No clássico 1984, de George Orwell (hoje infelizmente mais conhecido por ser a fonte da expressão “big brother”), há uma situação emblemática imediatamente antes de uma reviravolta na trama; o protagonista, que vive numa sociedade distópica em que todos são constantemente vigiados pelo Estado e não podem apresentar nenhum desvio de comportamento ou nenhum pensamento original, começa a experimentar se rebelar contra o sistema. Compra um livro. Faz contato com subversivos. Enceta um caso amoroso. Em suma, parece que só agora, já maduro, começa a viver de verdade. Bem, exatamente aí é que ele chega a esta conclusão estranha. Olhando pela janela e vendo as pessoas lá fora ele fala à sua amante: “nós somos os mortos”.
Comecei a separar um material sobre zumbis para um programa de jovens na igreja e dei com um daqueles quadros “expectativa x realidade” que povoam as redes sociais. Ele apresentava uma cena da série The Walking Dead em que os protagonistas estão sobre um trailer cercado de zumbis. A brincadeira é: sua expectativa é ser o mocinho, que mata zumbis e lidera o grupo, mas a realidade é que você, num apocalipse zumbi, provavelmente seria um dos zumbis. É claro, a chance de você ser infectado pelo vírus que tomou a humanidade quase que inteira é bem maior do que de você, justo você, estar na minoria heroica.
E se o mundo todo for reduzido a uma horda de mortos-vivos comedores de carne humana? E se você for um deles? E se isso já tiver acontecido?
Apocalipse 3:1 traz essa sinistra advertência: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Esta é a mensagem endereçada à igreja de Deus, logo, haveria uma igreja que tem fama de viva, mas quem conhece suas obras sabe que ela está morta. Ela anda como um vivo, se comporta quase que como um vivo, mas está morta.
Quais os sintomas de uma igreja morta? Simples, ela deixou de fazer as coisas que a igreja viva faz. A igreja viva guarda os mandamentos de Deus e tem fé em Jesus (Apocalipse 14:12). A igreja viva ama perdidamente o ser humano (João 13:35). A igreja viva é uma comunidade de conforto, consolo, estímulo, ânimo e paciência (I Tessalonicenses 5:14).
Em Lucas 12:42-46 Jesus nos apresenta a um mau servo, que perde de vista o espírito de vigilância, a noção de que seu senhor voltará de sua viagem ao estrangeiro a qualquer momento. Ele começa a espancar os seus conservos. Ele é um morto se alimentando da carne dos vivos, ferindo os vivos, tornando-os mortos como ele, mortos à sua imagem e semelhança.
Será que justamente quando acreditamos estar vivendo mais é que vamos concluir que nós somos os mortos? Será que a realidade é distante demais da nossa expectativa?
Em Ezequiel 37:5 eu leio estas palavras: Diga que eu, o SENHOR Deus, estou lhes dizendo isto: “Eu porei respiração dentro de vocês e os farei viver de novo”. Quem ouvir viverá. Quem ouvir a palavra do Deus vivo deixará de ser um morto. Guardará os mandamentos, exercitará fé, amará e cuidará dos que estão ao redor. Quem ouvir, viverá.
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