quarta-feira, 17 de abril de 2019

A era da burrice e a morte do conhecimento de Deus

Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhando na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair.

“Há um declínio contínuo na pontuação de QI (quociente de inteligência) ao longo do tempo. E é um fenômeno real, não um simples desvio”, diz o antropólogo inglês Edward Dutton, autor de uma revisão analítica das principais pesquisas já feitas a respeito. A regressão pode parecer lenta; mas, sob perspectiva histórica, definitivamente não é. No atual ritmo de queda, alguns países poderiam regredir para QI médio de 80 pontos, patamar definido como “baixa inteligência”, já na próxima geração de adultos.

Há quem diga que o salto tecnológico dos últimos 20 anos, que transformou nosso cotidiano, possa ter começado a afetar a inteligência humana. “Hoje, crianças de 7 ou 8 anos já crescem com o celular”, diz Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, nos EUA, e autor do livro The Dumbest Generation (A Geração Mais Burra, não lançado em português). “É nessa idade que as crianças deveriam consolidar o hábito da leitura, para adquirir vocabulário.” Pode parecer papo de ludita, mas há indícios de que o uso de smartphones e tablets na infância já esteja causando efeitos negativos. Na Inglaterra, por exemplo, 28% das crianças da pré-escola (4 e 5 anos) não sabem se comunicar utilizando frases completas, no nível que seria normal para essa idade. Segundo educadores, isso se deve ao tempo que elas ficam na frente de TVs, tablets e smartphones.

O superficialismo acomete nossa geração. Como afirma Richard Foster, em seu livro A Celebração da Disciplina, “o superficialismo é o mal do nosso tempo”. Numa época em que as informações podem ser obtidas em questão de segundos, com a digitação de uma, duas ou três palavras no Google e um clique no botão enter, refletir com profundidade sobre os principais dilemas humanos é algo que vem perdendo prioridade.

O poeta Eric Donald Hirsch, em seu livro Cultural Literacy: What Every American Needs to Know (Alfabetização Cultural: o que todo americano precisa saber), observa que “boa parte dos estudantes universitários norte-americanos não tem o conhecimento básico necessário para compreender sequer a primeira página de um jornal, ou para agir responsavelmente como cidadãos”. Como frisou o escritor Philip Yancey, “num país que publica mais de 50 mil títulos por ano, é fácil perder a aura quase sagrada que no passado envolvia os livros”.

Será que isso é diferente do que acontece em outras partes do mundo, por exemplo, no Brasil? Creio que não. A propósito, o filósofo Allan Bloom, no livro O Declínio da Cultura Ocidental, argumentou que “por trás desse mal-estar educacional subjaz a convicção universal dos estudantes de que toda verdade é relativa e que, portanto, a verdade não é digna de ser buscada”.

Vivemos num momento em que presenciamos um divórcio entre conhecimento e espiritualidade. As pessoas querem sentir, mas não estão dispostas a pagar o preço para saber. A bem da verdade, isso não melhorou a qualidade de nosso cristianismo. Como acertadamente enfatizou o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, nosso mundo se tornou palco de um cristianismo sem Cristo, um evangelho sem cruz e uma graça barata. Como Maria no jardim do sepulcro e os discípulos na estrada de Emaús, muitos cristãos falam com o Cristo vivo como se Ele estivesse morto. Porém, diferentemente deles, falta-lhes o mesmo anseio para estar em Sua presença: “Fica conosco”, disseram os dois peregrinos de Emaús. “Mestre!”, exclamou Maria, abraçando-o efusivamente, repleta de incontida emoção. Nas duas histórias, o evangelista destacou o papel das Escrituras como revelador da pessoa e missão de Jesus (Lc 24:25-27; Jo 20:9). O conhecimento de Cristo não está desvinculado de Sua Palavra!

A Bíblia faz uma solene advertência contra o superficialismo: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento” (Os 4:6). Por mais estranho que possa parecer, a Bíblia está apresentando uma espécie de atestado de óbito cuja causa da morte é a falta de conhecimento. Quando o conhecimento “morre”, em certo sentido nós também morremos. Para usar as palavras da romancista americana Joan Didion, no livro O Ano do Pensamento Mágico, “informação é controle”. No caso da afirmação bíblica acima, o contexto indica que a passagem se refere especificamente ao conhecimento de Deus. No entanto, é justamente o conhecimento de Deus que dá sentido a todas as outras formas de conhecimento. Talvez, seja esse o pensamento do autor de Hebreus ao citar o texto que se encontra em Jeremias 31:34: “Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor” (Comparar com Hebreus 8:11).

Como disse Philip Yancey, “através dos tempos e gerações, os livros [e eu acrescento, os bons livros] levam pensamentos e sentimentos, a essência do espírito humano”. Jamais percamos essa essência!

Fontes:

Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni (via Revista Superinteressante)

Nilton Aguiar (via Revista Adventista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário