"Mel e leite estão debaixo da tua língua." Cantares 4:11 |
No Antigo Testamento, o substantivo beijo, do hebraico neshîqâ, procede de uma raiz primitiva (nashaq) cujo significado básico é pegar fogo, queimar, acender, com a ideia de fixar, amarrar. No hebraico, o verbo beijar significa literalmente tocar levemente. No grego do Novo Testamento, o vocábulo para beijo deriva-se de phileo, amor, amizade, afeição.
O beijo era um costume presente em diversas situações e com significados variados, a saber: No círculo familiar era uma forma de carinho e afeto entre os parentes (Gn 31:28; Rt 1:9). O beijo também era símbolo da adoração e devoção religiosas falsas (1Rs 19:18). Nos relacionamentos entre as pessoas era símbolo de respeito (Êx 4:27; 1Sm 10:1),saudação (Gn 29:13; 2Sm 19:39), lealdade e dignidade (2Sm 19:39), lamento (Gn 33:4; Rt 1:14), traição (Mt 26:49), mas também de amor entre os cônjuges (Ct 1:2; 8:1).
A Bíblia também o descreve como expressão da concupiscência e da sedução ao pecado (Pv 7:13). Ele representava também a maior expressão do amor romântico, de acordo com Provérbios 24.26, como também do amor fraterno entre os membros da igreja de Cristo (Rm 16:16). A Bíblia refere-se ao beijo nos lábios (Pv 24:26), nas mãos (Jó 31:27), nos pés (Lc 7:38,45),...
Na literatura poética de Cantares, o beijo romântico é melhor do que o vinho (Ct 1:2) e se faz acompanhar de odores e sabores (Ct 1:2,3; 2:3; 4:3; 5:13; 7:9).
A combinação de mel e leite e o cheiro dos pós aromáticos tornavam o beijo dos amásios mais apreciável (Ct 3:6 ver 4:11). Para eles, o amor é uma combinação de aromas e sabores. É a própria personificação do “amor em delícias” (Ct 7:6).
Junto aos elogios à compleição física dos amásios estava a apreciação da beleza e sedução dos lábios: “Os teus lábios são como um fio de escarlata, e tua boca é formosa”(Ct 4:3;1:2); cantava o amado. Ele não apenas elogia as sábias palavras dos lábios de sua amada, mas inclina-se à tentação carnuda dos lábios da parceira.
Os dentes sempre alvos, perfeitos (Ct 4:2; 6:6), destacavam a pureza e a apreciação pelos lábios dos amásios. É o amor na estação da primavera, com todo frescor e vitalidade da estação (Ct 2:11-13; 7:13). Eis, portanto, o beijo como símbolo da paixão, do amor, do eros. O beijo envolve algumas zonas erógenas do corpo, o que significa que ele é um canal ou fonte de prazer, que estimula a libido dos amásios. Provérbios 6:28 a esse respeito é categórico: "Andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés"?
Todavia, o beijo nos lábios de outrem poderia ter um propósito distinto. O beijo de Jacó ao encontrar-se com Raquel, foi nos lábios (Gn 29:11), assim como o de Judas, o traidor, no Getsêmani (Lc 22:48). Ambos demonstravam afeição, cortesia, no entanto, distinguiam-se quanto ao propósito.
Embora o beijo estivesse presente na cultura do Antigo e Novo Testamentos, parece-me que publicamente a troca de carinho ou carícias entre namorados ou noivos de famílias piedosas não era facilmente tolerado. Digo publicamente, porque o homem sempre foi um transgressor das normas, costumes e tradições humanas.
Durante a ocupação de Canaã, principalmente da Conquista ao final do tempo dos juízes, temos poucas referências ao beijo. Acredito que os hebreus procuravam manter a discrição, para contrastar com a imoralidade e licenciosidade pagãs presente no Antigo Testamento.
Fonte: Teologia e Graça
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