Se eu aprender inglês, espanhol, alemão ou qualquer outro idioma, mas não souber me comunicar com as pessoas, de nada vale tanto conhecimento.
Se tiver a maior nota no Enem, for aprovado no vestibular; se concluir com brilho a Universidade, for diplomado e frequentar cursos e mais cursos de aperfeiçoamento, pós-graduação, mestrado e doutorado, mas viver distante dos problemas do povo, tanto conhecimento acumulado não passará de inútil erudição.
Se moro numa grande cidade, frequento shoppings e outros pontos da moda, mas desconheço ou sou indiferente ao sofrimento dos que moram na periferia ou pelas ruas...
Se, nas férias, a única coisa que me importa são projetos e programas de viagens fantásticas, dentro e fora do País, sem considerar a realidade dos que não podem nem mesmo sonhar, não sou um cristão verdadeiro.
Se passo meus fins de semana em festas, barzinhos e outros programas com minha turma, gastando, às vezes, numa noite, o equivalente ao salário de um trabalhador...
Se aproveito a vida sem ver a fome, o desemprego, o analfabetismo e a falta de recursos dos que estão tão próximos a mim.
Se não escuto o grito abafado que vem do menino de rua, do mendigo, do catador de papel, do aposentado e dos carentes nas filas do SUS, nas enfermarias dos hospitais, nas periferias da vida, eu não posso me considerar irmão de ninguém.
Se moro numa casa ou apartamento espaçoso e confortável, se estudo no melhor colégio, se uso a roupa e o tênis mais transados, mas não percebo que, também por causa da minha omissão, existem os que dormem sob marquises, e viadutos, os que andam de pé no chão, os que se cobrem com trapos sujos, sou apenas um belo manequim, vazio e colorido, nas vitrines da vida...
Desculpem se pareço duro e radical, mas o cristão não pode fugir aos desafios do seu tempo. Não fica de braços cruzados de boca fechada e cabeça vazia, com o coração anestesiado e insensível a tudo que o rodeia.
Não engole a injustiça, não acha “normal” que haja desigualdades tão gritantes e absurdas no nosso mundo. O cristão tem no peito e nas mãos um Amor capaz de se indignar, mas que “não perde a ternura jamais”.
O cristão não prega ódio. Não há lugar para ódio no coração de um cristão. Ele não se desespera nem desanima diante das dificuldades e fracassos, pois sabe que para sustentá-lo existem a Fé, a Esperança e o Amor. E é com o Amor, a única arma verdadeiramente revolucionária, pois muda as coisas em profundidade, que o cristão vai à luta para construir um mundo mais justo e fraterno, tal como Deus sonhou desde sempre.
O Amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade...
O Amor tudo desculpa... Sem anotar nada “no caderninho” para cobrar depois...
O Amor tudo crê...
O Amor tudo espera...
O Amor tudo suporta... Porque sabe que o insuportável mesmo é viver sem Amor
O Amor jamais passará... Pois o que É não passa. O tempo do Amor é Sempre!
Um dia, o que não É, vai encontrar seu termo; profecias, conhecimento, a ciência da qual nos orgulhamos tanto, tudo desaparecerá. Mas em nós há, plantada, uma semente de eternidade.
Quem plantou foi o Amor. E só o Amor é capaz de preencher todos os espaços, superar todos os limites, abrir todas as possibilidades.
Em nós mora o amor, o desejo de amar, pois nós somos imagem e semelhança do amor que nos criou.
Quando tudo se perder nas brumas do tempo e da História, permanecerão a Fé, a Esperança e o Amor.
Mas o que pode mudar tudo, a começar do meu coração, é o amor.
E o amor é a partilha do Ser e do Ter.
Eduardo Machado - Estória das Histórias
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