Logo de início, devemos entender que machismo é a situação pela qual se privilegia o homem nas circunstâncias em que homens e mulheres têm direitos iguais. E isso não acontecia nos tempos em que a Bíblia foi redigida. Como sabemos, os livros da Bíblia foram escritos no contexto em que a mulher não tinha todos os direitos do homem.
As passagens bíblicas que parecem diminuir a figura feminina devem ser entendidas à luz desse contexto. Analisemos alguns textos que parecem diminuir a mulher ou mostrá-la de maneira desfavorável:
1. “O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3:16). Essas palavras divinas foram proferidas após Adão e Eva haverem comido do fruto proibido. A mulher, em vez de ser uma “auxiliadora” para o marido (Gn 2:18), tornou-se sua tentadora (3:6) e, assim, foi posta sob seu domínio. Essa seria a única maneira de se ter relativa paz entre o casal, visto que, com a natureza pecaminosa e egoísta, o homem e a mulher poderiam se envolver em eterna luta por supremacia. A submissão da mulher ao marido poderia atenuar um pouco as situações de estresse que surgissem entre ambos. É de lamentar que os homens extrapolaram a sentença divina e, em muitas culturas, trataram a mulher como verdadeira escrava – algo totalmente contrário à vontade de Deus para a mulher.
2. A purificação da mulher durante 40 dias pelo nascimento de um menino e 80 dias pelo nascimento de uma menina (Lv 12). Essa instrução divina parece incompreensível a nós hoje. Por qual razão os dias de purificação da mulher, após ter dado à luz uma menina, era o dobro do tempo de quando tinha um menino? Uma possível explicação poderia ser o entendimento de que a menina era uma mulher em potencial e haveria de menstruar. A perda de sangue era símbolo da perda de vida (Gn 9:5). Assim, a parturiente ficava 80 dias em situação de purificação por si e pela filha recém-nascida.
3. O voto da mulher poderia ser desaprovado pelo pai ou marido (Nm 30). Esse capítulo mostra que, se o pai (no caso de filha solteira) ou o marido (no caso de mulher casada) se calava ao ouvir um voto feminino, este era válido. Se o desaprovava, então o voto se tornava inválido. Essa normatização pode ser entendida tendo-se em conta que, nos tempos bíblicos, a mulher estava sob o domínio de algum homem: do pai, enquanto solteira, ou do marido, quando se casava. Isso não é preconceito contra a mulher, mas apenas reflete o ambiente cultural no qual os livros da Bíblia foram escritos.
4. As constantes advertências contra a “mulher adúltera” no livro de Provérbios (por exemplo, 6:20-35). Deve-se entender que as advertências contidas em Provérbios estão direcionadas a homens jovens (capítulos 1-10), homens adultos (capítulos 11-20) e a homens em posição de autoridade, como reis, príncipes, governadores e juízes (capítulos 21-31). Portanto, é compreensível que haja advertências a esses homens contra o mau uso do sexo, que deve ser praticado com responsabilidade e dentro do casamento. Se Salomão escrevesse hoje, certamente falaria às mulheres e as advertiria contra o “homem adúltero”.
5. Entre mil homens encontrou-se alguém reto, mas não entre mil mulheres (Ec 7:27, 28). Talvez Salomão tivesse procurado encontrar mulheres retas entre as mil com as quais se casou – na maioria das vezes, devido a tratados políticos. Muitas dessas mulheres eram pagãs, ciumentas e briguentas. Assim, não é de admirar a avaliação negativa dele para com as mulheres. Com certeza, se tivesse buscado no lugar certo (em Israel e em famílias piedosas), teria encontrado mulheres retas e piedosas, como no caso da Sulamita, com a qual parece ter se casado por amor (Ct 6:8, 9).
Se, devido ao pecado, a situação da mulher geralmente tem sido de desprezo, discriminação e agruras, em Cristo sua situação deve ir se assemelhando ao que era no Éden: a de uma companheira igual em valor pessoal ao marido (e as solteiras em relação aos pais, irmãos e outros parentes do sexo masculino), pois em Cristo todos somos um (Gl 3:28). O que parece ser machismo na Bíblia é perfeitamente explicado tendo-se em conta os costumes sociais da época em que os livros que a compõem foram escritos. Em resumo, pode-se dizer que Deus não é machista. Ele apenas adaptou Suas instruções à cultura dos tempos bíblicos. Se fizesse o contrário, não teria sido compreendido pelos leitores originais da Bíblia.
A jornalista, escritora, palestrante e youtuber Fabiana Bertotti também comenta sobre esse assunto no vídeo abaixo:
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