Conhecer a vontade de Deus é uma das maiores buscas humanas. Alguns a procuram pela reflexão, outros pelo sofrimento, outros ainda através da visão pessoal, e muitos a buscam na Revelação. Exatamente por se apresentarem tantos caminhos para se chegar a um mesmo destino é que este se tornou um tema muito controvertido e incompreendido.
O maior risco da busca pela verdade, é trocar a revelação bíblica pelas opiniões ou interesses pessoais. Usar os próprios argumentos para definir o que é certo ou errado, o que Deus quer e o que Ele não quer. Se pudéssemos conhecer a vontade de Deus por argumentos, os mais habilidosos com a palavra ou com a escrita sempre teriam a posição final sobre ela. Aliás, isso é o que está acontecendo no mundo religioso de hoje. As religiões que mais crescem são as que têm líderes e oradores carismáticos, que sabem trabalhar bem as palavras e argumentos. Eles convencem as pessoas de que possuem a verdade e arrastam muita gente.
Muitas vezes o risco do “achismo”, a confiança na verdade baseada em opiniões pessoais, aparece entre nós, adventistas. Muitas pessoas, seguras de sua maneira de ver as coisas, dispensam as palavras inspiradas, colocando-as na moldura da desatualização e, confiantes na sua própria argumentação, acham que muitas coisas devem ser diferentes do que são. Defendem que precisamos nos tornar mais contemporâneos, adaptados a uma nova época.
Em meio a essa discussão, uma palavrinha tem sido o centro das atenções, e de acordo com a maneira como é vista, pode também ser definida como a solução do problema. Essa palavrinha mágica, pequena, mas muito forte é não. Qual deve ser a nossa posição quanto ao seu uso? O não deve ser abolido ou adaptado aos nossos hábitos e crenças? Ou ser ainda mais criteriosos?
Vamos voltar um pouco no tempo e chegar à época de Jesus. Assim podemos entender como Ele Se relacionou com essa palavra. Segundo Paulo, Cristo veio quando havia chegado a “plenitude do tempo” (Gálatas 4:4). Ou seja, o mundo e a religião estavam tão longe do plano de Deus, que Cristo não poderia esperar mais para consertar a situação. Se Ele demorasse um pouco mais, possivelmente os homens não teriam mais condições de compreendê-Lo. A vida religiosa precisava ser redirecionada. Cristo precisava preparar um povo que O representasse corretamente. Precisava de um movimento que falasse a verdade ao coração do povo.
Não é difícil notar que a realidade daquela época é muito parecida com a de hoje – religião confusa, e um povo precisando ser alcançado com a verdade. Sendo que os contextos são semelhantes, é importante observar a postura de Cristo em relação à verdade. Assim, definiremos melhor a nossa.
No sermão do monte (Mateus 5:21-37), Cristo tratou o assunto do não. Ao invés de anular ou diminuir, Jesus ampliou os limites conhecidos pelo povo. Ele saiu do não visível e foi mais longe, entrando no mundo do não invisível. Ele foi além do não ato, e chegou até o não pensamento. Ele terminou essa parte do sermão com uma posição clara: Cuidado com a tentativa de encontrar um meio termo para a verdade. Sejam suas posições sim, sim e não, não.
À medida que nos aproximamos da volta de Cristo, Satanás vai criar novas e sutis maneiras de afastar o povo de Deus de Sua vontade. Por isso, mais claras e definidas devem ser nossas posições e crenças.
Diante disso, precisamos entender claramente porque Deus diz não. Os motivos porque Ele apresenta Sua vontade de maneira tão objetiva e sem aberturas. Essa compreensão nos ajuda a aceitar a Sua vontade, não como imposição, mas como proteção. Existem pelo menos quatro motivos para isso:
1. Para não se queimar
Deus sabe que muitas coisas aparentemente inofensivas escondem um grande perigo. Quando Ele diz não para algumas coisas que muitas vezes achamos simples, pequenas ou até desnecessárias, Ele sabe o que está dizendo, sabe o que há por trás. Nem sempre conseguimos enxergar isso. Quem brinca com fogo corre o risco de se queimar.
Deus sabe, por exemplo, que um pouco de bebida alcoólica tem um efeito pequeno sobre a mente e o corpo. Por que, então, proibir totalmente o uso? Por que não permitir um pouco? Existem várias pesquisas que analisam o risco de quem bebe socialmente se tornar um alcoólatra. A maioria delas indica que 12% vai chegar lá. Parece um percentual pequeno, mas ele representa um sério risco. Deus conhece cada pessoa. Ele sabe que alguns só querem brincar com a bebida, mas sabe também que podem cair mais fundo. Outros, quem sabe, podem acabar se tornando viciados em “beber socialmente” porque não conseguem abandonar o hábito. Deus conhece os riscos, por isso diz não.
Satanás sempre tenta uma pessoa em seu ponto fraco. Por isso, quando alguém quer adaptar, ou fazer alguma abertura na vontade de Deus, já está demonstrando que esse é o seu ponto fraco. A história de Eva se repete: sempre que alguém enfrenta a tentação do seu jeito, porque acha ser forte para manter tudo sob controle, acaba se envolvendo muito mais do que imaginava. Brincar com o ponto fraco, ou com fogo, é pedir para se queimar. Lembro-me sempre de uma frase que aprendi na escola: “Pequenas oportunidades são o princípio de grandes acontecimentos”.
2. Para evitar limites humanos
Quando você decide estabelecer sua própria verdade e faz concessões, qual é o limite delas? As explicações que sempre se dá são: “Um pouco só não tem problema”; “Só vou ao cinema para ver filmes bons”; “Não vejo mal algum em usar um anelzinho ou uma correntinha discretos”.
A pergunta, porém, continua: Até onde vai o “só um pouco”? Quais são os bons filmes que não têm problemas? Qual é o tamanho do anelzinho, ou da correntinha discretos?
Se a verdade deixa de ser absoluta, e começamos a fazer concessões ou aberturas, surgem duas realidades: A primeira é que cada pessoa cuida da própria vida e estabelece os próprios limites. A verdade deixa de ser única para todos e passa a ser pessoal. Cada um tem a sua. Sendo assim, é claro que uns serão mais rígidos e outros mais liberais. Em segundo lugar, a igreja cria regras para definir até onde vão as aberturas, e quais são os limites. Nesse caso, a verdade passa a ter contornos humanos. Alguém define o que é a verdade e os demais a aceitam. Não podemos correr o risco de nos tornarmos como os fariseus, com regrinhas e mais regrinhas criadas por homens, nem tornar a religião uma questão apenas pessoal, pois assim colocamos o homem no lugar de Deus. Por isso, Deus diz não. A verdade absoluta é mais segura.
3. Para não confundir os outros
Somos a única demonstração da vontade de Deus aqui na Terra, e as pessoas precisam conhecer a Deus olhando para nós. Somos Suas testemunhas. Se não formos exemplos claros, o cristianismo perde sua força.
Se no trabalho, um jovem adventista é exatamente igual a todos os outros colegas, que diferença faz ser cristão? Poderá ele ser reconhecido como um cristão? Se no sábado à noite uma garota sai, e sua aparência é igual a das outras que não possuem nenhum interesse na vontade de Deus, como Ele pode ser reconhecido nela? Se um jovem adventista está sentado à mesa de bar com uma latinha de cerveja na mão, junto com seus amigos, será possível identificá-lo com um cristão?
É preciso sempre lembrar que a transformação operada por Cristo nos torna testemunhas silenciosas. Os outros podem ver a Cristo em nós pela maneira como nos apresentamos. Deus não pode correr o risco de fazer concessões para nos parecermos com as pessoas que não se entregaram a Ele, pois somos as únicas testemunhas dEle neste mundo. Essas testemunhas precisam estar cada dia mais visíveis e fáceis de serem reconhecidas.
4. Para vencer as sutis tentações de Satanás
Quanto mais perto do fim, mais discretas e sutis serão as tentações de Satanás. Precisamos ser claros e definidos quanto à verdade, para que ele não tenha espaço. Quando o não é substituído pelo “mais ou menos” ou, por “um pouquinho só não tem problema”, ou ainda: “Não vejo mal nenhum”, fica difícil reconhecer o caminho de Deus, e Satanás se aproveita.
Quanto menos relativismo, adaptações ou “achismos” houver na verdade, mais eficaz e poderosa ela será.
Pr. Erton Köhler (via Jovem Adventista)
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