espírito Santo de Deus.
O que ocorre nos engarrafamentos?
É nos engarrafamentos que desenvolvo o amor pelas pessoas, pois sou obrigado a amar aqueles que buzinam sem parar em nosso ouvido sem que possamos fazer nada para sair do lugar. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais amor.
É nos engarrafamentos que temos tempo para parar e sorrir de alegria ao perceber que fomos abençoados por Deus com recursos para comprar um carro ou pra pagar a passagem do ônibus, que temos um emprego que nos dá esse recurso, que temos saúde para sair de casa todo dia, mesmo que seja para enfrentar um engarrafamento. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais alegria por nos permitir perceber muito do que temos de bom e que em outras situações nem percebemos.
É nos engarrafamentos que aprendemos a não entrar em conflito com os motoristas ao nosso redor. Que podemos desenvolver paz no relacionamento com as outras pessoas – muitas das quais estão irritadas, chateadas e antipáticas, mas que estão passando pelo mesmo aperto que nós. Se bem usados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais paz com o próximo.
É nos engarrafamentos que aprendemos a ser mais pacientes. Nossa, isso então… será que preciso comentar? Anda, para, anda, para, anda, para… Mas a vida parece mal sair do lugar. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter muito mais paciência, num exercício de musculação espiritual para a nossa paciência.
É nos engarrafamentos que aprendemos a ser benignos com o próximo. Quando o cara da pista do lado pede passagem muitos de nós colam no carro da frente. Afinal, imagina se vou deixar alguém passar na minha frente! Estamos acostumados a nos pôr em primeiro lugar. Afinal, a amabilidade com o próximo é algo tão fora de moda! Mas nos engarrafamentos temos, se você observar bem, muitas oportunidades de sermos amáveis. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais amabilidade (ou seu sinônimo, benignidade).
É nos engarrafamentos que aprendemos a ser bons. A ceder. A não brigar. A suportar. A esperar em favor dos outros. A abrir mão do espacinho que seria bom para nós para que outros se beneficiem. Afinal, a Bíblia não nos manda “preferir os outros em honra”? A agir com o próximo como gostaríamos que ele agisse conosco? Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais bondade.
É nos engarrafamentos que aprendemos a ter fidelidade a aqueles com quem estamos aliançados. É ter a preocupação de avisar aqueles que nos esperam no horário combinado de que chegaremos atrasados. Ou então buscar alternativas de transporte que nos permitam escapar do engarrafamento para sermos fieis ao compromisso assumido, mesmo que isso nos custe gastar um dinheiro a mais para saltar e pegar o metrô, por exemplo. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais fidelidade.
É nos engarrafamentos que aprendemos a controlar nosso temperamento. A evitar os acessos de fúria porque o veículo não sai do lugar. A não se irritar e sair xingando a vida porque o sinal abriu, fechou, abriu e fechou de novo e você não saiu do lugar. Uma pessoa irritadiça ou irada pode se descontrolar nessas horas. Mas o bom treinamento quando não se pode sair do lugar nos torna mais mansos. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais mansidão.
É nos engarrafamentos que aprendemos a domar-nos. A fazer tudo ao contrário do que gostaríamos. Queremos xingar o motorista da frente, mas não xingamos. Queremos entrar na contramão, mas não entramos. Queremos fazer a bandalha, mas não fazemos. Queremos avançar o sinal, mas não avançamos. Queremos cortar o carro do lado, mas não cortamos. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais domínio próprio.
Resumo da ópera
Todos nós odiamos engarrafamentos. Mas perceba que um engarrafamento é uma ótima oportunidade para você desenvolver amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Que, se você olhar em Gálatas 5:22,23, é o Fruto do Espírito.
E tente enxergar como engarrafamentos todos os momentos da sua vida em que você está em uma situação em que não gostaria, de que você aparentemente não tem como escapar e que te dá todos os motivos do mundo para deixar aflorar o que de pior há em si. Mas há outra opção. O cristão com discernimento espiritual vai olhar para essas circunstâncias e ver que são excelentes oportunidades para desenvolver o Fruto do Espírito. E aí eu começo a desconfiar que Deus tem alguma coisa a ver com isso.
Só pra terminar, repare que engarrafamentos têm suas vantagens. Se não fosse ter ficado preso num engarrafamento, hoje eu não teria tido tempo de escrever este post no período de apenas uma viagem de ônibus. Dá o que pensar. Se o que escrevi aqui te fez refletir e te ajudou de algum modo a enxergar a vida com olhos mais cristãos, eu glorifico a Deus por ter levado 45 minutos num trajeto em que levaria normalmente cinco.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Maurício Zágari - Apenas
Não. Que fique claro que não creio que engarrafamentos são grandes conspirações celestiais contra a humanidade, mas eu os uso como uma metáfora daqueles momentos em que Deus deixa algo ruim acontecer a nós para o nosso benefício. Seriam os “engarrafamentos da vida”.
A Bíblia afirma que Deus “castiga” ou “disciplina”, dependendo da tradução, todas as pessoas que Ele ama (Pv 3:12; Hb 12:6).Também que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que O amam, dos que foram chamados de acordo com o Seu propósito” (Rm 8:28). Então procuro tentar discernir espiritualmente por que cargas d’água tenho que enfrentar engarrafamentos todos os dias. Ou doenças. Ou tristezas. Ou dores. Ou mágoas. Ou injustiças. Ou o senso da minha própria pecaminosidade. E como minha onisciência anda meio fraca ultimamente, só me resta acalmar o coração e deixar aquele que é supremamente onisciente falar: o Espírito Santo de Deus.
O que ocorre nos engarrafamentos?
É nos engarrafamentos que desenvolvo o amor pelas pessoas, pois sou obrigado a amar aqueles que buzinam sem parar em nosso ouvido sem que possamos fazer nada para sair do lugar. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais amor.
É nos engarrafamentos que temos tempo para parar e sorrir de alegria ao perceber que fomos abençoados por Deus com recursos para comprar um carro ou pra pagar a passagem do ônibus, que temos um emprego que nos dá esse recurso, que temos saúde para sair de casa todo dia, mesmo que seja para enfrentar um engarrafamento. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais alegria por nos permitir perceber muito do que temos de bom e que em outras situações nem percebemos.
É nos engarrafamentos que aprendemos a não entrar em conflito com os motoristas ao nosso redor. Que podemos desenvolver paz no relacionamento com as outras pessoas – muitas das quais estão irritadas, chateadas e antipáticas, mas que estão passando pelo mesmo aperto que nós. Se bem usados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais paz com o próximo.
É nos engarrafamentos que aprendemos a ser mais pacientes. Nossa, isso então… será que preciso comentar? Anda, para, anda, para, anda, para… Mas a vida parece mal sair do lugar. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter muito mais paciência, num exercício de musculação espiritual para a nossa paciência.
É nos engarrafamentos que aprendemos a ser benignos com o próximo. Quando o cara da pista do lado pede passagem muitos de nós colam no carro da frente. Afinal, imagina se vou deixar alguém passar na minha frente! Estamos acostumados a nos pôr em primeiro lugar. Afinal, a amabilidade com o próximo é algo tão fora de moda! Mas nos engarrafamentos temos, se você observar bem, muitas oportunidades de sermos amáveis. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais amabilidade (ou seu sinônimo, benignidade).
É nos engarrafamentos que aprendemos a ser bons. A ceder. A não brigar. A suportar. A esperar em favor dos outros. A abrir mão do espacinho que seria bom para nós para que outros se beneficiem. Afinal, a Bíblia não nos manda “preferir os outros em honra”? A agir com o próximo como gostaríamos que ele agisse conosco? Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais bondade.
É nos engarrafamentos que aprendemos a ter fidelidade a aqueles com quem estamos aliançados. É ter a preocupação de avisar aqueles que nos esperam no horário combinado de que chegaremos atrasados. Ou então buscar alternativas de transporte que nos permitam escapar do engarrafamento para sermos fieis ao compromisso assumido, mesmo que isso nos custe gastar um dinheiro a mais para saltar e pegar o metrô, por exemplo. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais fidelidade.
É nos engarrafamentos que aprendemos a controlar nosso temperamento. A evitar os acessos de fúria porque o veículo não sai do lugar. A não se irritar e sair xingando a vida porque o sinal abriu, fechou, abriu e fechou de novo e você não saiu do lugar. Uma pessoa irritadiça ou irada pode se descontrolar nessas horas. Mas o bom treinamento quando não se pode sair do lugar nos torna mais mansos. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais mansidão.
É nos engarrafamentos que aprendemos a domar-nos. A fazer tudo ao contrário do que gostaríamos. Queremos xingar o motorista da frente, mas não xingamos. Queremos entrar na contramão, mas não entramos. Queremos fazer a bandalha, mas não fazemos. Queremos avançar o sinal, mas não avançamos. Queremos cortar o carro do lado, mas não cortamos. Se bem aproveitados, engarrafamentos nos ajudam a ter mais domínio próprio.
Resumo da ópera
Todos nós odiamos engarrafamentos. Mas perceba que um engarrafamento é uma ótima oportunidade para você desenvolver amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Que, se você olhar em Gálatas 5:22,23, é o Fruto do Espírito.
E tente enxergar como engarrafamentos todos os momentos da sua vida em que você está em uma situação em que não gostaria, de que você aparentemente não tem como escapar e que te dá todos os motivos do mundo para deixar aflorar o que de pior há em si. Mas há outra opção. O cristão com discernimento espiritual vai olhar para essas circunstâncias e ver que são excelentes oportunidades para desenvolver o Fruto do Espírito. E aí eu começo a desconfiar que Deus tem alguma coisa a ver com isso.
Só pra terminar, repare que engarrafamentos têm suas vantagens. Se não fosse ter ficado preso num engarrafamento, hoje eu não teria tido tempo de escrever este post no período de apenas uma viagem de ônibus. Dá o que pensar. Se o que escrevi aqui te fez refletir e te ajudou de algum modo a enxergar a vida com olhos mais cristãos, eu glorifico a Deus por ter levado 45 minutos num trajeto em que levaria normalmente cinco.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Maurício Zágari - Apenas
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