quarta-feira, 23 de maio de 2018

Quais são as suas válvulas de escape?

Durante algum tempo frequentei umas inspiradas reuniões de estudo da Bíblia e de oração que aconteciam na casa de um jovem casal de amigos aos sábados à tarde. Acabada a reunião, feita a oração final, todo mundo ficava por ali, a gente chamava umas pizzas, organizava uns jogos, assistia a filmes ou simplesmente ficava conversando. Era muito bom, mas uma coisa me incomodava: o que mais parecia divertir alguns dos participantes dessas reuniões quando caía a noite era trocar insultos e desfilar uma enxurrada de palavrões que fariam Dercy Gonçalves corar de vergonha.

Como aquele linguajar era um corpo estranho no lugar e fazia um destacado contraste com a reunião que havia acabado de acontecer, a coisa realmente parecia muito engraçada. Eles afetavam seriedade, falando com a compostura que um ancião de igreja falaria, mas no lugar de comedidas palavras, uma porção de impropérios. Nós, da ala dos incomodados, a princípio ríamos, depois paramos de rir e afinal questionamos a conduta. A justificativa de um desses amigos foi que a semana era tão opressiva, tão cheia de problemas e eles tinham que ser tão sérios e controlados que precisavam daqueles momentos de extravasamento no final de semana. O grupo dissolveu-se em seguida.

A rotina dessa vida pós-moderna é mesmo cheia de pressões. Nos sentimos oprimidos pela sobrecarga de trabalho, de informação, de problemas, de pontos de nossas vidas que poderíamos melhorar e por isso condescendemos com a idéia da necessidade de uma válvula de escape. Isso poderia ajudar a explicar a razão pela qual a obesidade já está se tornando um problema mais sério que a desnutrição no Brasil, por exemplo. Muita gente não apenas come mal, mas se sente liberado para comer descontroladamente, se não sempre, ao menos em algumas ocasiões – o final de semana ou em festas, por exemplo. Por todo lado se vê também a condescendência com o excesso de álcool. Beber até cair em algumas ocasiões parece ser uma necessidade imposta pela vida pós-moderna e portanto é enaltecido como muitos outros tipos de excesso. Conheci um pastor que tinha grande popularidade justamente entre os jovens, porque era engraçado e um ótimo orador, mas ele gostava de dizer lá do púlpito que tinha duas intemperanças: comer demais e dirigir muito rápido. Falava com um certo orgulho e todos riam.

Fico pensando no tipo de evangelho que ele transmite falando assim. Em Atos 24:25 há um texto muito interessante. Paulo está pregando o evangelho para Felix e a pregação é resumida assim: “e discorrendo sobre a justiça, o domínio próprio e o juízo vindouro…” O domínio próprio, portanto, está no centro da pregação do evangelho, junto com a justiça e o juízo vindouro, e algumas pessoas podem pensar que foi assim nesse caso porque o interlocutor de Paulo fosse especialmente intemperante, mas o texto não dá margem para esse tipo de ilação. Melhor conclusão é a de que a pregação cristã é uma mensagem de equilíbrio. Pessoas salvas por Cristo e ligadas ao poder que Ele comunica para viverem nova vida não precisam de outra válvula de escape das pressões dessa vida senão Ele mesmo. Não é uma questão de tolher nossa liberdade, podar-nos ou reprimir-nos, mas de trocar esses prazeres fugazes pela vida em abundância, genuína e duradoura, que há em Jesus.

Marco Aurélio Brasil (via Nova Semente)

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