Em algumas igrejas mais, em outras menos, nossos cultos estão se tornando cada vez mais barulhentos. Isso sem falar nos mega-eventos e congressos, onde toneladas de som sacodem os ouvintes. Os ruídos aumentaram na congregação: os adoradores conversam cada vez mais e os cantores exigem som cada vez mais amplificado. Não sei o que está acontecendo, mas gostaria de manifestar a minha preocupação sonora.
Nosso país é barulhento: motos sem escapamento, motores de ônibus desregulados, automóveis com caixas de som pesadíssimas e até a cachorrada da vizinhança. E as igrejas então, confundem decibéis com fé.
Quando vou ao templo, vou ao encontro do Criador e de meus irmãos. Sempre imagino um ambiente silencioso, aconchegante, que contribua para acalmar os achaques de minha alma. Em algumas ocasiões, entretanto, me senti obrigado a sair, ou no mínimo, a me afastar dos primeiros bancos, onde, na maioria das vezes, ficamos expostos a quilos de decibéis nada crentes.
Não é possível adorar a Deus num ambiente tumultuado, com vaivém constante de pessoas, gente falando todo o tempo, cantores embalados por bandas retumbantes e caixas de sons tonitruantes. Pode ser que eu esteja fora de moda, mas acho que precisamos nos lembrar do “aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus”. Como se acalmar num ambiente com tantas interferências?
Também não quero admitir que o templo, um lugar onde Deus Se encontra com as pessoas, seja insalubre para o nosso corpo. E não deveria ser. O livro de Ellen G. White, Conselhos Sobre Saúde, à página 28, diz que “a influência do Espírito de Deus é o melhor remédio para as doenças. O Céu é todo saúde”. Mas a Organização Mundial de Saúde afirma que, dependendo do tempo de exposição, o limite de decibéis que faz mal à saúde é 65. Um liquidificador produz 85 decibéis.
Ruído excessivo aumenta a adrenalina e a pressão arterial, estimula o estresse e a insônia. O excesso de ruído já levou cerca de 10 milhões de cidadãos americanos à perda da audição ou parte dela. Aqui no Brasil não temos estatísticas, mas o barulho e o ouvido deles não devem ser diferentes dos nossos. Gente surda e com zumbido no ouvido, eu conheço muita.
Em relação aos frequentadores dos cultos, os efeitos psicológicos do excesso de ruído são preocupantes. Os especialistas falam em perda de concentração (imprescindível num culto racional), irritação permanente, perda da inteligibilidade das palavras, dor de cabeça, fadiga, zumbido no ouvido e loucura. O excesso de ruído provoca interferências no metabolismo de todo o organismo, com risco de perda auditiva irreversível. A partir de 85 decibéis, não importa se o som é agradável ou não, se é produzido por música rock ou sacra, ele é, de qualquer modo, prejudicial ao corpo e em especial à audição. Devemos também nos lembrar dos vizinhos de nossas igrejas. Por que os imóveis próximos aos templos, em geral, têm baixa cotação no mercado imobiliário?
Um aspecto importante a destacar: aumentar o volume dos instrumentos musicais não vai aumentar o espírito de louvor da congregação. Como já sabemos, a igreja não vai tentar cantar mais forte que o som da banda (ou do playback), não importa quantas vezes o líder de louvor repita: “Cantem com todo entusiasmo!” Então, tudo o que teremos é música tocada em volume alto.
Nós, músicos e cantores, queremos que a igreja participe do louvor, que se envolva no canto. No entanto, pegamos cinco instrumentistas e dez cantores, por exemplo, todos com microfone, todos amplificados nas caixas de som, e depois reclamamos que a igreja continua sem cantar. Um problema pode estar no espírito de louvor que o indivíduo traz para o culto. Mas você já parou para pensar que uma boa razão para a igreja não cantar conosco pode estar no volume das vozes e da banda?
Acho muito bonito quando um grupo de pessoas canta o louvor a três ou quatro vozes. Mas, e a voz da congregação? Muitas vezes a voz da igreja é ouvida apenas na última estrofe ou no último refrão.
Com base em uma carta de Ellen White, alguns defendem que o louvor deve sempre ser dirigido por um grupo de cantores. Um dos parágrafos diz: “Escolha-se um grupo de pessoas para tomar parte no serviço do canto” (Carta 170, de 1902). Particularmente, acho uma ótima ideia envolver mais pessoas e tornar o momento de louvor congregacional mais harmonioso e bem realizado. No entanto, na época dessa carta, não havia caixas amplificadas, sistemas de som estéreo nem microfones para os cantores. Mal havia hinários disponíveis para todos. Então, um grupo de pessoas, de bons cantores, parecia bem adequado para conduzir todos no canto.
A participação de um grupo de pessoas no louvor congregacional não é indesejável. O problema está no alto volume dos microfones, o que faz com que seja difícil escutar a voz da congregação. Às vezes, a pessoa não consegue escutar a própria voz. Isso inibe a participação da igreja que, em vez de participar, passa a assistir ao louvor.
Como podemos equalizar a participação de músicos, cantores e membros da congregação? Seguem algumas dicas:
1. Não intensifique demais o volume dos instrumentos. Cada instrumento musical possui sua identidade sonora e é preciso equilibrar as bases rítmica e harmônica de modo a não sufocar as vozes nem os instrumentos que dão o “chão” da tonalidade e da harmonia, como o violão e o piano.
2. Evite solos durante as frases cantadas pela congregação. Não importa se você está tocando piano, guitarra ou saxofone. Estude a música que você vai acompanhar e selecione alguns trechos para reforçar a melodia e outros em que você possa fazer um contracanto à melodia, como as partes entre as frases cantadas.
3. Nossa equipe de louvor não está à frente da igreja para cantar mais alto que todos, nem para mostrar como se deve louvar, mas para apoiar, orientar e conduzir as vozes da congregação. No final da carta que citamos acima, Ellen G. White disse: “Nem sempre o canto deve ser feito apenas por alguns. Permita-se o quanto possível que toda a congregação dele participe”.
Somos chamados a cantar e tocar de todo o coração e de todo o entendimento, e não de todo volume. Vamos organizar, apoiar e orientar os momentos de louvor para que a igreja se sinta confortável e estimulada a participar também de todo coração e entendimento. Não nos esqueçamos de que o louvor é congregacional.
Finalizo com mais alguns conselhos de Ellen G. White:
“Pensam alguns que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é música. O bom canto é como a música dos pássaros – suave e melodioso.” (Manuscrito 91, 1903)
“Mas às vezes é mais difícil disciplinar os cantores e mantê-los em forma ordeira, do que desenvolver hábitos de oração e exortação. Muitos querem fazer as coisas à sua maneira. Não concordam com deliberações, e são impacientes sob a liderança de alguém. No serviço de Deus se requerem planos bem amadurecidos. O bom senso é coisa excelente no culto do Senhor.” (Evangelismo, p. 505)
“Tenho ouvido em algumas de nossas igrejas solos que eram de todo inadequados ao culto da casa do Senhor. As notas longamente puxadas e os sons peculiares, comuns no canto de óperas, não agradam aos anjos.” (Evangelismo, p. 510)
“A música forma uma parte do culto de Deus nas cortes do alto. Devemos esforçar-nos em nossos cânticos de louvor, por aproximar-nos o mais possível da harmonia dos coros celeste. Tenho ficado muitas vezes penalizada ao ouvir vozes não educadas, elevadas ao máximo diapasão, guinchando positivamente as palavras sagradas de algum hino de louvor. Quão impróprias essas vozes agudas, estridentes, para o solene e jubiloso culto de Deus! Desejo tapar os ouvidos, ou fugir do lugar, e regozijo-me ao findar o penoso exercício. Os que fazem do canto uma parte do culto divino, devem escolher hinos com música apropriada para a ocasião, não notas de funeral, porém melodias alegres, e todavia solenes. A voz pode e deve ser modulada, suavizada e dominada.” (Evangelismo, pp. 507 e 508)
“Quanto mais perto puder chegar o povo de Deus do canto correto, harmonioso, tanto mais Ele será glorificado, a igreja beneficiada e os descrentes impressionados favoravelmente.” (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 46)
"Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção.” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 36)
“Qualquer coisa estranha e excêntrica no canto diminui a seriedade e o caráter sagrado do culto.” (Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 332)
[Com informações de Música e Adoração e Revista Adventista]
Nenhum comentário:
Postar um comentário