Fogo estranho é a expressão bíblica utilizada para indicar o tipo de fogo trazido por dois sacerdotes e que foi rejeitado pelo Senhor (Levítico 10:1-3). A Bíblia diz que Nadabe e Abiú trouxeram fogo estranho diante de Deus e acabaram sendo consumidos.
Os intérpretes se dividem quanto a melhor interpretação da expressão “fogo estranho”. De fato o texto bíblico não revela explicitamente seu significado. Aqui vale ressaltar que as duas pessoas envolvidas naquele episódio, Nadabe e Abiú, tinham sido instruídas por Deus acerca de como proceder na ministração dos cerimoniais que faziam parte do culto no Tabernáculo.
Levítico 10 fala sobre como os dois sacerdotes se colocaram diante de Deus para lhe oferecer incenso. Porém, Deus não se agradou do que aqueles homens fizeram, e identificou aquilo como “fogo estranho”, algo que o Senhor não lhes tinha ordenado.
O significado do fogo estranho diante de Deus
Com base em todo esse contexto, algumas possibilidades são apresentadas quanto o melhor significado do que seria o “fogo estranho” apresentado pelos filhos de Arão. Vejamos:
Em primeiro lugar, a expressão “fogo estranho” pode se referir ao modo ilícito que os dois sacerdotes apresentaram o incenso a Deus. Talvez eles não tivessem observado a ordenança divina que regulamentava aquele procedimento.
Deus havia prescrito o tipo de incenso correto que deveria ser oferecido, e proibido qualquer tipo de “incenso estranho”. Deus também havia indicado como o incenso deveria ser ascendido e queimado (cf. Êxodo 30:37). O incenso deveria ser queimado continuamente, de manhã e de tarde. As brasas para ascender o incenso deveriam vir do próprio altar (cf. Levítico 16:12,13).
Então Nadabe e Abiú podem ter utilizado incenso errado, ou mesmo usado incensários inadequados; ou ainda ascendido os incensários com brasas de fogo de outra fonte, e não do altar. Nesse último caso, os dois sacerdotes teriam literalmente trazido fogo estranho diante de Deus.
"No pátio da tenda da consagração, havia fornos onde os sacerdotes preparavam sua comida, e pode ser que Nadabe e Abiú tomaram o fogo desse lugar" (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 1, p. 809).
Ellen G. White afirma: "Os filhos de Arão tomaram fogo comum, o qual Deus não aceitava, e insultaram ao infinito Deus, apresentando fogo estranho diante dele" (No Deserto da Tentação, p. 97).
Em segundo lugar, os dois filhos de Arão podem ter adotado uma prática que não havia sido prescrita. Talvez eles tivessem tentado executar certo cerimonial num momento inadequado, ou trazido uma oferta que não havia sido ordenada por Deus. Ainda nesse sentido, também existe a possibilidade de os dois sacerdotes terem se apropriado de funções que não lhes cabiam. Alguns intérpretes sugerem que eles acabaram usurpando uma função que era exclusiva do sumo sacerdote, e talvez tentaram até entrar no Santo dos Santos.
"Entrar no Santo dos Santos sem a aprovação divina poderia levar à morte. O mesmo fogo divino que consumira o sacrifício inaugural, provendo expiação para o povo, consome agora aqueles que se aproximaram do altar divino de maneira desautorizada. Assim, a mesma ira divina contra o pecado, que caiu sobre Cristo no Seu sacrifício vicário pelo Seu povo, cairá sobre aqueles que rejeitarem esse sacrifício e, mesmo assim, tentarem se aproximar de Deus com seus pecados" (Bíblia de Genebra).
Em terceiro lugar, muitos estudiosos relacionam o fogo estranho trazido por Nadabe e Abiú com a exortação acerca da embriaguez na sequência do mesmo texto (Levítico 10:8-11). Então pode ser que os dois homens tenham entrado diante da presença do Senhor embriagados.
"Vinho e bebida forte podem entorpecer as faculdades de modo que a pessoa perca a clara distinção entre o certo e o errado, entre o santo e profano e entre o puro e o impuro. … naquela condição, eles não viam qualquer diferença. Fogo era fogo, não era? Deus, porém, examinou o coração dos dois e viu o que ninguém podia ver. Havia uma diferença. De modo semelhante, o primeiro dia da semana é tão bom quanto o sétimo dia, pelo raciocínio humano – exceto pela ordem de Deus; e isso faz uma diferença vital, a diferença entre a vida e a morte" (CBASD, vol. 1, p. 810).
Independentemente do que a expressão “fogo estranho” possa significar literalmente naquele contexto, fica evidente que a ideia principal transmitida por ela indica uma profanação do culto ao Senhor.
O fogo do Senhor os consumiu
Deus não tolerou o pecado de Nadabe e Abiú. O texto bíblico diz que “saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor” (Levítico 10:2). Isso está de acordo com o padrão de santidade e justiça de Deus. Frequentemente o Antigo Testamento exorta que ninguém pode se aproximar de Deus inadequadamente.
Aqueles dois sacerdotes brincaram com a santidade de Deus e trouxeram diante dele fogo estranho. Por isso Deus falou através de Moisés: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo” (Levítico 10:3).
“A afirmação à qual Moisés se refere é provavelmente a de Êxodo 19:22: 'Os sacerdotes, que se chegam ao Senhor, se hão de consagrar, para que o Senhor não os fira.' Aparentemente os filhos de Arão não haviam se consagrado. A consagração ao sacerdócio não havia operado mudança no coração deles; eles eram apenas pessoas 'comuns'. A disposição flexível e indulgente de Arão estava na raiz do problema. Sua consciência deve tê-lo perturbado ao pensar em sua fraqueza alguns meses antes [no episódio do bezerro de ouro]. Deus o havia perdoado verdadeiramente e aceitara sua oferta pelo pecado; mas os resultados de sua fraqueza não foram evitados pelo arrependimento. Ele se acomodou" (CBASD, vol. 1, p. 809).
Aqui há uma verdade que muita gente tenta ignorar. Deus é glorificado tanto na execução de sua graça quanto de sua justiça. Ele é glorificado através da adoração sincera e genuína de seu povo, mas também é glorificado ao derramar de sua justiça sobre aqueles que entram em sua presença trazendo “fogo estranho”. O final de todas as coisas é a glória de Deus.
O caso dos filhos de Arão serve como um exemplo que não jamais deve ser esquecido. É ainda mais impressionante quando comparamos os capítulos 9 e 10 de Levítico. Levítico 9 registra como o fogo da parte do Senhor consumiu o sacrifício inaugural, e o pecado do povo foi expiado. No capítulo seguinte, esse mesmo fogo divino consumiu aqueles homens que ousaram de aproximar de Deus de uma forma inadequada.
Esse mesmo princípio acerca da santidade de Deus permanece imutável no Novo Testamento (cf. Atos 5:1-10; 1 Coríntios 11:29,30). O escritor de Hebreus faz uma citação do livro de Deuteronômio ao escrever: “Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12:29). Ninguém pode se aproximar de Deus por suas próprias obras ou méritos. A única forma de alguém se aproximar de Deus de modo aceitável é através dos méritos de Cristo; qualquer outra coisa será fogo estranho diante do Senhor.
Ellen G. White declara: "Para o pecado, onde quer que se encontre, 'nosso Deus é um fogo consumidor'. O Espírito de Deus consumirá pecado em todos quantos se submeterem a Seu poder. Se os homens, porém, se apegarem ao pecado, ficarão com ele identificados. Então a glória de Deus, que destrói o pecado, tem que destruí-los" (Eventos Finais, p. 279).
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