quarta-feira, 27 de junho de 2018

Aos filhos da pátria

Toda Copa do Mundo acontece esse fenômeno engraçado: nos tornamos patriotas. As ruas, as vitrines das lojas, os espaços públicos, tudo se enche de verde e amarelo. O fenômeno é curioso porque isolado nesse mês e meio a cada 4 anos. No geral, a autoimagem do brasileiro é dúbia: sente orgulho e vergonha ao mesmo tempo; autoelogia sua criatividade, sua simpatia, suas belezas naturais e sua capacidade de trabalho, mas deplora sua malemolência, sua falta de seriedade, suas instituições que não funcionam, sua corrupção e sua leniência.

Antes de mais nada, importante salientar que não vejo problema algum em engrossar as fileiras da “corrente pra frente” e torcer para que esse nosso time traga o caneco pela sexta vez. Diferentemente do que pensam alguns líderes religiosos, não vejo nessa catarse coletiva em torno de um torneio esportivo nada que seja incompatível com a boa fé cristã. Ao contrário, aliás: é saudável tomar parte em fenômenos festivos culturais como este. Nossa religião é muito mais uma festa constante do que um grande funeral, afinal de contas, nosso Salvador está vivo e a ponto de voltar para nos buscar. A questão aqui não é, portanto, torcer ou não torcer, mas refletir se nosso patriotismo sazonal é algo a ser deplorado ou não.

Eu admito que não saberia dizer se nossa falta de patriotismo fora da época de Copa do Mundo é positiva ou negativa. O patriotismo, a rigor um sentimento nobre e positivo, se analisado friamente é algo excludente. Amamos nossa pátria contra todas as outras. A defendemos em confronto com as demais todas. Nós a queremos no ápice, claro, mas isso implica em que as outras nações estejam em posição de inferioridade em relação a ela. Enfim, o patriotismo tem tudo a ver com a natureza humana, mas é avesso ao sentimento de Jesus Cristo, que nos ensinou humildade e a querer o sucesso do outro. Ou, como preconiza Paulo, “amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Romanos 12:10).

Existe um único patriotismo que estaria completamente coadunado com o sentimento que Jesus Cristo nos recomenda: o patriotismo dos pertencentes à pátria dEle. Essa não é excludente, porque nela há espaço para todos e estão todos convidados a respirarem sua atmosfera já agora, a se deixar pautar por seus valores e pela sua ética. 
“Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)
Até que ela chegue, um bom jogo para todos nós! 

Marco Aurélio Brasil (via Nova Semente)

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