Desde sempre o ser humano busca saber onde encontrar Deus. Antes de Cristo nascer, por exemplo, a nação de Israel possuía um lugar definido para a manifestação do Todo-poderoso. Por isso, certa vez uma mulher perguntou para Jesus qual era o lugar certo para encontrar Deus (Jo 4:20). Logo após o período de formação do cristianismo, mais e mais a resposta a essa pergunta passou a limitar o contato do homem com Deus a um prédio.
Resultado: nos últimos séculos, aprisionamos Deus em um local. Limitamos a experiência religiosa ao horário do culto em uma igreja-prédio. Sendo assim, visitamos o Eterno de vez em quando e, depois, voltamos para o nosso dia a dia no qual Deus, aparentemente, não está.
Nas últimas décadas, principalmente no lado ocidental do planeta, uma mudança de postura filosófica liderou a descrença em instituições, inclusive nas religiosas. O que chamamos de igreja tem ficado sob suspeita para muitos. Um efeito positivo de tudo isso é que começamos a rever a pergunta: onde encontramos Deus?
De repente, notamos que por toda a narrativa bíblica Deus também aparece em lugares comuns, pitorescos e até estranhos. Lugares que não são vistos como sagrados. Na Bíblia, Deus Se comunicou com a humanidade num jardim, no topo de uma montanha, na barriga de um peixe, numa caverna, num arbusto velho e seco, e até numa balada tipo rave (é verdade que Ele não apareceu lá para dançar, e sim comunicar Sua desaprovação – veja Daniel 5).
O que começamos a perceber é que o que chamamos de espiritualidade cristã é o encontro entre eu e Deus. Muitos parecem imaginar e até ensinar a outros que esse encontro pode apenas acontecer em certos lugares sagrados. Mas o que torna um lugar sagrado? Apenas dizermos que é sagrado ou a presença dAquele que é santo?
A Bíblia diz que quando Deus apareceu em um arbusto meio abandonado e seco mandou Moisés tirar as sandálias porque aquele lugar tinha se tornado santo. O princípio da espiritualidade que funciona no século 21 e urbano é o de redescobrir que onde Deus Se encontra com as pessoas se torna um lugar santo. Redescobrir essa presença de Deus que pode ser percebida em qualquer lugar e hora.
Por isso, de súbito, lugares “comuns” podem se tornar lugares de encontro com Deus e de transformação significativa para o homem. O Deus no meio da rua pode ser encontrado na praça, no metrô, no ponto de ônibus, no engarrafamento, no pátio da escola ou no banheiro do escritório.
Ele está acessível em qualquer lugar e horário em que a saudade apertar, a insegurança aparecer, a alegria brotar, o medo se revelar e a verdadeira fragilidade humana se mostrar em sua feição mais nua. Essa é a hora de você se refugiar em alegria ou em busca de proteção no lugar sagrado: Deus.
E esse exercício espiritual depende tanto de fé quanto da imaginação. Isso mesmo! Imaginação nos foi dada por Deus para construirmos nossos templos móveis onde podemos nos encontrar com Ele e ficar em paz, a qualquer hora, em qualquer lugar. Experimente!
Paulo Cândido (via Conexão 2.0) (Título original: Deus no meio da rua)
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