A cada dia, assiste-se o violar da linha do tempo na vida das nossas crianças. Para poucos, é como uma doença que atinge os estágios dos pequenos. Para a maioria, é fato social tido como normal na sociedade pós-moderna.
A adultização, que consiste na adoção de comportamentos não condizentes com a idade da criança, viola a infância. Os estágios da infância essenciais para formação do indivíduo percorrem períodos de 0 a 2 anos, 2 a 7 anos e 7 a 12 anos. Acelerar estas fases significa gerar crianças com mentes adultas inversas às suas faixas etárias. É roubar a sua infância.
Infelizmente, vive-se um grande mal, que fatal e silenciosamente se enraíza em nossa sociedade trazendo graves consequências aos pequeninos, que se estenderão até a fase adulta. É fadado porque não se poderá jamais, em momento algum, voltar no tempo para recuperar a infância que lhes foi roubada.
Todavia, não é puramente a adultização que vem expondo as crianças. Exibi-las a conteúdos inapropriados para suas faixas etárias é também roubá-las de suas infâncias, é apresentá-las à erotização infantil.
E quando agimos de forma a adultizar uma criança?
1. Quando esperamos que ela pense, reaja e se comporte como adulto. Ex.: “Se comporte como mocinha, como um rapazinho!” (Ela não é moça e ele não é rapaz. SÃO CRIANÇAS!). “Que criança comportada, não dá trabalho nenhum, parece um adulto." É excessivamente comum observarmos pais exibindo orgulhosamente a postura precoce de seus filhos; alardeando o quanto são maduros, espertos para a idade, extremamente inteligentes e capazes de dar conta da rotina da escola que é tão exigente. É preciso cautela para não deixarmos passar desapercebido que essas expectativas além da conta podem colocar em perigo o desenvolvimento emocional dos pequenos.
2. Quando pressionamos a criança a ter resultados e quando preparamos a criança para a profissão que ela terá que exercer. Ex.: “Meu filho tem de ser médico, advogado”, “Você tem que tirar 10”, "Você tem que ganhar o campeonato”. Estimular os meninos e meninas a ter responsabilidade com suas atribuições escolares, oferecer-lhes a oportunidade de aprender uma outra língua e proporcionar-lhes a chance de praticar um esporte que favoreça a socialização e contribua para a saúde física, são comportamentos esperados de pais cujo intuito genuíno é garantir condições plenas de desenvolvimento para seus filhos. O perigo se esconde nos excessos. É muito fácil errar a mão na quantidade de atribuições sob o pretexto de preparar seus filhos para a vida.
3. Quando vestimos a criança com roupas de estilo adulto, que não são confortáveis, que não permitem a criança brincar livremente e estimulamos o uso de maquiagens, esmaltes. O doutor Durval Damiami, chefe da Endocrinologia Pediátrica do Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), afirma que “existem relatos de casos de comunidades expostas a produtos químicos nas quais houve registro de puberdade precoce. Chamamos essas substâncias de endocrine disruptors (interferentes endócrinos)”. Explicando melhor, o que está acontecendo é o seguinte: as crianças estão sendo expostas a produtos químicos, encontrados em maquiagem, xampus e loções, entre outros, que desorganizam o sistema endócrino. Pesquisas mostram que estas substâncias ativam os receptores de produção de estrógeno, o que pode provocar o desenvolvimento de mamas e o início da puberdade em meninas. “Muitas meninas começam cedo demais a usar maquiagem, batom”, diz o doutor Durval. “O estímulo visual e erógeno poderia atuar no sistema nervoso central e desencadear a puberdade precoce, mas isso não foi provado cientificamente, são ideias”. Vejam este texto de Ellen G. White: “Frequentemente os pais vestem os filhos com roupas extravagantes, com muita ostentação de ornamento e então admiram abertamente o efeito de seus trajes e os cumprimentam por sua aparência. Esses pais insensatos se encheriam de consternação se pudessem ver como Satanás lhes apoia os esforços e os impele para maiores loucuras" (Orientação da Criança, p. 434).
5. Quando damos responsabilidades incompatíveis com a infância. Ex.: “Seu pai foi embora, você agora é o homem da casa!” Quando exigimos que o irmão (criança) mais velho cuide do mais novo. Quando exigimos que uma criança realize afazeres domésticos pesados para ela. Quando lotamos a agenda da criança com várias atividades/compromissos, sem permitir que ela tenha tempo livre para brincar, inclusive tempo para o ócio saudável.
6. Quando estimulamos o consumo desenfreado. Excesso de brinquedos, de roupas, por exemplo. Assistindo muita televisão durante o dia, as crianças são massacradas pela publicidade, por valores de consumismo. E essa publicidade é covarde, explora a incapacidade da criança de distinguir fantasia de realidade, explora o amor dela por personagens e instiga nela valores como consumismo obscessivo, hipervalorização da aparência, a futilidade e coisas piores.
7. Quando desabafamos nossos problemas para nossos filhos. Eles acabam entrando em contato com sensações e situações que ainda não desenvolveram maturidade emocional para lidar. Decorrente deste peso que as crianças assumem sem estar preparadas, aparecem casos de doenças, que, antes destas mudanças culturais, eram características dos adultos, como por exemplo: colesterol, hipertensão, estresse, ansiedade, depressão, insônia, entre outras. Sendo assim, para evitar estes problemas, a criança precisa ter tempo para estudar, descansar e principalmente brincar com outras crianças.
8. Quando permitimos que as crianças tenham suas Redes Sociais, assistam programas de TV, canais do youtube não recomendados para a idade (mesmo os programas com classificação livre, selecione bem!). O impacto nas crianças da sexualidade escancarada que se vê em revistas, filmes, internet e na televisão é violento. Alguns pesquisadores defendem que as crianças têm sido expostas a estímulos sexuais e, de algum modo, isso pode levar o cérebro a desbloquear a puberdade, que passa a ocorrer mais cedo. A psicóloga Mônica Flügel Hill destaca que “os pais protegem os filhos dos perigos das ruas, deixando-os supostamente seguros em casa com a televisão e a internet fazendo o papel de babás. Esquecem, porém, que esses meios não possuem um filtro adequado e que todo o conteúdo deve ser controlado por eles”. Porém, ela faz uma ressalva interessante: “A mídia, ou seja, os meios de comunicação, não são os únicos responsáveis por essa geração de meninas moças. Seu peso é grande, sim, mas os estímulos recebidos pela TV, por exemplo, são muitas vezes reforçados por pais que não colocam limites”.
9. Quando alimentamos mal e escolhemos erroneamente os alimentos para as nossas crianças. Estamos acompanhando, assustados, o problema crescente da obesidade infantil e o papel que isso pode ter no início da puberdade. Algumas meninas acima do peso entram na puberdade mais cedo, porque o excesso de células adiposas provoca a liberação do hormônio leptina, que afeta o amadurecimento.
Tudo isto pressiona a criança a adentrar no mundo do adulto, sem que ela tenha maturidade emocional, física, cognitiva e psíquica. Os prejuízos podem ser devastadores, levando à insegurança, dificuldades e conflitos na adolescência e vida adulta.
O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preconiza que as crianças gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, e, como protagonistas sociais em evolução, carecem de atenção e extremo cuidado. Um subproduto de adulto não é uma criança, e sim, um ser humano “coisificado”. Transformá-los em adultos é cortar pela raiz de cada uma o direito de descobertas que moldarão o seu caráter e que lhes farão verdadeiros sujeitos de transformação.
Clamamos à sociedade: Não tirem de nossas crianças o direito de serem crianças, de rirem, brincarem e viverem a inocência, permitam-nas que sejam e vivam apenas como crianças. Não roubem sua infância, não violem seus estágios de vida.
Fontes: Leiliane Rocha (via instagram do Bonita Adventista) | Márcia Ebinger (via Revista Destaque) | Rogéria Santos (via PRB) | Bruna Ramos (via Portal EBC) | Ana Macarini (via Conti Outra)
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