Nasci e cresci em São Paulo. Sempre estive acostumado com veículos em grande fluxo se movimentando freneticamente pelas ruas e avenidas da cidade. Aprendi desde cedo a identificar as placas de trânsito. Apesar disso, certa vez, dirigindo pelo centro de Curitiba acabei entrando na contramão de uma avenida. Tinha acabado de tirar a minha permissão para dirigir. Imagine o meu desespero quando percebi que todo mundo estava vindo na direção contrária.
Hoje, lembro desta história com certo carinho, e até consigo rir da situação inusitada, mas recentemente me peguei pensando novamente nela, pois fez parte do meu aprendizado e me trouxe a memória que Jesus também tinha o habito de entrar pela contramão. Bem, mas ao contrario do que fiz, Ele não estava perdido e sabia exatamente que estava andando pelo caminho que viera de fato trilhar. Na verdade, quem estava na contramão era todo o restante. Por isso, muitos levantavam a voz contra Ele e questionavam suas atitudes, falas e práticas.
Não só naquela época, mas ainda hoje, esta é uma constatação dura para os religiosos, afinal de contas, ter que engolir o Messias indo contra o que acreditavam causou um grande ódio.
Jesus tinha uma maneira peculiar de lidar com as questões de seu tempo. Enfrentava com firmeza os endurecidos preceitos engessados da religiosidade e se preocupava mais em preservar a vida. Contudo, Jesus parecia não se importar com os “corneteiros de plantão” como diz o pessoal do futebol, continuava indo a fundo na via contrária.
Jesus se opôs a tudo que era óbvio demais, não tentou estabelecer o “politicamente correto” aos olhos da religião daquele tempo, mas propôs então uma nova forma de enxergar a esta vida.
Ele mesmo disse:
“Este é outro ditado antigo que merece nossa atenção: ‘Olho por olho, dente por dente’. Pergunto se isso nos leva a algum lugar. Aqui está o que proponho: não revide, de jeito nenhum. Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado. Se alguém o levar ao tribunal e exigir sua camisa, embrulhe para presente seu melhor casaco e entregue-o a ele." (Mateus 5:39,40 – versão A mensagem).
Jesus superou a noção de justiça que aqueles homens tinham herdado dos seus antepassados e continuou ensinando:
“Vocês conhecem a antiga lei: ‘Amem seus amigos’, e seu complemento não escrito: ‘Odeiem seus inimigos’. Quero redefinir isso. Digo que vocês devem amar os inimigos. Deixem que tirem o melhor de vocês, não o pior." (Mateus 5:43,44 – versão A mensagem)
E terminou afirmando que quem anda desta maneira é perfeito, como o Pai é perfeito.
Bem, neste cenário parece que Jesus estava falando apenas para aquelas pessoas, mas também podemos aplicar isso nos dias de hoje. Por exemplo, como fica aquele homem que foi levado a juízo e que na hora do julgamento se depara com um “amigo” de muitos anos que para não perder o emprego aceita ser testemunha de acusação em um caso onde o indivíduo tem plena convicção de sua inocência? O que fazer diante de alguém que foi abandonado por um pai alcoólatra que largou a mãe com todos os filhos pra criar e encontra anos depois com este pai doente? E aqueles abusados sexuais durante a infância e adolescência? Como ficam os desempregados que sempre foram dizimistas fiéis?
É deste péssimo hábito de Jesus a que me refiro. Digo “péssimo” porque não faz o menor sentido para a gente hoje andar na contramão. Queremos mesmo é continuar trilhando vidas paralelas na direção do mundo. Devolver a injustiça com a medida do amor, é, para nós, desafio considerado praticamente impossível. Sim, se não for com a ajuda dele, nenhuma destas palavras terá efeito em nós.
A respeito de como vivia o Cordeiro, concordo com Ed René Kivitz:
“Ele sempre andou com gente 'errada', comia nos lugares 'errados', fazia coisas no dia 'errado', perdoava o filho 'errado', escolheu 'errado' aqueles com quem andaria, enfim, à nossa visão, era todo errado.”
Todo o movimento de Jesus era de contracultura. Ele veio para desmontar nossa lógica a respeito do que é e do que não é. Foi por isso que Ele propôs não apenas mais uma maneira alternativa de viver a vida, mas um inédito e novo jeito de enxergar e perceber o mundo, tendo como ponto central de partida o perdão e o amor. Foi Ele quem resolveu assumir toda dívida de pecado que devíamos. Ele decidiu, voluntariamente, pagar esta conta em nosso nome. Entre matar e morrer, ele preferiu morrer. E porque fez isso? Para dar fim no que era óbvio e “justo”. Porque conhecia o caráter do seu Pai, Ele se deu apagando todo escrito de dívida que nos era contrário a nós e na Cruz do calvário removeu totalmente o débito. O que mais nos impede de segui-Lo?
Por isso, agora, Ele propõe, um novo Reino por meio do arrependimento, ou seja, a expansão da nossa consciência para desfrutarmos, ainda hoje, da vida em comunhão com Ele.
Que tal, então, fazer uma ligação para aquela pessoa que magoamos ou que estamos magoados? Que tal dizer ao seu pai ou sua mãe do amor que você tem por eles independente de quem eles são ou fizeram? Sei que muito além destes restritos exemplos outras inúmeras rodas de injustiça precisam ser paradas pela viga do amor.
Contudo, não faça nada porque tem de fazer, mas faça, apenas, pelo constrangimento do amor de Deus já que, agora, pertencemos a outro Reino. E que em nome de Jesus, tenhamos nós o mesmo “péssimo” hábito, o de fazer cessar a injustiça através da decisão do amor. Que nosso Deus nos pegue no caminho e nos faça andar como Ele andou.
Rodrigo Baia (via Minha Vida Cristã)
“O amor era o elemento em que Cristo Se movia, andava e trabalhava. Ele veio enlaçar o mundo com os braços de Seu amor. […] Devemos seguir o exemplo dado por Cristo, e torná-Lo nosso modelo, até que tenhamos para com os outros o mesmo amor que Ele manifestou para conosco.” (Ellen G. White, O Cuidado de Deus [MM 1995], p. 26)
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