Imagine algo que não combine com a igreja cristã: "panelinha". Conforme o dicionário Aurélio, "é conluio para fins pouco sérios; grupo de políticos que, no poder, procuram obter vantagens individuais; qualquer grupo muito fechado."
Somos seres sociais, necessitamos do convívio em grupo. A formação de um grupo se dá pelas afinidades, gostos, idade, condições socioeconômicas, enfim, pelo compartilhamento de algo em comum. Na igreja, como um agrupamento de pessoas, nada mais normal que haja grupos, mas o problema está quando grupos demasiadamente coesos, as "panelinhas", criam condições para exclusão de outros irmãos.
Na igreja, embora todos tenham suas particularidades e diferenças, devemos pensar como uma unidade, como Paulo exorta aos Gálatas: "Não pode haver judeu nem grego; escravo nem liberto; nem homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
A relação de Cristo com Sua igreja pode ser ilustrada pelo eixo e os raios de uma roda de bicicleta: quanto mais perto de Jesus estiverem, mais unidos serão os cristãos. Quando as "panelinhas" surgem na igreja, causam problemas porque não condizem com ela. A "panelinha" em si já é uma anomalia, um indicador de que Jesus não está por perto. A cada momento, devemos convidar Jesus para estar perto de nós, de modo que Sua presença desaconselhe expressões seletivas ou sectaristas, e promova no ambiente de nosso convívio uma atmosfera afetuosa e convidativa.
Dentro da igreja, a presença de panelinhas pode ser espiritualmente devastadora para novos membros e especialmente para crentes mais fracos. Tiago 2:1 diz: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.” Esse favoritismo pode ser devido à situação financeira, popularidade, aparência, estilo de vida ou história pessoal. Os crentes devem estar cientes da tendência ao favoritismo e reprimi-lo sempre que o virmos em nós mesmos. Quando reconhecemos nossos preconceitos diante de Deus, demos o primeiro passo para superá-los. Não podemos mudar o que não reconhecemos.
Toda atitude exclusivista destoa da atmosfera que deve reinar no ambiente da igreja. A acepção de pessoas é filha do preconceito, que “tem mais raízes do que os princípios”, de acordo com Maquiavel. Em quase todos os níveis da igreja existem pessoas exclusivistas e preconceituosas. Por essa razão, nossa influência sobre os de fora não é tão forte quanto deveria. Ellen White adverte: "Muitos há que olham para vocês, para ver o que a religião pode fazer por vocês" (Filhos e Filhas de Deus, MM 1956, p. 262). E diz mais: "O apóstolo exorta seus irmãos a manifestar em sua vida o poder da verdade que ele lhes apresentara. Por sua mansidão e bondade, paciência e amor, deviam exemplificar o caráter de Cristo e as bênçãos de Sua salvação. Divisões na igreja desonram a religião de Cristo ante o mundo, e dão ocasião aos inimigos da verdade para justificar seu procedimento" (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 80).
Jesus deixou belíssimos exemplos de inclusão. A mulher pecadora foi acolhida por Ele num momento extremamente delicado. Zaqueu teve a alegria de receber o Mestre em sua casa. A mulher que tinha fluxo de sangue não foi ignorada pelo Médico dos médicos. Jesus comeu com pecadores para atraí-los a Si. Ellen White afirma que Jesus “procurava derribar as barreiras que separavam as diversas classes sociais, a fim de unir os homens como filhos de uma só família” (O Desejado de Todas as Nações, p. 150). “Não menosprezava ser humano algum, mas buscava aplicar o bálsamo de cura a toda e qualquer alma. Em qualquer companhia que estivesse, apresentava uma lição apropriada ao tempo e às circunstâncias. […] Buscava incutir esperança no mais rústico e menos prometedor dos homens, assegurando-lhes de que poderiam tornar-se irrepreensíveis e inofensivos, e adquirir caráter que deles faria filhos de Deus” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 387).
Algumas pessoas são “excluídas” da música, da liderança e das atividades da igreja. O lobby das “panelinhas” é poderoso, mas sabemos que ele é fruto de orgulho e inveja. Ele inibe talentos, sufoca vocações e afugenta os que gostariam de cooperar. E o pior: essa atitude escorraça pessoas que ainda não conhecem o amor de Deus. Não podemos, de forma alguma, deixar este tipo de atitude e pensamento dominar nossa igreja. Veja o que a Palavra de Deus nos diz sobre isso:
“Entretanto, quando vocês seguirem suas próprias inclinações erradas, suas vidas produzirão os seguintes maus resultados: pensamentos impuros; ansiedade pelo prazer carnal; idolatria, feitiçaria; ódio e luta; ciúme e ira; esforço constante para conseguir o melhor para si próprio; queixas e críticas; o sentimento de que todo mundo está errado, menos aqueles que são do seu próprio grupinho; e haverá falsa doutrina, inveja, assassinato, embriaguez, divisões ferozes e toda essa espécie de coisas. Vou dizer-lhes novamente como já o fiz antes, que todo aquele que levar esse tipo de vida não herdará o reino de Deus" (Gálatas 5:19-21 - Bíblia Viva).
Que possamos sempre agregar e nunca segregar. Claro, sempre tendo a Bíblia como regra de fé e conduta para com todos e para todas as ocasiões e situações.
Assista também este delicioso vídeo da jornalista, escritora, palestrante e youtuber Fabiana Bertotti sobre esse assunto:
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