quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Site vegano destaca Ellen White como defensora dos animais e do vegetarianismo

Vejam que interessante este artigo escrito pelo jornalista, historiador e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário David Arioch (via Vegazeta):

Uma das fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ellen Gould White, se tornou uma das personalidades mais controversas de seu tempo, inclusive pela sua defesa do vegetarianismo, o promovendo em escolas, hospitais e centros médicos. Entre as suas obras mais conhecidas, que também versam contra o consumo de animais, está o livro The Ministry of Healing, publicado em 1905. No entanto, Healthful Living, de 1896, foi uma das primeiras obras em que Ellen G. White abordou o vegetarianismo. Na página 97, ela declara que a dieta de muitos animais é baseada simplesmente em vegetais e grãos, e que o ser humano deveria seguir esse exemplo, já que não temos o direito de nos alimentarmos de criaturas mortas. Segundo Ellen, um animal que não seja essencialmente carnívoro não tem necessidade de destruir outro animal para se alimentar. No livro Counsels on Diet and Foods, de 1903, a autora diz que vegetais, frutas e grãos são o suficiente para uma alimentação saudável e bem completa. “Nem uma onça [28 gramas] de carne deve ser enfiada em nosso estômago. Devemos voltar ao propósito original de Deus na criação do homem”, defende na página 380.

Com livros publicados em mais de 140 línguas, Ellen Gould White se tornou bastante influente à sua época, tanto que há quem diga que ela também contribuiu para que o famoso médico John Harvey Kellogg, também adventista, criasse um dos mais famosos cereais matinais de todos os tempos – Corn Flakes. Sua influência também se deve ao fato de ela ter sido uma escritora prolífica, chegando a escrever mais de cinco mil artigos e a publicar 40 livros. Suas obras somam mais de 50 mil páginas manuscritas, conforme o artigo “Ellen G. White: A Brief Biography”, de Arthur L. White, publicado no The Official Ellen G. White Website, em agosto de 2000.

Em The Ministry of Healing, lançado em 1905, a escritora afirma que a dieta indicada ao ser humano no princípio não incluía alimento de origem animal. “Não foi senão depois do dilúvio, quando tudo quanto era verde na Terra havia sido destruído, que o homem recebeu permissão para comer carne”, escreveu. Porém, a escritora defendia que foi uma permissão temporária. Segundo Ellen, Deus escolheu a comida dos seres humanos quando os levou para viverem no Éden, o que não compreendia nada de origem animal.

Porém, na perspectiva da autora adventista, o ser humano insistiu no consumo de carne, e em decorrência disso teve de amargar inúmeras doenças e muitas mortes relacionadas a esse hábito: “Os que se alimentam de carne não estão senão comendo cereais e verduras, pois o animal recebe a partir desses alimentos a nutrição que garante o seu crescimento. A vida que havia no cereal e na verdura passa aos que os ingerem. Nós a recebemos comendo a carne do animal. Melhor é obtê-la diretamente, comendo aquilo que Deus proveu para o nosso uso.”

Outro ponto que, segundo a escritora, deveria ser o suficiente para desconsiderar a carne como alimento é o surgimento de doenças que só existem em decorrência da criação de animais para consumo. “A população come ininterruptamente carne cheia de germes de tuberculose e câncer. Assim são transmitidas essas e outras doenças. Muitas vezes são vendidas a carne de animais que estavam tão doentes que os donos receavam mantê-los vivos por mais tempo. E o processo de engorda para a venda produz enfermidades”, critica.

No final do século 19, Ellen G. White percebeu que já era comum os animais serem privados da luz do dia e do ar puro, respirando somente a atmosfera de estábulos imundos, e talvez sendo alimentados com comida deteriorada, o que facilitava a contaminação e proliferação de doenças:

“Animais são frequentemente transportados por longas distâncias e sujeitos a grande sofrimento até chegarem ao mercado. Privados dos campos verdes para viajar por longas milhas em estradas quentes e empoeiradas, dentro de veículos imundos e lotados, eles ficam febris e exaustos, e passam muitas horas em privação de água e comida. Essas criaturas são guiadas para a morte, para que os seres humanos se banqueteiem com as suas carcaças.”

Para Ellen G. White, a situação dos peixes não é diferente, levando em conta a contaminação das águas e a ausência de boa matéria orgânica como fonte de alimento. Além de sofrerem pela má intervenção humana, quando morrem tornam-se alimentos; um alimento que também ocasiona enfermidades. “Muitos [seres humanos] morrem de doenças devido ao uso da carne, e essa causa não é suspeitada por eles nem pelos outros”, enfatiza.

Além das questões envolvendo saúde e religião, a escritora também apontava como igualmente importante as implicações morais do consumo de carne. Quando discursava sobre o tema, ela pedia que os espectadores pensassem na crueldade por trás do consumo de carne, e os efeitos que isso desencadeia na vida em sociedade, onde a ternura para com as outras criaturas é majoritariamente desconsiderada.

No livro The Ministry of Healing, Ellen defende que a inteligência de muitos animais é tão semelhante à inteligência humana que chega a ser um mistério. Observa que os animais veem, ouvem, amam, temem e sofrem. Se servem de suas capacidades melhor do que os seres humanos. Manifestam simpatia e ternura em relação aos seus companheiros de sofrimento:

“Muitos animais demonstram aos seus uma afeição muito superior àquela manifestada por alguns seres humanos. Que homem, dotado de um coração humano, havendo já cuidado de animais domesticados, poderia fitá-los nos olhos tão cheios de confiança e afeição, e entregá-los voluntariamente à faca do açougueiro? Como lhes poderia devorar a carne como algo delicioso?”

No início do século 20, a autora já considerava um equívoco crer que a força muscular depende do uso de alimento de origem animal, já que podemos recorrer a cereais, frutas e oleaginosas, alimentos que contêm tudo o que é necessário à nossa nutrição. “Quando se deixa o uso de carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza ou falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial. Mas é devido a esse alimento ser estimulante, deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim lhes parece ser algo que faz falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne o quanto é para um bêbado deixar o álcool. Mas logo se sentirão muito melhor com a mudança”, garante.

Na defesa da abstenção de alimentos de origem animal, Ellen Gould White jamais viu o vegetarianismo como uma impossibilidade. Ela acreditava que mesmo em países com maiores índices de pobreza é possível implementar hábitos vegetarianos na população mais carente. Ela sugeria a realização de pesquisas e a discussão sobre meios de incentivar a produção de alimentos de origem vegetal mais baratos. “Com cuidado e habilidade, é possível preparar pratos nutritivos e saborosos, substituindo a carne. Em todos os casos, educai a consciência, aliciai a vontade, mostrai o caminho do bom e saudável alimento e a mudança acontecerá rapidamente, fazendo desaparecer a necessidade de carne. Já não é tempo de todos dispensarem a carne da alimentação?”, questionou no capítulo “A carne como alimento”, do livro The Ministry of Healing, publicado em 1905.

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