O cartunista argentino Joaquín Tejón, mais conhecido como Quino, criador da famosa personagem de tirinhas Mafalda, produziu uma sequência de cartuns que define muito bem os valores de nossa época (veja abaixo). Preocupado em ensinar ao filho, ainda de chupeta, como a vida é, o pai aponta para o carro e diz: “Isso se chama pernas”. Mostra o computador e afirma: “Isso se chama cérebro”. O celular é chamado de “contato humano”. Um programa de televisão imoral recebe o nome de “cultura”. No espelho, a criança vê o “próximo” a quem deve amar. Na lata do lixo estão os ideais, a moral e a honestidade. Por fim, uma nota de dinheiro é apresentada como “Deus”!
Em sentido filosófico, valor tem que ver com a importância que atribuímos às coisas. E os valores que adotamos motivam nossas escolhas e ações. A sociedade vive uma crise moral. Valores como solidariedade, bondade, verdade e lealdade têm perdido lugar para seus opostos. A justiça, imparcialidade e integridade têm sido dribladas pelo “jeitinho brasileiro”. E a santidade, pureza e reverência têm sido suplantadas por desregramento e profanidade. Somem-se a isso a desconstrução e a perda da noção de pecado. O resultado? Pessoas insensíveis ao sofrimento alheio, aumento galopante da criminalidade, corrupção generalizada, famílias disfuncionais, uma geração sem limites e uma filosofia de vida “vale tudo”.
Onde vamos parar? Talvez seja mais importante perguntar onde já chegamos. Há quase vinte séculos, o apóstolo Paulo previu com precisão cirúrgica o tempo difícil em que vivemos. Os seres humanos seriam “egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder” (2Tm 3:2-5, NVI).
E qual é a raiz do problema? Os princípios; ou melhor, a falta deles! Apesar de haver várias definições que diferenciam valor de princípio, gosto de pensar nos princípios como sendo leis de caráter universal e atemporal, que não dependem de tempo nem de lugar. Além disso, os princípios são objetivos, existem independentemente da minha vontade ou opinião. As leis de Deus e da Física (que também são de origem divina) são bons exemplos de princípios.
Por outro lado, os valores têm um caráter mais subjetivo, interior. Embora geralmente haja uma opinião comum sobre eles, cada pessoa determina o que tem ou não tem importância para si. Por esse motivo, os mesmos valores podem ser interpretados de maneiras diversas por diferentes indivíduos. Há pessoas, por exemplo, que não se consideram menos honestas por sonegar impostos ou deixar de restituir o troco devolvido a mais pelo caixa do supermercado.
É aqui que entra a importância dos princípios bíblicos. Enquanto a ética situacional e relativista, típica do nosso tempo, deixa as pessoas livres para fabricar seu próprio repertório de valores, a ética da Bíblia, com base nos mandamentos imutáveis de Deus, fornece um conjunto de princípios e valores invariáveis que refletem a natureza daquele que é eterno e onipresente – sem limites de tempo e geografia.
No entanto, a motivação mais importante para o cultivo de bons valores é o caráter de Deus. A consciência de um Ser supremo que personifica, ao mesmo tempo, o amor e a justiça serve como constante lembrete de nossa obrigação moral. Ellen White escreveu:
“Aqueles que têm fé genuína em Cristo serão sóbrios, lembrando-se de que os olhos de Deus estão sobre eles, que o Juiz de todos os homens está pesando os valores morais e que os seres celestiais estão esperando para ver que tipo de caráter está sendo desenvolvido.” (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 223)
Eduardo Rueda (via Revista Adventista)
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