sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Dia Nacional de Greve - O cristão deve participar de greves?


Vários sindicatos, movimentos sociais e estudantis promovem nesta sexta-feira (11), uma série de atos e paralisações dentro do Dia Nacional de Greve que as centrais sindicais convocaram em todo o país contra as políticas de retiradas de direitos e de congelamento de investimentos em serviços públicos essenciais, anunciadas pelo governo de Michel Temer. Entre elas, estão a Reforma da Previdência, a precarização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a ampliação total da terceirização, a PEC 55 que congela os investimentos em áreas como saúde e educação por até 20 anos (aprovada como PEC 241 na Câmara dos Deputados), a MP 746, que reforma o ensino médio, o PL 190/15 (“escola com mordaça”) e a mudança do regime de exploração do pré-sal.

A pergunta que fica: um cristão deve participar de movimentos grevistas? O que a Bíblia e Ellen White dizem sobre o assunto? Esse é um assunto complexo, pois envolve pessoas e situações muito diferentes, além de dor, sofrimento e injustiça. Todos têm o direito de envolver-se em movimentos grevistas, especialmente se as condições de trabalho ou de salário forem desfavoráveis, mas esta seria, realmente, a melhor atitude para um cristão?

A Bíblia não fala sobre greves, como as que conhecemos hoje. Ela recomenda o amor como resposta à injustiça e a oração como instrumento de justiça social (Mt 5:44; Lc 6:27). Nosso maior exemplo deve ser Cristo que, numa época de profunda injustiça, não criou nenhum movimento de libertação social, nem uma revolução política, muito menos um grupo de ativistas. Por outro lado, criou um movimento baseado no amor, levando as pessoas a Deus e prometendo, em troca, suprir todas as suas necessidades (Mt 6:25-33). Quando lhe perguntaram: “É lícito pagar tributo a César?”, Ele respondeu: “Dai, pois, a César o que é de César...” (Mt 22:17-21). Ele ensinou que um cristão deve cumprir suas obrigações legais até o ponto em que elas não entrem em choque com os princípios do Céu. Caso contrário, deve deixar a justiça nas mãos de Deus.

No tempo de Ellen White, as questões trabalhistas já eram objeto de movimentos grevistas, e isso passou a gerar implicações de grande alcance. Em face desse problema, ela escreveu:
“Em razão de monopólios, sindicatos e greves, as condições da vida nas cidades estão-se tornando cada vez mais difíceis.” (A Ciência do Bom Viver, p. 364)
“Buscam os homens conseguir que os elementos empenhados em diferentes profissões se filiem a certos sindicatos. Esse não é o plano de Deus, mas de um poder que não devemos jamais reconhecer.” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 115)
“Os sindicatos trabalhistas rapidamente se agitam e apelam à violência se suas reivindicações não são atendidas. Mais e mais claro está se tornando que os habitantes do mundo não estão em harmonia com Deus.” (Eventos Finais, p. 23)
“Os sindicatos serão um dos instrumentos que trarão sobre a Terra um tempo de angústia tal como nunca houve desde o princípio do mundo.” (Vida no Campo, p. 16)
“Não devemos ter nada que ver com essas organizações. Deus é o nosso Soberano, o nosso Governador.” (Eventos Finais, p. 116)
Nossa distância desses movimentos deve ficar clara. Como cristãos, temos outros meios de promover justiça social. A qualidade de nosso trabalho e a confiança na justiça divina são as melhores ferramentas para um cristão. Nós não fazemos justiça com as próprias mãos. Além disso, temos um Líder mais poderoso que os patrões humanos - nosso Deus, e um instrumento de justiça social mais eficiente que greves - a fé e a oração. Não vamos ser injustos, ignorantes ou vítimas se nos mantivermos distantes, mas vamos demonstrar equilíbrio, justiça e fé.

Os cristãos nunca deveriam ser conhecidos pela agitação, pelos atritos, críticas ou espírito negativo que semeiam em seu ambiente de trabalho. Devem ser reconhecidos, sim, pela qualidade de tudo que fazem, pelo amor ao próximo e pela honestidade e fidelidade aos princípios bíblicos. Esses valores mantêm empregos, criam o respeito dos chefes e promoção no ambiente de trabalho, além de salários justos. Precisamos lembrar que o testemunho é mais importante do que a reivindicação.

Nossa luta deve ser, sempre, no sentido de servir às pessoas, pois essa é a razão de nossa existência como cristãos. O próprio Filho de Deus veio para servir e não para ser servido (Mt 20:28). O cristão está sempre mais disposto a servir do que cobrar. Quando alguém é eficiente no que faz e deixa os resultados nas mãos de Deus, faz a melhor escolha.

Se a greve não depender de você, caso seja um movimento regional ou nacionalmente articulado, continue cumprindo suas obrigações. Se for impossível, por causa da violência ou outras ameaças, fique longe da agitação, aguardando apenas o momento de retomar suas atividades.

A Declaração Oficial da Igreja Adventista (Os Adventistas e a Política) diz:
"Outro princípio fundamental é que o nível de justiça social de um país é diretamente proporcional ao nível de justiça individual de cada um dos seus cidadãos, e que esta justiça individual, por sua vez, deriva do interior da própria pessoa. Reconhecendo as dimensões sociais do pecado, a Igreja apoia e mesmo participa de projetos sociais e educacionais que beneficiam a vida comunitária sem conflitarem com os princípios bíblicos. No entanto, a Igreja não participa de quaisquer greves e passeatas de índole política e partidária que acabariam comprometendo sua postura de não defender qualquer partidarismo."

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