Donald Trump vem perdendo espaço para Ben Carson não apenas nas pesquisas de intenção de voto nas prévias republicanas para a disputa presidencial americana. À medida que ganha mais notoriedade, o neurocirurgião pediátrico aposentado demonstra ter um potencial para declarações polêmicas à altura de seu maior rival.
Concorrendo pela primeira vez a um cargo político, Ben Carson, de 64 anos, se apresenta como uma opção aos políticos tradicionais, e a isso muitos analistas atribuem seu sucesso nas pesquisas. Em um levantamento divulgado na terça (27), ele aparecia com 26% das intenções de voto, contra 22% de Donald Trump.
Criado apenas pela mãe em um bairro pobre de Detroit, Carson diz que foi um jovem agressivo e sem esperanças no futuro até começar a se dedicar à religião. Membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ele constantemente cita Deus em seus discursos e diz ser criacionista, ou seja, considera que o mundo e os seres vivos foram criados por Deus.
Outras características marcantes são a defesa ferrenha do pré-candidato ao porte de armas e sua oposição radical ao casamento gay.
Veja a seguir algumas das declarações de Ben Carson que mais geraram polêmica:
Obamacare e aborto
Em 2013, o sistema de saúde proposto por Obama foi classificado por Carson como “a pior coisa que já aconteceu nesta nação desde a escravidão”. Ele foi além e chegou a comparar as duas coisas: “E ele é, de certa forma, é escravidão, porque é nos tornar todos subservientes ao governo. Isso nunca foi sobre cuidados de saúde, é uma questão de controle”. Sua oposição ao sistema é tão grande que ele também o comparou a outra grande tragédia, dizendo que o Obamacare era pior do que os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, porque “o 11 de Setembro foi um evento isolado”.
Outra coisa comparada por ele à escravidão, em outubro deste ano, foi o aborto. Para Carson, uma mulher que aborta é comparável a um dono de escravos que “acreditava que tinha o direito de fazer o que quisesse com seu escravo”. Ele defende o banimento total do aborto nos EUA, inclusive em casos de estupro ou incesto. “Eu não seria a favor de matar um bebê porque o bebê foi concebido dessa forma”, justifica.
Desarmamento
Logo após o ataque de um atirador na Umpqua Community College, no Oregon, o presidente Obama fez um discurso em que defendeu a necessidade de leis mais rígidas de controle ao acesso de armas. Carson se opôs totalmente, e, embora não citasse diretamente o presidente, causou polêmica ao insinuar uma comparação com Hitler. “Se você olhar para trás e procurar na história mundial, tirania e despotismo e como eles começam, tem muito a ver com o controle de pensamento e de discurso”, disse.
Em entrevista à CNN, ele foi além e disse que se os judeus estivessem armados durante o Terceiro Reich, poderiam ter se defendido e evitado o holocausto. Questionado novamente sobre o assunto, confirmou o raciocínio: “O que eu quis dizer é que, quando se instauram tiranias, a primeira coisa que tentam fazer é desarmar o povo, e foi exatamente o que aconteceu na Alemanha nos anos 1930”. Ainda sobre o holocausto, afirmou que "nunca ocorrerá algo igual nos Estados Unidos porque estamos armados".
Em outras declarações polêmicas sobre armas, o republicano disse que se sentiria “muito mais confortável” se professores de jardim da infância tivessem armas nas salas de aula e sugeriu que as vítimas deveriam confrontar atiradores em casos como o da faculdade em Oregon. Acusado de culpar as próprias vítimas e criticado por rir ao falar do assunto, ele afirmou que, se estivesse no local, teria reunido um grupo e “partido para cima” do atirador. Sua lógica seria de que uma pessoa até poderia morrer, mas não várias, como aconteceu.
No entanto, em uma entrevista posterior, Carson contou que já foi ameaçado com uma arma durante um assalto a uma lanchonete. Em vez de aplicar sua própria sugestão, porém, ele admitiu que se livrou do perigo dizendo ao assaltante, “acho que você está mais interessado no cara atrás do balcão”, desviando a atenção para o funcionário do caixa.
Ainda sobre o assunto, ele disse: “Não há dúvidas de que a violência sem sentido é devastadora... mas nunca vi um corpo com buracos de bala que fosse mais devastador do que tirar nosso direito a nos armarmos”, escreveu em seu perfil no Facebook.
Casamento gay
Em 2013, durante uma entrevista à Fox News, Carson disse acreditar que o casamento só deve existir entre um homem e uma mulher, e disse que ninguém tem o direito de mudar a definição de casamento “sejam os gays, seja a Nambla, sejam as pessoas que acreditam em bestialidade”, citando a North American Man/Boy Love Association, uma instituição que defende a pedofilia. Uma semana depois, ele pediu desculpas pelas comparações e por sua “má escolha de palavras”.
Este ano, porém, ele voltou a criticar o casamento gay, que chama de “uma conspiração marxista” e seus defensores, considerados “inimigos da América”. Na ocasião, ele demonstrou desconhecer os poderes da Suprema Corte, ao afirmar que havia sido “inconstitucional” que os juízes determinassem a legalidade das uniões. Para Carson, o Congresso deveria ultrapassar seus próprios poderes e “ter o direito de reprimir ou afastar esses juízes”.
Ainda sobre os gays, o pré-candidato afirmou que ser homossexual é uma questão de escolha, e para ilustrar sua teoria citou pessoas que “entram na cadeia hétero – e quando saem, são gays”.
Crimes de guerra
Também durante uma entrevista à Fox News, Carson falou sobre a ação dos EUA no combate ao Estado Islâmico e em outros conflitos no exterior. Em vez de apenas liderar uma coalizão de países da região, os Estados Unidos deveriam enviar soldados para combater o EI, acredita. E estes poderiam agir sem se preocupar com convenções internacionais ou possíveis crimes de guerra, já que, para ele, esse tipo de norma sequer deveria existir e tudo seria válido para justificar uma vitória. “Se você vai ter regras para uma guerra, a única regra deveria ser uma que diz que não pode haver guerra. Fora isso, temos que ganhar”, disse, ao expor sua teoria.
Censura
Ben Carson defende uma vigilância e a censura de políticas “com tendências extremistas” nos campi universitários. Segundo ele, o Departamento de Educação deveria “monitorar nossas instituições de educação superior para detectar políticas com tendências extremistas e negar financiamento federal se elas fossem detectadas”. Mas as tendências extremistas, no caso, seriam apenas aquelas com as quais ele não concorda, já que o pré-candidato garantiu à radialista Dana Loesch que a regra não afetaria os conservadores. “Acho que iríamos estabelecer regras muito rígidas sobre como isso seria feito”, explicou.
Com informações de G1
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