Uma súbita busca pela palavra Jezabel, nos últimos dias, se explica por conta de uma produção televisiva sobre a personagem bíblica [na noite desta terça-feira (23) estreou pela Record TV a macrossérie Jezabel]. Mas quem foi Jezabel, segundo a Bíblia e comentaristas conceituados? E qual sua relação com o profeta Elias, perseguido por ela?
Tiramos esta e outras dúvidas sobre ela ao conversar com o doutor em Missiologia e Teologia Pastoral, mestre e bacharel em Teologia, Wilson Borba. Ele é docente e atual diretor do Seminário Teológico Adventista da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama), localizada no Pará.
Quem foi Jezabel e qual foi a oposição dela e de seu marido a Deus?
Jezabel foi esposa de Acabe, que reinou sobre as dez tribos do norte de Israel de 874 a 853 a.C. Acabe destacou-se pelo sucesso militar e político, mas era “fraco em questões religiosas”, pois: “fez Acabe, filho de Onri, o que era mau perante o Senhor, mais do que todos os que foram antes dele” (1 Reis 6:30). Ele escolheu casar-se com Jezabel, filha de Etbaal, um sumo sacerdote e rei pagão.
Conforme o relato bíblico referente a Acabe: “tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou” (1 Reis 16:30-31). “A malvada esposa de Acabe, Jezabel, provinha da cidade Fenícia de Tiro, de onde seu pai havia sido sumo sacerdote e rei. Jezabel adorava ao deus Baal”.[1] Tomando em conta que Baal simplesmente significa “senhor”[2], Jezabel e Acabe introduziram uma contrafação de Deus e de sua religião em Israel. Portanto, Acabe, “incitado por Jezabel”, introduziu o culto a Baal em Israel (1 Reis 21:25-26).
Para agradar a esposa, Acabe edificou um templo e um altar para Baal (16:32). E promoveu, assim, a idolatria[3], “até que quase todo Israel estava indo após Baal”. “O Baal mencionado aqui era considerado o deus que enviava chuva e fazia as colheitas crescerem. Os adoradores de Baal se envolviam em uma espécie de fornicação sagrada no templo para louvá-lo como a fonte da vida. Às vezes o povo até oferecia seus filhos a Baal como sacrifícios queimados (Jeremias 19:5)”.[4] O casamento de Acabe com Jezabel cumpriu uma agenda política e interesseira, mas não a vontade de Deus. Biblicamente, aquela união foi um adultério espiritual e uma traição a Deus. A influência deles, como lepra, aprofundou o sincretismo religioso e a apostasia da nação. Ao mesmo tempo que o povo professava servir a Jeová, também servia a Baal. Eles “coxeavam entre dois pensamentos” (1 Reis 18:21).
Sabemos que o Apocalipse também menciona Jezabel e faz uma conexão dela à apostasia. O que significa isso?
Na mensagem de Cristo à Igreja de Tiatira, Jezabel é citada: “Tenho, porém, contra ti o tolerares essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita” (Apocalipse 2:20-22).
Segundo o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, “assim como Jezabel propagou a adoração a Baal em Israel (1 Reis 21:25), alguma falsa profetisa da época de João estaria desencaminhando a igreja de Tiatira”.[5] Só que deve se considerar que as cartas às sete igrejas do Apocalipse também tem aplicação profética a sete fases definidas da história do cristianismo.[6] Quando “aplicada ao período de Tiatira na história cristã, a figura de Jezabel representa o poder que causou a grande apostasia medieval”.[7]
Que três lições a vida de Acabe, Jezabel e Elias nos deixam?
Sobre Acabe, “ele era fraco em capacidade moral. Sua união por casamento com uma mulher idólatra de caráter decidido e temperamento definido resultou em desastre tanto para ele como para a nação”.[8] A utilidade de um homem para servir a Deus e seu povo está intimamente relacionada com o caráter da pessoa que ele escolheu para ser sua esposa e companheira.
A respeito de Jezabel, podemos perceber o mal que esta mulher causou à vida de Acabe e ao povo de Israel. Não é difícil concluir, portanto, que a influência de uma mulher para o bem ou para o mal é comprovadamente decisiva. Por outro lado, tomando em conta que Jezabel é usada biblicamente como um tipo do “poder que causou a grande apostasia medieval”[9], deveríamos evitar uma religião sincrética que faz casamento entre cristianismo e paganismo, entre a verdade e a mentira, e promove o adultério espiritual. “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2 Coríntios 6:14-15).
Sobre o profeta Elias, devemos lembrar que nos dias de Jezabel havia em Israel centenas de falsos profetas e apenas um profeta verdadeiro. “Então, disse Elias ao povo: Só eu fiquei dos profetas do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta homens” (1 Reis 18:22). Foi a presença e atuação desse verdadeiro profeta de Deus que conteve a maré da apostasia em Israel.
Deveríamos dar mais valor aos profetas verdadeiros e seus ensinos. Para isto, temos de recorrer à Escritura para aprender a discernir entre o profeta verdadeiro e o falso, ainda mais nesta época degenerada em que os de natureza fake se multiplicam. “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração” (2 Pedro 1:19).
Jesus Cristo advertiu: “Vede que ninguém vos engane” (Mateus 24:5). “Levantar-se-ão muito falsos profetas e enganarão a muitos” (verso 11). Outra preciosa lição é que “o plano de Deus não é enviar mensageiros que lisonjeiem e adulem os pecadores”.[10] Devemos ser humildes para nos submeter a Deus e seus mensageiros. A propósito, em vez de gastar tempo com novelas, não seria fantástico buscar a Palavra de Deus e entrar em contato direto com a pura fonte da verdade?
Felipe Lemos (via Notícias Adventistas)
Referências:
[1]Biblia Del Diario Vivir. electronic ed. (Nashville: Editorial Caribe, 2000), c1996, s. 1Rs 16:31.
[2]Arno Wolfgramm, Kings (Milwaukee, Wis.: Northwestern Pub. House, 1990 (The People’s Bible), s. 115.
[3]Biblia Del Diario Vivir, s. 1Rs 16:31.
[4]Ibidem.
[5]Francis Nichol, ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed., vol. 7 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), 830.
[6]C. Mervyn Maxwell, Uma nova era segundo as profecias do apocalipse, 3ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), 94. Jacques B. Doukhan, Secretos del apocalipsis, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2002), 28.
[7]Ibidem.
[8]White, 115.
[9]Nichol, ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed., vol. 7, 830.
[10]White, 435.
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