“Crise”. Com que frequência você tem ouvido essa palavra? Uma simples busca do termo no Google revela que, dos mais de 100 milhões de ocorrências, uma quantidade significativa se refere ao momento atual que o Brasil e o mundo enfrentam.
De fato, vivemos dias difíceis. Nem é preciso acompanhar os noticiários para perceber isso. Basta olhar ao redor. Em casa, na rua, no comércio e nas rodas de amigos, o clima é de apreensão e, nas igrejas, os pedidos desesperados de oração se avolumam. E não é somente a crise do coronavírus, a crise política e econômica que têm causado tanto transtorno. Paralelamente, continuamos convivendo com outras antigas conhecidas, como a crise na educação e na segurança públicas; a crise moral da sociedade; e ainda outras de caráter mais pessoal, como crises familiares, psicológicas e emocionais. Em resumo, vivemos em crise!
Definição
Crise é sinônimo de dificuldade, adversidade, tensão, complicação, conflito, etc. A palavra praticamente não aparece na Bíblia, mas o conceito está presente do começo ao fim. Desde a rebelião de Lúcifer no Céu e a queda da humanidade no Éden (Ap 12:7-9; Gn 1-3), passando por toda a história do grande conflito e a cruz, até a vitória final de Deus sobre o pecado e o mal (Ap 19-22), as Escrituras apresentam os altos e baixos de um mundo em constante crise. Além do conceito, a Bíblia também contém a etimologia da palavra. “Crise” deriva do vocábulo grego krisis, que ocorre oito vezes no texto original do Novo Testamento, sempre com o sentido de juízo, julgamento ou decisão.
Nos escritos de Ellen G. White, o termo crisis, em inglês, aparece cerca de 50 vezes e é utilizado para definir diferentes situações, desde problemas circunstanciais na vida pessoal até momentos decisivos da história da redenção. Alguns exemplos do que Ellen White considerava crise:
- A luta e a agonia de Cristo no Getsêmani diante do fato de que estava em jogo o futuro da humanidade (O Desejado de Todas as Nações, p. 693).
- Os desafios enfrentados pela igreja primitiva em seu período formativo (Atos dos Apóstolos, p. 88, 405).
- Os momentos difíceis através dos quais Deus conduziu, conduz e conduzirá sua igreja (Review and Herald, 20 de setembro de 1892).
- O tempo atual, na iminência do fechamento da porta da graça, em que é urgente advertir as pessoas (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 371).
- Os acontecimentos finais da história; o tempo de angústia; a futura perseguição do povo de Deus e a última batalha entre as forças do bem e do mal (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 318-320; v. 3, p. 280; Profetas e Reis, p. 536).
- Lutas pessoais; provações e problemas em geral (Carta 47, 1889; Carta 70, 1894; Ciência do Bom Viver, p. 119).
- Crises financeiras (Conselhos Sobre Mordomia, p. 97).
Às vezes parece que não importa em que direção se olhe, nós nos encontramos diante de uma situação de crise! Em tempos como estes, é encorajador lembrar que o povo de Deus, já enfrentou muitas situações de crise. A Bíblia registra muitas dessas situações enfrentadas pelo povo de Deus no passado. Melhor de tudo, ela relata as coisas notáveis que Deus fez para o Seu povo nos dias de crise.
Ela também nos diz que estas situações foram registradas com um propósito, “Pois tudo que outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Romanos 15:4 ).
As Sagradas Escrituras dão testemunho eloquente do fato de que Deus nunca abandona o seu povo na mão em momentos de crise!
Antes do Mar Vermelho
Em Êxodo 14, encontramos o povo de Deus diante de uma grande crise. Eles foram milagrosamente libertados depois de gerações de escravidão. Agora, em sua jornada rumo à terra que Deus prometeu dar-lhes como herança, encontram-se bloqueados pelo Mar Vermelho. Enquanto eles estão pensando como vão atravessá-lo, eles ouvem atrás de si um grande tumulto.
Virando-se, eles descobrem para sua consternação que as hordas do exército egípcio está descendo sobre eles.
A sua destruição é iminente. Eles não podem ir para a frente, o Mar Vermelho estende-se diante deles. Eles não podem voltar atrás, o exército egípcio está avançando rapidamente na direção deles. Não há salvação para a direita ou para a esquerda. Sua única esperança de salvação vem de cima.
No momento de sua aflição, Moisés se dirige a eles com as heroicas palavras, “Não temais. Estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará. Aos egípcios que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vós vos calarei” (Êxodo 14:13-14).
Estas são palavras para os dias de crise. A aflição do Povo é a oportunidade de Deus. A Crise dá a Deus a Sua oportunidade de agir! O poder de Deus nunca é mais gloriosamente revelado que no contexto de crise.
Quando Golias Desafiou à Deus
Outra situação de crise a partir da qual podemos ganhar forças é registrada em 1 Samuel 17. Desta vez, não são os egípcios, mas os filisteus que estão ameaçando o povo de Deus. O campeão do inimigo é um gigante de 2,7 metros! Dia após dia, ele desfila diante do exército de Israel, desafiando-os a enviar alguém para lutar com ele e desafiando o Deus de Israel. “Quando os israelitas viram aquele homem,fugiram de diante dele, e temeram grandemente” (1 Samuel 17:24).
Agora, Deus nem sempre utiliza métodos espetaculares para enfrentar uma crise. Ele não manda outro Golias, que fosse maior e mais forte, para enfrentar Golias. Ao contrário, Deus escolheu um rapaz da fazenda. Davi saiu para enfrentar o gigante com sua funda de pastor e cinco pequenos seixos selecionados de um riacho e, com um arsenal tão simples, conquistou a vitória.
Como o exército de Israel, quando chegarmos ao fim dos nossos recursos humanos, Deus permanece. Há Golias estrangeiros no mundo hoje que estão desafiando o Deus do céu! Eles fariam bem em lembrar que o Deus de Davi, ainda hoje é Deus, e Ele tem meios e formas de realizar seu propósito, através dos meios mais discretos e também de formas surpreendentes e inesperadas.
As Forças Invisíveis de Deus
Outra crise é registrada em 2 Reis 6. Desta vez, os sírios estão ameaçando o povo de Deus. A Bíblia diz que “quando o moço do homem de Deus se levantou muito cedo, e saiu, viu que um exército com cavalos e carros tinha cercado a cidade. Então o seu moço lhe perguntou: Ai, meu senhor, o que faremos?” (2 Reis 6:15).
A resposta de Eliseu ao seu preocupado servo faz uma boa leitura para os tempos de crise: “Não tenha medo”, respondeu o profeta. “Mais são os que estão conosco do que os que estão com eles” E Eliseu orou, “Ó Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja”. Então o Senhor abriu os olhos do servo, e ele olhou e viu as colinas cheias de cavalos e carros de fogo em redor de Eliseu” (2 Reis 6:16-17).
É tão fácil para nós esquecermos isso. É tão fácil para nós focalizarmos nossa atenção sobre as forças do mal que parecem prontas para varrer tudo à sua frente e erradicar o próprio nome de Deus da face da terra. Pensamos com desânimo que um terço dos anjos do céu que seguiram Satanás em sua rebelião contra Deus estão empenhados em nossa destruição (ver Apocalipse 12:4, 7-9), e esquecemos os dois terços dos anjos que permaneceram fiéis a Deus. E isso significa que as forças do mal estão em desvantagem por 2-1! Nunca esqueçamos isso. Muitas vezes ouvimos dizer que o diabo está fazendo hora extra.
E certamente ele está. Mas não nos esqueçamos de que as forças do lado de Deus estão a trabalhar horas extraordinárias, também. Enquanto as forças do mal estão dedicadas a nossa destruição, lembre-se que as forças da justiça estão dedicadas a nossa salvação.
Cristo na Fornalha
Vamos considerar a situação de crise enfrentada por três homens de Deus, vivendo como cativos na Babilônia. Nabucodonosor, rei da Babilônia, uma das maiores potências da história, ergueu uma imagem enorme na planície de Dura e mandou todos os seus súditos reunirem-se para à consagração da estátua. Três dos súditos do rei se recusaram a obedecer seus comandos.
Eles não estavam preparados para adorar qualquer homem; sua fidelidade era somente a Deus.
Em fúria, o rei ordenou que as três jovens rebeldes fossem jogados em uma fornalha e a sua réplica foi insolente, “…quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Daniel 3:15).
Os personagens centrais desta história, no entanto, não são nem Nabucodonosor nem os três não-conformistas, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. O personagem central da história é posto em foco pelas chamas: “Então o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Eles responderam: Certamente, ó rei. Disse ele: Eu, porém,vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano, e o aspecto do quarto é semelhante ao filho dos deuses” (Daniel 3:24-25).
O Cristo da crise tinha chegado, e estava com os Seus servos, em meio às chamas! E ele está com seus servos em meio às chamas de hoje. E Ele estará com os Seus servos em meio às chamas de amanhã. Ele continua com os seus servos em meio ao fogo até o fim dos tempos.
A Tempestade na Galileia
Jesus e seus discípulos estavam atravessando o Mar da Galileia, num pequeno barco quando uma terrível tempestade desceu sobre eles. “Levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que já estava a encher-se. E Jesus estava na popa, dormindo sobre uma almofada. Os discípulos o despertaram dizendo: Mestre, não se te dá que pereçamos? Ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: cala-te, aquieta-te. Então o vento se aquietou, e houve grande bonança. Ele disse aos discípulos: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? Eles sentiram grande temor, e diziam uns aos outros: Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Marcos 4:37-41).
Há momentos na vida de todos nós quando sentimos nosso coração gritando dentro de nós, “Não te importa que pereçamos? Senhor, por que você não faz alguma coisa?”
Nós todos experimentamos isto, às vezes, em ambas as crises pessoais e corporativas.
Esta história foi registrada na Bíblia, para que você e eu pudéssemos saber que nas tempestades da vida existe Aquele que é maior do que a tempestade. O vento e as ondas ainda o obedecem. E quando Ele se levanta e ordena: “Silêncio! Não se mexa!” os ventos cessam e ainda há calma completa.
Para nós que vivemos em tempos de crise, Jesus diz: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus, serei exaltado entre as nações, serei exaltado sobre a terra” (Salmo 46:10).
Tenha bom ânimo. Cristo ainda é o Cristo das crises. E o Cristo das crises está com você…
Textos extraídos de Sétimo Dia e Revista Adventista
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