Tenho acompanhado o discurso, falas e afirmações de vários candidatos ao longo dos anos durante o processo das campanhas eleitorais, e sempre me deparo com as invocações a Deus, como se fosse um cabo eleitoral invisível e com força para sensibilizar os eleitores. O que mais chama a atenção, é que a maioria dos candidatos que fazem uso destas expressões são pessoas que, em sua vida particular e pública, não demonstram em seus atos que temem a algum Deus, pois agem como se ele sequer existisse. A propósito, recentemente, pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontou que 79% dos brasileiros concordam totalmente ou em parte que é importante que o candidato a presidente acredite em Deus.
Cabo Daciolo (Patriota) e seus discursos inflamados com a Bíblia na mão na Câmara dos Deputados agora deverão ser ouvidos também em rede nacional de televisão. Daciolo está confirmado no primeiro debate presidencial, dia 9 na Band. “Eles vão me ver com a Bíblia na mão e falando de Jesus”, comemora. Uma de suas primeiras iniciativas, caso ganhe a eleição, será convocar sete dias de “adoração nacional”, onde convidará todos os brasileiros a louvarem a Deus.
Desde que lançou sua pré-candidatura, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro escolheu usar como lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O seu lema, garante, é: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João 8:32). Durante a entrevista à Globo News na noite desta última sexta-feira (3), declarou, para espanto dos jornalistas que o sabatinavam: “Eu estou cumprindo uma missão de Deus”.
O candidato tucano Geraldo Alckmin declarou: "Tudo que o Brasil precisa é reavivar a fé, os valores cristãos. Feliz a cidade, feliz o estado, feliz a nação cujo Deus é o Senhor”, disse o governador, fazendo referência ao trecho bíblico de Salmos 33:12. Na convenção do PR, Alckmin já havia dito que a chapa que uniu os dois partidos foi uma vontade de Deus. "Lutei muito para que estivéssemos juntos e quiseram os desígnios de Deus que fizéssemos essa união (entre PSDB e PR)", disse.
Marina Silva (Rede) costuma agradecer a Deus no início de suas falas em público. Ela, que quase foi freira, mas se converteu ao protestantismo em 1996, é a única evangélica entre os principais candidatos a presidente. Recentemente em uma entrevista ao pastor Caio Fábio, seu antigo apoiador, ela declarou: "Só posso agradecer e pedir a Deus que não sejam envergonhados por minha causa aqueles que confiam em Deus." Ao ser questionada sobre como ela pretende conciliar sua fé com a presidência, disse: “Graças a Deus, o Estado é laico."
‘Acho que Deus está me ajudando’, disse Ciro Gomes, candidato do PDT à presidência, sobre o afastamento dos partidos do Centrão em uma possível aliança para a próxima eleição.
Fernando Haddad, escolhido como vice na chapa petista à presidência, disse sobre a possibilidade de Lula voltar a governar o país: “Se Deus quiser, a justiça vai ser feita e ele vai estar entre nós." Anteriormente, enquanto candidato à prefeitura de São Paulo em 2012, Haddad se pronunciou sobre o envolvimento das igrejas em campanhas: “Penso que é um equívoco que as igrejas sejam instrumentalizadas a favor de um partido e menos ainda em favor de um candidato”, afirmou.
O candidato ao governo de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou: “Aprendi que nada se sobrepõe à fé e nada se sobrepõe à oração. As pessoa que têm fé e amor no coração são pessoas de bem, e o bem sempre prevalece sobre o mal. Glória a Deus! Em uma entrevista a rádio religiosa Feliz FM, disse: "Sou católico, mas frequento cultos e gosto. Tenho Deus dentro de mim."
“Deus disse: Este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim." (Mateus 15:8 NTLH)
No livro Os Escolhidos de Ellen G. White (versão na linguagem de hoje do livro Patriarcas e Profetas), no capítulo 27, lemos:
“Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o Seu nome em vão” (Êxodo 20:7). Esse mandamento nos proíbe de usar o nome de Deus de maneira descuidada. Ao mencionar Deus impensadamente na conversação comum e pela frequente repetição irrefletida de Seu nome, nós O desonramos. Seu santo nome deve ser pronunciado com reverência e solenidade."
Todas as ideologias querem Deus como seu garoto propaganda. E assim, Sua mensagem vai se adequando à agenda política de cada grupo.
Nem Adolf Hitler abriu mão de associar sua ideologia à imagem e mensagem de Deus. O Führer demonstrava acreditar que o cristianismo era “a fundação inabalável da moral e do código moral da nação”. Dizia, ainda, que o Governo do Reich estava decidido a empreender a purificação moral e política da vida pública alemã, criando e assegurando as condições necessárias para uma renovação profunda da vida religiosa. “Como cristão”, dizia Hitler, “tenho a obrigação de lutar pela justiça”. Justificando a sua pérfida luta contra os judeus, ocasionando na morte de cerca de 6 milhões deles, ele teria dito: “Hoje acredito que estou agindo de acordo com a vontade do Criador Todo-Poderoso: – ao defender-me contra os judeus, estou lutando pelo trabalho do Senhor.” Ele se considerava um escolhido de Deus para iniciar no mundo um período de mil anos de paz, conhecido entre os cristãos como o Milênio. Um dos símbolos usados pelo nazismo era… adivinha? A cruz. A chamada “Cruz de Ferro” também era usada como adorno em escudos e espadas dos Cavaleiros Templários. Deu no que deu… Milhões de mortos em nome de um nacionalismo estúpido e cego.
O nome de Deus não cabe dentro de qualquer arranjo ideológico. Também não é cabo eleitoral de candidatura alguma. O que eu tenho a dizer para estes políticos, candidatos com falsa aparência piedosa são palavras registradas no livro de Isaías 55:8-9:
"O Senhor Deus diz: Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês. Assim como o céu está muito acima da terra, assim os meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus".
Espero, sinceramente, que os eleitores não se deixem enganar pelos candidatos espertos, que usam o nome de Deus, como se fossem os seres mais religiosos e piedosos da face da terra. Os regimes políticos, bem como as ideologias que os justificam, tendem a corromper-se, mas os ideais do Reino de Deus permanecem para sempre.
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