A propósito da final do THE VOICE, e agora deixando de lado todo o aparato comercial, midiático, Global (da Globo) do mesmo, bem como as torcidas e discussões comezinhas, deu pra ver a diferença brutal de nível musical e cultural entre Brasil e EUA ou Europa. De fato, não dá pra comparar. Procure-se um vídeo qualquer de concorrentes do The Voice de lá, American Idol, X-Factor e outros do gênero, e ficaremos abismados.
A explicação? Educação musical fazendo parte do currículo escolar desde a Educação Infantil (Kindergarten) até o Ensino Médio (High School). No meu tempo de garoto lembro que existia uma matéria chamada Canto Orfeônico, que depois desapareceu. E tinha também Trabalhos Manuais, e eram matérias que reprovavam. Bom, além da educação obrigatória, os recursos financeiros, claro. Há o talento musical, natural, mas a educação formal tem um papel fundamental no futuro de tantos garotos e garotas com aptidão para a música, e outros dons.
Eu sempre conto que jamais estudei piano e aprendi a tocar um pouco, ensinado por minha mãe, D. Mariazinha, já falecida (que nada sabia de música ou piano), num teclado desenhado em papel, que ela estendia em cima da mesa. Isso também aconteceu com Alexandre Reichert, um dos grandes pianistas que tivemos na IASD no Brasil, que, aliás, só teve piano próprio depois de adulto, com quase 40, e compunha na parte de teclado de um acordeon cujo fole era aberto e fechado por outra pessoa (rsrs). E se formos pesquisar, veremos que uma boa parte dos grandes nomes da música religiosa ou popular em nosso pais, cantores e instrumentistas, experimentou situações de escassez e falta de recursos.
Lembro que quando eu tinha 10 anos, meu pai já falecido, minha mãe sem cultura formal, e com a responsabilidade de criar um casal de filhos, e eu devorador de dicionários de português e inglês, bebendo as palavras, como já contei aqui, meu grande sonho era estudar e falar Inglês (até hoje não considero que falo, apenas leio e escrevo bem - rsrsrs). Eu sonhava com isso, mas, mal tínhamos como pagar a "meia-água" em que morávamos no bairro da Taquara, Jacarepaguá-RJ. Ela, então me levou numa escola de Inglês que havia no bairro de Campinho, ao lado do Colégio Souza Marques (anos 60, eram poucas). Pediu pra falar com o Diretor, um senhor já bem idoso, contou da sua viuvez, do meu sonho e da nossa total falta de condição, e pediu diretamente que ele me ensinasse de graça. Ele me fez alguns testes e ficou surpreso por ver que eu já tinha um vocabulário extenso, nunca tendo estudado Inglês, tudo aprendido em dicionários. Mas, no final disse: "Minha senhora, sinto muito, seu filho é talentoso, mas, eu não posso fazer o que a senhora me pede." Minha mãe saiu dali chorando. Em outra cultura, se tanto uma professora de piano como um professor de Inglês houvessem me "adotado", talvez eu pudesse estar aqui contando outra história.
Mas, isso não é desculpa, apenas dificulta, sem impedir. Mesmo sem poder estudar Música ou Inglês formalmente, fiz a minha parte. Contei, claro, com as bênçãos de Deus, e posso dizer que consegui realizar algumas coisas na Música. Aprendi a tocar um pouco de piano e até a compor e escrever minhas composições. Aprimorei também a habilidade de escrever poesia e prosa, e se não me tornei um escritor talvez tenha sido falta de foco da minha parte. E no Inglês, se não falo, pelo menos tenho duas filhas adultas que falam como se nativas fossem, já é primeira língua delas, ou seja, acabei me realizando nelas (rsrsrs). Se o talento, a aptidão existem, não fique eternamente à espera dos recursos, pois nem sempre eles virão.
Vejam esse vídeo abaixo, comprovem o que pode fazer a força de vontade e determinação quando há um sonho a ser conquistado. Vejam o que os recursos podem proporcionar, mas também o que se pode conseguir mesmo sem eles. Agora, imaginem essas crianças do vídeo vivendo na Europa ou EUA, onde chegariam. Se você é sensível, é musical, tem alma de artista, duvido que chegue ao final dele sem derramar uma lágrima.
Que bom seria se todos os empresários e pessoas de recursos desse país olhassem, pesquisassem, procurassem, com desprendimento e liberalidade, conhecer casos como esses e direcionassem uma parte do que lhes sobra, para esse objetivo social, humanitário e divino.
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