domingo, 21 de abril de 2013

Tiradentes, o Jesus brasileiro?

Tiradentes esquartejado, 
obra de Pedro Américo - 1893
Analise o quadro ao lado. Trata-se de uma das mais emblemáticas obras acerca da figura de Tiradentes. Em seguida, feche os olhos... O que lhe vem à cabeça quando o assunto é Inconfidência Mineira? (Pausa) 

Sim. A referência é Joaquim José da Silva Xavier. Data de morte: 21 de abril de 1792. Pele clara, barba por fazer, cabelos compridos, olhar terno e sereno. O corpo nu caminha em direção ao cadafalso. Beija os pés e perdoa o carrasco. Generoso, arrependido e castigado, assente a pena como a redenção única dos próprios pecados. Sente pesar o crucifixo entre as mãos. E segue...

Ok. Vamos lhe dar mais um segundinho... Agora, preste atenção, há outro detalhe: você nota qualquer semelhança entre o nosso alferes e um personagem anterior da História da Humanidade?
(Bingo! Acertou em cheio!) 

Leia o texto abaixo e entenda porque o mais heróico dos inconfidentes foi pintado e esculpido por uma infinidade de artistas, sempre à semelhança de Cristo crucificado.

Às 2h da manhã do dia 19 de abril de 1792, é pronunciada a sentença do alferes:

O rosto deste grande herói nacional é um verdadeiro mistério. Sua face mítica, reproduzida nos mais diversos livros de História do Brasil, foi reforçada cerca de um século após a sua morte, no burburinho republicano. 


Os adeptos do novo regime precisavam gerar um levante patriótico e, convenhamos: nada melhor do que tornar o mártir uma referência republicana e, por que não, fazer do episódio a própria Paixão de Cristo moderna? Afinal, bastou colocar uma barba ali, um Judas acolá... Nem Pedro faltaria para renegar o humilde alferes... 

Dito e feito. Não teve para ninguém. As semelhanças entre Tiradentes e Jesus Cristo eram inegáveis: o nosso aprendiz de dentista foi traído por trinta dinheiros, carregava a tiracolo seus 12 apóstolos e, na ressurreição cívica, sua biografia foi sendo composta ao sabor das paixões e necessidades políticas, sem maior compromisso com a veracidade. 

Por isso, embora estivesse com barba e cabelo raspados diante da sentença - como costume entre prisioneiros da época -, diversos pintores começaram a retratar Tiradentes com as feições de um Jesus brasileiro, vestido com uma imaculada túnica branca. 

E assim, a imagem resignada de nosso mártir cívico-religioso, porta-voz dos fracos e oprimidos, vem a calhar com a memória propagada pela política vigente do período, esquartejada e distribuída como saber didático em todo o país.

*Na tela de Pedro Américo (“Tiradentes Esquartejado”: 1893), destaque para um grande crucifixo, disposto ao lado da cabeça degolada.

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