sexta-feira, 1 de junho de 2018

Como enfrentar o silêncio ensurdecedor de Deus?

Temos dificuldades em lidar com derrotas, ou palavras que soem como derrotas. Fracasso, solidão, abandono, tristeza… Parece que somos obrigados, em uma era de coaching, a alcançarmos e sempre vivermos o sucesso.

Pois bem: a Bíblia é um livro diferenciado, principalmente no âmbito dos livros religiosos, porque não esconde as inúmeras derrotas de vários de seus personagens principais. Vários deles erram, mentem, enganam, pecam, são derrotados e vivem cercados e assombrados por algo errado que fizeram. A lista poderia incluir, pra começar, Adão, Noé, Abraão, Jacó, Judá, Moisés, Davi, Paulo, entre outros.

Obviamente que os fracassos desses personagens ocorrem por motivos diversos, em circunstâncias variadas também. Entretanto, todos os derrotados e mesmo os poucos 100% vitoriosos (a Daniel e José, por exemplo, não são imputados pecados na narrativa bíblica) possuem uma característica em comum: foram abandonados em algum momento pelo DEUS ao qual serviam.

A constatação desse fato é impactante. De Adão em diante, todos se sentiram em algum momento abandonados por DEUS. O silêncio dELE, em determinados casos, passa quase despercebido, como no caso de José, em que nenhum contato entre a divindade e o personagem é narrado. Em outros, parece fruto do equívoco de um protagonista, como no caso de Abraão, em que o mesmo experimenta o silêncio de DEUS por longos anos após se deitar com Hagar. Há ainda o silêncio que desespera o personagem a ponto de incomodar o leitor, como no caso de Jó. Em um caso específico, Israel no Sinai, o silêncio é um pedido do povo e, logo depois, se torna motivo para angústia deste mesmo povo que, erroneamente, forja para si um “deus” (o bezerro de ouro).

Todos os personagens minimamente elaborados pelos narradores bíblicos, de Gênesis em diante, experimentam o silêncio ensurdecedor de DEUS.

Entretanto, o primeiro passo para entender o silêncio não está no silêncio, pois o silêncio pressupõe que houve comunicação. Assim, o silêncio divino é, antes de tudo, um lembrete de que ELE fala. E nisso reside a resiliência dos personagens bíblicos. Alguns, apesar de viverem o silêncio divino, permanecem buscando a comunicação, permanecem dialogando, mesmo que não encontrem respostas. Jó é um bom exemplo disso. Outros, quando confrontados pela aparente ausência de comunicação com DEUS, O percebem além das palavras, em Suas ações. José é um ótimo exemplo disso.

O silêncio de DEUS não implica em sua derrota nem no Seu afastamento. É uma realidade que todos nós –mais dia, menos dia– iremos enfrentar. Que nestes momentos a memória da Sua revelação permaneça nos guiando.

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