segunda-feira, 9 de setembro de 2024

MANIFESTAÇÕES

Manifestações políticas e sociais marcaram o feriado de 7 de setembro. Na Avenida Paulista, em São Paulo, oposicionistas ao governo liderados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia realizaram um protesto com forte tom político. Simultaneamente, o Grito dos Excluídos e Excluídas ecoou em várias cidades do país, com foco na defesa dos direitos dos mais vulneráveis.

Essas manifestações públicas exigem reflexão e respostas sobre as seguintes questões: Os cristãos deveriam participar desses atos públicos? Pastores e servidores da organização adventista deveriam sair às ruas e apoiar protestos populares?

Vale a pena mencionar uma citação inspirada da escritora Ellen White, que esclarece alguns pontos: “O governo sob que Jesus viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos — extorsões, intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente, e regenerar o coração”.1

Como Igreja, respeitamos as reivindicações porque nós temos saído às ruas para defender ideias, como o projeto Quebrando o Silêncio, contra o álcool, o fumo e as drogas e em defesa da liberdade religiosa. Saímos com os jovens no projeto Missão Calebe chamando a atenção da sociedade para o bem, entre outras iniciativas. A Igreja deve assumir seu papel na sociedade como uma organização ativamente envolvida nas questões pertinentes aos interesses e necessidades dos cidadãos. Reconhece também o desafio de ser relevante e fazer a diferença na vida das pessoas e das comunidades onde ela está inserida. 

Quanto às questões que envolvem desigualdade e injustiça social, a igreja desenvolve, apoia e realiza projetos sociais e educacionais que beneficiam a vida comunitária. Suas várias frentes de atuação envolvem a ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), ASA (Ação Solidária Adventista), escolas, colégios e universidades, entre outros programas promovidos pelos vários departamentos e instituições da denominação. No entanto, busca agir na defesa de suas convicções sem conflitar com os princípios bíblicos e sem protestar contra ideologias e autoridades constituídas.

Não é errado defender ideias e ideais, e todos têm o direito de se manifestar livremente, conforme a própria Constituição Brasileira prevê. Como Igreja, contudo, alertamos que nessas manifestações existem pessoas com intenções equivocadas que não combinam com os nossos pensamentos e princípios cristãos. Muito mais do que reivindicar, nossa missão é proclamar. Como cristãos, fomos chamados para influenciar o mundo e devemos continuar fazendo isso através do amor, doando-se e desgastando-se pelo bem da comunidade.

Na continuação, Ellen White diz: “Não pelas decisões dos tribunais e conselhos, nem pelas assembleias legislativas, nem pelo patrocínio dos grandes do mundo, há de estabelecer-se o reino de Cristo, mas pela implantação de Sua natureza na humanidade, mediante o operar do Espírito Santo. 'A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do varão, mas de Deus' (Jo 1:12, 13). Aí está o único poder capaz de erguer a humanidade. E o instrumento humano para a realização dessa obra é o ensino e a observância da Palavra de Deus”.

Agora, no caso dos pastores e dirigentes... se eles acham que prestariam um serviço melhor à humanidade por meio da política, não deveriam ser coerentes e deixarem o ministério pastoral dedicando-se à carreira política integralmente? Ellen White foi muito contundente quanto a esse assunto, ao escrever que “todo mestre, ministro ou dirigente em nossas fileiras que é agitado pelo desejo de ventilar suas opiniões sobre questões políticas, deve converter-se pela crença na verdade ou renunciar à sua obra”, afinal, “o dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas”.2 Em vez disso, cada ministro deve se lembrar de que a “cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia. E onde estão as vozes de aviso e rogo, mandando o pecador fugir desta condenação terrível? Onde estão as mãos estendidas para o fazer retroceder do caminho da morte? Onde estão os que com humildade e fé perseverante intercedem junto a Deus por ele?”3 Como disse o apóstolo Paulo, “importa que os homens nos considerem como ministros de Deus” (1Co 4:1).

Ellen White continua nos advertindo: "Não devemos, como um povo, envolver-nos em questões políticas. Todos fariam bem em dar ouvidos à Palavra de Deus: Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos em luta política, nem vos vinculeis a eles em suas ligações. Não há terreno seguro em que possam estar e trabalhar juntos. O fiel e o infiel não têm terreno neutro em que possam encontrar-se."4

Estamos, como adventistas, neste mundo com uma mensagem especial que é preparar um povo para o encontro com o Senhor! Cremos que a nossa força não deve estar nas manifestações por justiça, mas em anunciar a volta do Senhor Jesus, a verdadeira causa!

Finalizo com este pensamento de Ellen White: "Os que são genuinamente cristãos são ramos da Videira verdadeira, e darão o mesmo fruto que ela. Agirão em harmonia, em comunhão cristã. Não usarão distintivos políticos, mas os de Cristo. Que devemos então fazer? - Deixai os assuntos políticos em paz."5

Não desmerecendo as questões políticas e sua importância, entendemos ser um dever dar o devido destaque ao nosso verdadeiro papel, que é desenvolver práticas que resultem no fortalecimento da fé e promovam a esperança na iminente volta do Senhor Jesus Cristo. Reconhecemos que a vocação de pregar o evangelho envolve executar ações de solidariedade que expressem amor ao próximo e produzam alívio ao sofrimento humano. Por isso, todo esforço e toda energia devem ser canalizados para o serviço desinteressado em favor das pessoas, revelando profundo interesse na sua salvação. Seja nossa oração: “Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22:20).

Referências
1. O Desejado de Todas as Nações, p. 358.
2. Fundamentos da Educação Cristã, p. 477.
3. Patriarcas e Profetas, p. 92.
4. Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 337.
5. Obreiros Evangélicos, p. 392.

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