segunda-feira, 3 de junho de 2019

Sobre as "panelinhas na igreja"

Imagine algo que não combine com a igreja cristã: "panelinha". Conforme o dicionário Aurélio, é conluio para fins pouco sérios; grupo de políticos que, no poder, procuram obter vantagens individuais; qualquer grupo muito fechado.

Somos seres sociais, necessitamos do convívio em grupo. A formação de um grupo se dá pelas afinidades, gostos, idade, condições socioeconômicas, enfim, pelo compartilhamento de algo em comum. Na igreja, como um agrupamento de pessoas, nada mais normal que haja grupos, mas o problema está quando grupos demasiadamente coesos, as "panelinhas", criam condições para exclusão de outros irmãos.

Na igreja, embora todos tenham suas particularidades e diferenças, devemos pensar como uma unidade, como Paulo exorta aos Gálatas: "Não pode haver judeu nem grego; escravo nem liberto; nem homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). 

A relação de Cristo com Sua igreja pode ser ilustrada pelo eixo e os raios de uma roda de bicicleta: quanto mais perto de Jesus estiverem, mais unidos serão os cristãos. Quando as "panelinhas" surgem na igreja, causam problemas porque não condizem com ela. A "panelinha" em si já é uma anomalia, um indicador de que Jesus não está por perto.

A cada momento, devemos convidar Jesus para estar perto de nós, de modo que Sua presença desaconselhe expressões seletivas ou sectaristas, e promova no ambiente de nosso convívio uma atmosfera afetuosa e convidativa. 

Toda atitude exclusivista destoa da atmosfera que deve reinar no ambiente da igreja. A acepção de pessoas é filha do preconceito, que “tem mais raízes do que os princípios”, de acordo com Maquiavel. Ainda existem raízes de preconceito em nossos relacionamentos. Em quase todos os níveis da igreja, há pessoas exclusivistas e preconceituosas. Por essa razão, nossa influência sobre os de fora não é tão forte quanto deveria.

Algumas pessoas são “excluídas” da música, da liderança e das atividades da igreja. O lobby das “panelinhas” é poderoso, mas sabemos que ele é fruto de orgulho e inveja. Ele inibe talentos, sufoca vocações e afugenta os que gostariam de cooperar. E o pior: essa atitude escorraça pessoas que ainda não conhecem o amor de Deus.

Ellen White advertiu: "Muitos há que olham para vocês, para ver o que a religião pode fazer por vocês." (Filhos e Filhas de Deus, MM 1956, p. 262). E diz mais: "O apóstolo exorta seus irmãos a manifestar em sua vida o poder da verdade que ele lhes apresentara. Por sua mansidão e bondade, paciência e amor, deviam exemplificar o caráter de Cristo e as bênçãos de Sua salvação. Divisões na igreja desonram a religião de Cristo ante o mundo, e dão ocasião aos inimigos da verdade para justificar seu procedimento". (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 80)

Jesus deixou belíssimos exemplos de inclusão. A mulher pecadora foi acolhida por Ele num momento extremamente delicado. Zaqueu teve a alegria de receber o Mestre em sua casa. A mulher que tinha fluxo de sangue não foi ignorada pelo Médico dos médicos. Jesus comeu com pecadores para atraí-los a Si.

Ellen White afirma que Jesus “procurava derribar as barreiras que separavam as diversas classes sociais, a fim de unir os homens como filhos de uma só família” (O Desejado de Todas as Nações, p. 150). “Não menosprezava ser humano algum, mas buscava aplicar o bálsamo de cura a toda e qualquer alma. Em qualquer companhia que estivesse, apresentava uma lição apropriada ao tempo e às circunstâncias. […] Buscava incutir esperança no mais rústico e menos prometedor dos homens, assegurando-lhes de que poderiam tornar-se irrepreensíveis e inofensivos, e adquirir caráter que deles faria filhos de Deus” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 387).

Como igreja e como indivíduos, precisamos desenvolver uma atitude mais acolhedora. “Não deve haver nenhuma parcialidade, nem hipocrisia. Não deve haver favoritos, cujos pecados sejam considerados como menos pecaminosos que os dos outros” (Evangelismo, p. 369).

Graças a Deus, cresce entre nós o número de igrejas que praticam a inclusão cristã. Já outras precisam permitir que o amor de Cristo as transforme em centros de paz, acolhimento e ternura.

Que essa transformação seja operada em mim e você, para que saibamos conviver fraternalmente com os que são “diferentes”!

"Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos" (Tiago 2:8-10)

Assista também este delicioso vídeo da jornalista, escritora, palestrante e youtuber Fabiana Bertotti sobre esse assunto:

Nenhum comentário:

Postar um comentário