quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Gaslighting, a forma de abuso mais sutil e corrosiva

Você deve estar louca e precisa se tratar! Relaxa porque eu só estava brincando e não aconteceu nada! Isso é coisa da sua cabeça... Não exagere!” Quem tem ouvido alguma dessas frases com certa frequência pode estar sendo vítima de gaslighting

O termo em inglês, que não tem tradução oficial, é usado para descrever uma forma de violência emocional, em que o abusador, por distorcer o relato e a interpretação de situações e fatos, faz com que a vítima duvide da própria memória e sanidade. 

A expressão foi inspirada no filme Gaslight, de 1944. A trama consiste na tentativa do esposo em deixar a esposa insana para se apoderar de sua fortuna. Com essa intenção, o personagem prepara as lâmpadas de gás (gaslights) para ligarem e desligarem de forma alternada. Todas as vezes que a mulher dele percebe essa alteração, o esposo diz que ela está vendo coisas, o que a deixa bastante confusa e perturbada. 

Na vida real, o gaslighting não é praticado somente por maridos. Esposas, chefes, filhos, amigos ou qualquer outro tipo de relacionamento interpessoal podem ser prejudicados por essa prática abusiva. Nem sempre o gaslighting será intencional, mas sempre provocará tristeza, raiva, frustração e outros agravos psicológicos. Como a manipulação vem de alguém próximo, não somente a vítima passa a desconfiar de si mesma, como também aqueles que estão por perto. 

O livro The Gaslight Effect (Morgan Road, 2007), de Robin Stern, terapeuta e psicanalista do Centro de Inteligência Emocional da Universidade Yale (EUA), alerta para alguns sinais que podem indicar se você está sendo vítima de gaslighting. Os sintomas incluem a dúvida sobre si mesmo; a sensação de ser sensível, de estar confuso ou louco; sempre pedir desculpas ao parceiro; não se sentir feliz, apesar das coisas boas que acontecem na vida; formular desculpas para justificar o comportamento do abusador para familiares, amigos e para si mesmo; sentir que algo está errado sem saber exatamente o que é; dificuldade em tomar decisões fáceis; desânimo e desesperança; e a sensação de que não consegue fazer nada certo e de que não é tão confiante ou descontraído como no passado. 

Praticar o gaslighting é literalmente “fazer o outro enlouquecer”. As pessoas que agem assim causam reações desagradáveis, mas nunca assumem a responsabilidade por sua conduta e menosprezam as consequências de suas palavras sobre os outros. As mulheres ainda são as maiores vítimas, mesmo as assertivas e autoconfiantes. E o casamento ainda é o espaço de maior vulnerabilidade para essas companheiras, que acabam se tornando silenciosas e passivas, sem condições de expressar os próprios sentimentos. 

A crença velada, mas socialmente aceita, de que “as mulheres são loucas” ajuda nesse condicionamento. Por isso, devemos estar atentos para “desligar o gás” dessa atitude abusiva. 

Talita Castelão (via Revista Adventista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário