domingo, 12 de março de 2017

Há muitos solitários em nossas igrejas...


O rosto é sorridente. O aperto de mão, amigável. Quando lhe perguntam como está, a resposta é sempre “tudo bem”. Da hora em que chega à igreja até o momento em que se despede, todos acreditam que sua vida é repleta de felicidade. Mas, por trás de toda essa aparência, esconde-se uma pessoa extremamente solitária. Não deveria ser assim, mas a dura realidade é que nossas igrejas estão cheias de irmãos e irmãs que se encaixam nessa descrição, e que, embora escondam e não demonstrem, são muitos solitários. São cristãos, vivem em comunidade, vão aos cultos e cantam louvores, mas, na verdade, sentem-se sozinhos. Os laços com os demais são superficiais e frágeis e eles percebem que, na hora em que precisam de um ombro sincero, não o encontram. 

Por vezes, chegam a derramar lágrimas escondido. Poucas pessoas lhes telefonam, por isso se sentem como se ninguém estivesse nem aí para si. Olham a vida dos demais e acabam com a sensação de que todos são felizes e têm muitos amigos, menos eles próprios – o que os deprime. Apesar disso, por mais que se esforcem por ser amáveis e gentis na igreja, poucos demonstram interesse real por sua vida. Qual deve ser nosso papel junto a quem se vê nessa situação? Será que há algo que você possa fazer pelos milhares de solitários que transitam entre nós mas não demonstram, tocando a vida em meio à multidão mas tendo a solidão como companheira mais fiel? 

Qual é o remédio para a solidão?

Como cristãos, é importante prestarmos atenção a quem sofre, pois, sendo nós membros do Corpo de Cristo, temos o dever fraterno de zelar uns pelos outros, de acolher, amar, cuidar. Quando o pé sofre um corte, não é ele próprio que se aplica remédios, é a mão. Quando a panturrilha sente cãibras, é o pé que se alonga para aliviá-la, com a ajuda da mão, sendo que as costas se vergam para que a mão alcance o pé. O corte no dedo é levado à boca. E quando os músculos e tendões doem é dos olhos que descem as lágrimas. Como integrantes de um todo, devemos cuidar dos irmãos. Mas que remédio podemos dar a eles?

Para conseguir auxiliar pessoas adoentadas pela solidão, quem não sofre desse mal precisa, antes de tudo, compreender que solidão não tem a ver com a quantidade de pessoas que te cercam, mas, sim, com a quantidade de pessoas que se preocupam com você. Muitas vezes descobrimos que alguém se sente solitário e nos perguntamos como pode, afinal, ele se relaciona com tanta gente! Chegamos a pensar que é frescura ou necessidade de atenção, pois não compreendemos que não basta ter pessoas em volta. O solitário não é um ermitão, é alguém que, embora viva em comunidade, não tem laços fortes de ligação com ninguém. Ele não sente falta de mais eventos na igreja, mas de alguém lhe diga: “Que saudade, liguei só para saber como você está”.

O solitário geralmente tem a percepção de que, se partisse desta vida, não faria muita falta. Pode até ser uma percepção equivocada, mas não é por ser uma visão distorcida que deixa de ser algo que o machuque. Muitos que olham de fora acham que o problema é culpa do próprio solitário, afinal, por que ele não se enturma? Por que ele não corre atrás? Basta se aproximar das pessoas! Bem, na verdade, correr atrás dos outros não satisfaz a solidão, pois não demonstra um real interesse do próximo. O solitário se sente desimportante na vida dos irmãos e vive uma real necessidade de ser amado e querido. Algo que ele não quer impor, pois precisa que ocorra espontaneamente. Correr atrás das pessoas não é o remédio para a solidão.

Como Igreja, precisamos estar constantemente atentos para os solitários que nos cercam. Devemos identificá-los e amá-los sem hipocrisia. A única forma de fazermos isso é saindo de nossa zona de conforto e indo até eles para buscar conhecê-los em profundidade, descobrir quem eles são e, a partir daí, criar vínculos verdadeiros. Não devemos amar os solitários como um gesto de caridade, “com pena” ou por “obrigação cristã”: precisamos buscar conhecê-los para criar laços verdadeiros de afeto mútuo e passar a amá-los de verdade. Temos de criar as circunstâncias para que eles de fato nos façam falta. Amizades não são apenas aquelas que a vida nos joga no colo, são também as que nos mexemos para construir. Mas, para o solitário, esse movimento partir dele não é um remédio muito eficaz, ele deseja ver interesse que parta das outras pessoas.

É bastante difícil para alguém que tem muitos amigos sinceros e vive numa atmosfera de amizade perene compreender a solidão. Quem vive imerso em amor não capta com facilidade a intensidade da dor que o solitário sente. O que fazer? Buscar em Deus a resposta. Em sua glória celestial, o Deus que é amor jamais sentiu solidão. Acompanhado, de eternidade a eternidade, pela Trindade santa, o Criador se basta a si mesmo e se complementa, vivendo numa unidade plural e singular que faz de si um ser pleno e absolutamente destituído de carência. No entanto, dos altos céus Ele olhou para a humanidade solitária, despida da plenitude de Deus, e desceu à terra, fazendo-se solitário como os solitários, para nos devolver a capacidade de comungar para sempre com Aquele que nunca nos deixará sós. E, ao fazer-se como um se nós, o Filho experimentou o gosto da solidão: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46), gemeu o Senhor agonizante. Por que Jesus decidiu vivenciar a dor dos solitários? Amor. Puro amor.

Meu irmão, minha irmã, qual é o remédio para a solidão do seu irmão. Peço a Deus que encha o seu coração do amor que é fruto do Espírito, para que você sinta em si a dor dos solitários e faça algo para cuidar de quem precisa urgentemente de calor humano. É aproximando-se de Deus que você terá discernimento para identificar as vítimas da solidão, frutificará em amor pelos tais e partirá em seu socorro com interesse genuíno. Ao fazê-lo, você estará permitindo que Deus o use para transformar a vida de tantos que precisam desse amor.

Afinal, já entendeu qual é o remédio para a solidão do seu irmão? Se você disse “Deus”… lamento, errou. Deus é o médico que aplica o remédio. O remédio… é você.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas) (Título original: O remédio para a solidão)

6 comentários:

  1. Infelizmente muitos não conseguem ampliar a compreensão e acabam criticando sem conhecer a fundo esses irmãos, e com isso piorando ainda mais a situação de quem sofre dessa maneira. Bom, aprender a lidar com as diferenças já é um bom começo, pedindo e permitindo que Deus desenvolva em nós o fruto do Espírito

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  2. Nunca encontrei apoio entre os irmãos, afinal depressão é falta de Deus, falta de orar mais, de se envolver mais com os trabalhos dá igreja.Frase que hoje me entristece muito: A igreja é um hospital.. Onde???

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  3. Obrigado por fazer essa "megafonada" faço dela a minha também.

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  4. Muito interessante saber que existe pessoas a precisarem de mim... Eu sempre mim sente excluído aos grupos e programas da igreja. Mas agora entendo que tem pessoas solitárias que precisam de minha atenção. Obrigado Deus.

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  5. Tudo lindo na teoria, mas na prática... só quem tem família tem prioridade,
    primeiro que os solitários são tratados de forma superficial, são bons com estes
    na frente dos outros, puro palco, são feitos de bobos da corte, subproduto de descarte,
    como se fossem leprosos, porque têm mesmo é medo de se contagiarem com a solidão
    ou tratam com certa distância, por outro tipo de medo, a de ataque sedutor aos cônjugues e parentes,
    são tratados como seres perigosos, se está só não presta, bem reducionistas, fora os solitários dentro de família,
    desprezados pelos de dentro e pelos de fora também. Geralmente ajudam quem não precisa
    ou se é homem pra crescer/ virar pastor na igreja, as mulheres solitárias continuam desprezadas,
    renegadas aos últimos lugares e oportunidades de forma maquiada, feitas como bobas da corte,
    por mais que se faça de bom nunca tá bom, ou tem valor depreciativo, isso sim.
    Não lutam com quem devem e sim com os fracos, negligência, covardia e vaidade...
    Cadê a palavra aplicada de Deus aos órfãos, viúvas e necessitados??? hoje há muitos órfãos de pais e mães vivos,
    que desprezaram e desistiram de seus filhos ou que fizeram coisas piores ou nunca os reconheceram ou de tudo um pouco.
    Como exigir honrar pai e mãe em situações assim? A culpa aumenta ainda mais,
    porque acusam e cobram mais até o que não se pode mais fazer,
    maquiam com falsas esperanças e promessas vãs de ajuda, quando nada fazem,
    só criticam, ferem, pisam e despejam mais culpa e solidão em quem precisa realmente de ajuda,
    assim é fácil, como Pôncio Pilatos fez lavou as mãos...tantas profetadas e retetes inúteis
    e nenhuma visão espiritual verdadeira...Há pessoas no evangelho encenando felicidade obrigatória,
    de que com crente tudo sempre vai bem, falar de sofrimento, só o dos santos da Bíblia,
    como se os humanos não sofressem mais. Muito palco, pouca ou nemhuma ação...
    Mulheres precisam sofrer mais e mais e perdoar e aos homens e demais lideranças é consentido todo tipo de erro, vingança
    e covardes loucuras... Só a misericórdia, sei que haverá alguém que se incomodará e vai distorcer tudo
    e ainda falar que eu é que sou louca, novidade nenhuma. Fácil é criticar quem revela a verdade, esta
    que de tudo fazem pra esconder debaixo do tapete, então reação animalesca
    ou de falsa bondade ao vento não me surpreenderão...No final negociam a palavra como joguete
    e lançam mais culpa ainda sobre os que mais sofrem mesmo, afinal de contas,
    mais sofrimento pros outros tanto faz, mas para si mesmo ou para os seus querem misericórdiia...

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    1. Concordo plenamente. Só ver como são tratadas mulheres divorciadas ou mulheres com mais de trinta na igreja que não casaram.

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