quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Depressão em adolescentes cresce impulsionada por uso de redes sociais

A disseminação de smartphones, tablets e notebooks junto com o surgimento das redes sociais mudou a maneira como crianças e adolescentes interagem com o mundo e com os outros, com impactos positivos e negativos.

Se propiciaram acesso a uma miríade de conhecimentos e permitiram uma comunicação ágil e instantânea, essas tecnologias também produziram novas fontes de angústia e tornaram mais fácil aos mais jovens tomarem contato com conteúdos e situações para os quais não estão preparados emocionalmente.

Nos últimos tempos têm-se acumulado evidências de que o uso exagerado de aparelhos e redes sociais produz efeitos deletérios na saúde mental de crianças e adolescentes e pode ser um dos fatores por trás do aumento da prevalência de depressão nesse grupo etário.

"Os mais jovens têm de enfrentar hoje coisas inimagináveis no passado, como a exposição e a permanência nas redes sociais daquilo que eles fazem e falam, por exemplo", diz Roberto Sassi, psiquiatra infantil e professor da Universidade McMaster, no Canadá. O psiquiatra também aponta que hoje é mais fácil para os jovens terem contato com sites que discutam, por exemplo, automutilação.

Para Jackeline Giusti, psiquiatra da infância e da adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, o jovem contrastar a própria vida com a vida online fantasiosa de outros no Facebook e no Instagram pode potencializar estados psicológicos negativos. "Ele pode pensar: todo mundo está feliz, todo mundo vai a festas, menos eu. Se a pessoa está triste, isso vai deixá-la mais triste ainda", diz.

Um dos aspectos mais perniciosos da rede, apontam os dois psiquiatras, é o chamado cyberbullying. Segundo Sassi, a prática online produz nas vítimas a mesma sensação negativa de passar por essas situações na vida real.

Artigo publicado recentemente na revista da Academia Americana de Pediatria fez vasta análise da literatura científica sobre o tema. Uma meta-análise de 131 estudos mostrou que adolescentes que passam por cyberbulling apresentam risco maior de ter problemas mentais e físicos."O uso de internet em geral e a experiência de ser vítima de cyberbulling estão associados a mais pensamentos suicidas e comportamentos de automutilação", diz o artigo.

Outro estudo, esse publicado em outubro, analisou como passar muitas horas em frente a telas de aparelhos pode afetar a saúde mental de crianças e adolescentes. Jovens de 14 a 17 anos que passam mais de sete horas diárias em smartphones, tablets, computadores e televisão tiveram mais do que o dobro de chance de terem ansiedade ou depressão do que aqueles que passam uma hora.

Mesmo após apenas uma hora em frente à tela por dia, crianças e adolescentes podem começar a ter menos curiosidade, menor autocontrole, menos estabilidade emocional e menor capacidade de concluir tarefas, segundo o estudo, publicado na revista Preventive Medicine Reports. Entretanto, como se trata de um ramo novo de pesquisa, ainda há muitos aspectos não compreendidos a respeito da influência das tecnologias digitais na saúde mental dos mais jovens. 

No caso do segundo estudo, Sassi diz que há certas nuances que podem ter impactos diferentes nos jovens. "A pessoa pode ser usuária ativa de Facebook, que interage e conversa com outras pessoas, ou alguém que só observa a atividade de outros; jogar games é uma atividade muito diferente de ver um filme na Netflix. São coisas que nós colocamos juntos, mas que podem ter impactos diferentes.

O psiquiatra também diz que ainda não se pode estabelecer uma relação de causalidade entre uso de tecnologias e depressão em mais jovens. "Não podemos esquecer que o tempo em frente à tela é um tempo que você está tirando de outras atividades, como sono e atividades físicas. Sedentarismo e baixa qualidade do sono prejudicam a saúde mental tanto de jovens como adultos.

Nos EUA, a prevalência da doença na faixa dos 12 aos 17 anos passou de 8,7% em 2005 para 11,3% em 2014, segundo os dados mais recentes de uma pesquisa nacional. No Brasil não existem estatísticas do fenômeno, mas Jackeline Giusti diz que ter observado nos últimos anos grande aumento de casos de depressão relacionada a tecnologias digitais. "Cerca de 10% dos adolescentes e crianças que atendo apresentam essa relação", diz.

Os pais possuem papel relevante para evitar que o uso da internet traga prejuízos, aponta Giusti. "Eles devem olhar os celulares dos filhos de vez em quando para saber o que eles estão acessando, mas isso precisa ser combinado. Também devem mostrar exemplos das consequências de certos comportamentos nas redes sociais", diz.

A psiquiatra também diz que os pais devem buscar restringir a quantidade de horas dos filhos na internet e incentivar outras atividades. Mas, para isso funcionar, os pais devem dar o exemplo. "Não adianta falar isso e, na hora do jantar, o pai e a mãe ficarem grudados no celular, enquanto a criança fica olhando para o teto. Esse é um momento para estar com os filhos, saber como foi o dia deles", diz Giusti.

Os pais também devem ficar atentos a mudanças de comportamento dos filhos, que podem indicar um quadro depressivo. Giusti dá como exemplo o afastamento de amigos, queda no desempenho escolar, irritabilidade e perda de interesse em atividades que eles antes gostavam.

Negligenciar esses comportamentos, considerando-os normais, acarreta um risco. Uma depressão não tratada na idade mais jovem pode produzir grande prejuízo no futuro.

Fernando Tadeu Moraes (via Folha)

Nota: Poucos destes jovens contam com o apoio familiar desejado. Desta forma, eles podem encontrar nas igrejas alguém que os “enxergue”, os considere e que também ajude a promover os vínculos familiares. O amor e a atenção oferecidos pelas pessoas da igreja podem ser ferramentas importantíssimas para o processo de cura. Até mesmo porque este amor pode apontar para o amor de um Deus que as ama incondicionalmente, que as fez com um propósito, doador de esperança e que não as deixa sós nos momentos de maior angústia. Enfim, podem encontrar alguém que percebam que se importa.

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