sexta-feira, 20 de julho de 2018

Elegância: a sutil arte de combinar simplicidade, educação e discrição

Gosto de gente simples. Gente pé no chão. Gente que aprendeu que luxo não se trata de afetação, ostentação ou presunção. Gente que sabe que elegância não é esnobismo ou arrogância. Elegância é, antes de tudo, saber se comportar com uma simplicidade sofisticada e uma sabedoria discreta perante a vida.

Coco Chanel dizia: “Não é a aparência, é a essência. Não é o dinheiro, é a educação. Não é a roupa, é a classe”. Eu, igualmente, acredito que ser elegante vai muito além de conhecer e assimilar regras cerimoniais ou juntar dinheiro para comprar uma jóia cara. Ser elegante é adquirir um conjunto de bons hábitos que revelam uma civilidade harmoniosa por dentro e por fora. 

É aprender agir com cortesia, empatia, gentileza, cuidado, educação e discrição. É descobrir o quanto é vulgar lavar roupa suja em praça pública; cuspir no prato em que comeu; participar de fofocas e boca a boca; fazer discursos inflamados sobre política e religião; assediar sem consentimento; criticar mais que elogiar; fazer diferença entre as pessoas; exagerar na roupa transparente, no tom de voz, na vontade de aparecer e na obscenidade.

Engana-se quem pensa que o contrário de luxo é a escassez de bens e recursos. Luxo é se despir de excessos. É descobrir que você não precisa exagerar na maquiagem, no brilho da roupa, no tom de voz, na quantidade de perfume, no filtro da selfie, na indiscrição. Luxo é conhecer seu lugar, não invadir a privacidade alheia, respeitar os limites (seus e dos outros), ser polido e refinado. Luxo é saber ser sofisticado na simplicidade, não desperdiçar, não esbanjar, não ostentar. Luxo é prestar atenção às próprias maneiras, e, na dúvida, agir com mais sobriedade que vulgaridade.

Pessoas elegantes não precisam impressionar ninguém, e por isso agradam a si mesmas em primeiro lugar. Não necessitam ostentar o último modelo de celular, não se incomodam em repetir vestidos, não competem pelo número de curtidas na última foto da viagem. Pessoas elegantes investem mais no brilho do olhar que na plástica das pálpebras, mais na naturalidade do sorriso que no preenchimento dos lábios, mais no caimento da vestimenta que na etiqueta famosa bordada na lapela. Quanto é bonito, fino, clássico, elegante e muito sofisticado adotar um estilo sóbrio, desprovido de exageros e despropósitos. É como diz o velho ditado: “menos é mais”.

A elegância está no comportamento, e não na posse disso ou daquilo. Já vi muita gente desprovida de recursos ter gestos nobres, e muita gente endinheirada ser extremamente desagradável e mesquinha. Isso me dá a certeza que não se mede grandeza por riqueza nem elegância por aparência.

Finalmente uma historinha: Quando eu tinha dezenove anos, fui conhecer a família do meu namorado na época. No dia de ir embora, ao acordar e ainda sonolenta, ouvi a mãe dele falando com a filha (que morava fora) ao telefone. Ela me descrevia exatamente assim: “ela é muito simples…” e me recordo que naquele dia, no auge da minha imaturidade, fiquei meio perdida, sem entender se aquilo era uma crítica ou elogio. Hoje, mais de vinte anos depois, me sinto privilegiada de ter passado essa impressão, e contente com a percepção dela. Porque sei que o meu valor não estava na minha fachada, e sim dentro de mim. Hoje continuamos próximas, amigas, e nos admiramos mutualmente. Nunca lhe contei esse episódio, e talvez fosse deselegante comentar que meus ouvidos captaram mais do que o necessário naquela manhã. Porém, mais tarde, esse incidente me trouxe lucidez. A compreensão de que, se houver educação e essência, a elegância chegará com a maturidade e o bom gosto. Pois como dizem por aí: “O mais importante não é ter, e sim ser…”

Fabíola Simões (via Conti Outra) (Ilustração: Audrey Hepburn na África)

Nota: Ellen G. White também nos deixou alguns sábios conselhos sobre como devemos nos comportar para sermos verdadeiramente elegantes:

"A verdadeira elegância não acha satisfação no adorno do corpo para ostentação. Os filhos de Deus devem ser puros interior e exteriormente." (Christian Temperance and Bible Hygiene, p. 93)

"Devemos educar os jovens na simplicidade do vestuário; simplicidade com elegância." (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 180) 

“Em cada época, a maioria dos professos seguidores de Cristo tem desatendido àqueles preceitos que ordenam modéstia e simplicidade na conversação, no comportamento e no vestir. O resultado tem sido o mesmo – abandono dos ensinos do evangelho, que conduz à adoção das modas, costumes e princípios do mundo. A piedade vital cede lugar ao formalismo morto.” (Mensagem aos Jovens, p. 354)

"Neste século corrompido, tudo se perverte para servir à ostentação e aparência exterior." (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 270)

"A beleza natural consiste da simetria ou da harmoniosa proporção das partes, de uma para com outra; mas a beleza espiritual consiste na harmonia ou semelhança de nossa alma com Jesus. Isso tornará seu possuidor mais precioso que o ouro fino, mesmo o ouro de Ofir. A graça de Cristo é, de fato, adorno de incalculável preço. Eleva e enobrece seu possuidor, reflete raios de glória sobre outros, atraindo-os também para a fonte de luz e bênçãos." (Orientação da Criança, p. 423)

"O nosso exterior deve caracterizar-se em todos os seus aspectos pelo asseio, modéstia e pureza." (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 394)

"A simplicidade de caráter e a humildade de coração produzirão felicidade, ao passo que a presunção ocasionará descontentamento, murmuração e contínuas decepções. É aprender a pensar menos em nós e mais em tornar outros felizes, que nos trará força divina." (Testemunhos Seletos 1, p. 403)

"A verdadeira cortesia não se aprende pela mera prática das regras da etiqueta. Ela desconhece as classes sociais. Ensina o respeito de si mesmo, respeito à dignidade do homem como homem, consideração por todo membro da grande fraternidade humana." (Educação, p. 240)

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