quarta-feira, 3 de setembro de 2014

EUA confirmam execução de 2º jornalista - O que é o Estado Islâmico?


O vídeo divulgado pelo grupo radical Estado Islâmico que mostra a decapitação do jornalista norte-americano Steve Sotloff é autêntico, disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Caitlin Hayden, nesta quarta-feira (3).

"A comunidade de inteligência dos EUA analisou o vídeo recentemente divulgado que mostra o cidadão norte-americano Steve Sotloff e chegou à conclusão de que é autêntico", disse Hayden em um comunicado.

O presidente dos EUA, Barack Obama, está na Estônia, antes de seguir ainda esta semana para uma reunião de cúpula da Otan no País de Gales.

O vídeo, além de mostrar o que seria a decapitação de Sotloff, de 31 anos, alerta governos para que se afastem dessa "malévola aliança com a América contra o estado Islâmico" e ameaça um refém britânico identificado como David Haines. Segundo a agência France Presse, o autor do assassinato afirma: "Estou de volta, Obama, e estou de volta por causa de sua arrogante política externa em relação ao Estado Islâmico".

O Estado Islâmico havia publicado, há duas semanas, um vídeo que mostrava a decapitação do também jornalista americano James Foley. Sotloff, capturado em agosto de 2013, aparecia no final desse vídeo, sob a ameaça de ser o próximo a ser morto. "A vida deste cidadão americano, Obama, depende de sua próxima decisão", dizia um membro do EI ao mostrar o rosto do repórter, que prestava serviços à revista Time, entre outros veículos. (G1)

O que é o Estado Islâmico? 
O grupo nasceu no Iraque, em 2006, por iniciativa da Al-Qaeda. Apresentava-se como o defensor da minoria sunita frente aos xiitas que assumiram o poder com a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003. Tornou-se conhecido pelos massacres de xiitas e ataques suicidas contra as forças americanas.

Sua brutalidade e interpretação intransigente do Islã fizeram com que as tribos sunitas o expulsassem de seu território. Caçados no Iraque, seus membros, a partir de julho de 2011, três meses após o início da revolta contra Bashar al-Assad, são chamados para lutar na Síria contra o regime.

Na Síria, rapidamente transparecem as divergências entre os jihadistas iraquianos e sírios. Os primeiros propõem a criação, em abril de 2013, do Estado Islâmico no Iraque e no Levante, mas o líder sírio rejeita a nova formação e mantém a Frente al-Nosra, que se tornou o braço oficial da Al-Qaeda na Síria.

No início de 2014, uma guerra explode entre a Frente al-Nosra e os rebeldes sírios contra o EI. Este conflito já fez 6.000 mortos. Com suas vitórias no Iraque e na Síria, o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi proclama em junho 2014 um "califado" abrangendo áreas dos dois países

Quem são seus combatentes?
Não há números exatos. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) avalia que há na Síria mais de 50.000 combatentes, incluindo 20.000 não-sírios, vindos do Golfo, Chechênia, Europa e até da China.

No Iraque, segundo Ahmad al-Sharifi, professor de ciências políticas na Universidade de Bagdá, o EI possui entre 8.000 e 10.000 combatentes, incluindo 60% de iraquianos. O EI recruta muitos combatentes por meio das redes sociais, mas vários são os rebeldes que se juntam ao grupo por medo ou atraídos por salários oferecidos.

Qual território controla?
O Estado islâmico controla cerca de 25% da Síria (45.000 km2) e 40% do Iraque (170 mil km2), um total de 215.000 km, o que equivale ao Reino Unido (237.000 km2), de acordo com Fabrice Balanche, geógrafo especialista da Síria.

No entanto, segundo ele, a maioria dos territórios controlados pelo EI, principalmente no Iraque, são desérticos, o que reduz seu efetivo controle sobre o território.

O "califado" se estende de Manbej, no norte da Síria perto da fronteira com a Turquia na província de Aleppo, em direção ao leste com toda a província de Raqa e grande parte de Hasakah e Deir Ezzor, até a localidade fronteiriça de Abu Kamal. 

No Iraque, ele controla as regiões sunitas do oeste e norte, incluindo a cidade de Mossul.

Por que este grupo atrai tantos jihadistas estrangeiros?
Para o escritor e jornalista libanês Hazem al-Amin, os jihadistas ocidentais são fascinados por sua demonstração de força ao "estilo hollywoodiana". As decapitações, execuções sumárias e a conquista de territórios são elementos de uma epopeia. Além disso, de acordo com especialistas, o EI afirma que se reconectou com o Islã da época de Maomé.

Quais suas fontes de financiamento?
Os especialistas consideram que são várias as fontes de financiamento: primeiramente, as contribuições dos países do Golfo, e o ministro alemão da Ajuda ao Desenvolvimento Gerd Müller acusa diretamente o Catar.

Para Romain Caillet, especialista em movimentos islâmicos, o grupo sobrevive essencialmente de autofinanciamento. Segundo ele, o financiamento externo, incluindo de algumas famílias do Golfo, representa apenas 5% de seus recursos.

Há ainda a extorsão, os tributos e as taxas impostas às populações locais. Desta forma, antes da tomada de Mossul, recolhiam cerca de US$ 100 milhões anualmente.

Além disso, há o contrabando de petróleo e de antiguidades, o resgate para a libertação de reféns ocidentais e as reservas de caixa dos bancos de Mossul, cidade tomada pelo EI no início de sua ofensiva no Iraque.

Segundo Bashar Kiki, o chefe do conselho provincial de Nínive, da qual Mossul é a capital, as reservas de caixa dos bancos na cidade antes da ofensiva alcançavam 400 milhões, às quais devem ser adicionados cerca de 250.000 dólares que estavam nos cofres do conselho provincial.

Quais seus métodos?
São uma mistura de terror e prestação de serviços sociais para as populações que estão sob seu controle. Então, para evitar qualquer tentativa de revolta e para aterrorizar o oponente, pratica crucificações, decapitações, flagelações, apedrejamentos de mulheres acusadas de adultério. Para dar ainda mais peso a suas ações, ele posta nas redes sociais imagens cruéis de suas barbáries.

Qual seu futuro?
Para Romain Caillet, o principal objetivo do EI é consolidar o Estado Islâmico, a médio e longo prazo. Mas para Hazem al-Amin, o Ocidente vai atingi-lo com força e enfraquecê-lo, o que irá forçá-lo a se tornar uma organização clandestina.

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