Igrejas cristãs tiveram um boom silencioso nas últimas décadas no Japão, um arquipélago historicamente budista e xintoísta — as duas religiões abrangem mais de 90% da população. Proibido entre 1614 e 1873, o cristianismo conta com cerca de 1,9 milhões de fiéis hoje, o que representa apenas 1,1% da população do país.
Segundo o Shukyo Nenkan de 2019, o relatório religioso anual da Agência de Assuntos Culturais do país, há 84 mil organizações xintoístas (46,9%), 77 mil budistas (42,6%) e 4,7 mil cristãs (2,6%) ativas. Também há 14 mil organizações de outras religiões (7,9%), não identificadas nominalmente. Tampouco há distinções entre igrejas cristãs católicas e evangélicas.
Na década de 1990, os primeiros dekasseguis brasileiros eram majoritariamente católicos não-praticantes. Instalados no arquipélago, eles não se aproximaram das maiores religiões japonesas (budismo e xintoísmo) por não dominarem o idioma, entre outros motivos. Paulatinamente, porém, eles se converteram a igrejas evangélicas brasileiras que iniciaram missões no país.
O pastor paulistano Guenji Imayuki, 52 anos, também lembra a frase do Evangelho de Mateus ao justificar suas motivações missionárias. Imayuki trabalhou durante 7 anos com descendentes de japoneses no Brasil.
Em 2017 foi inaugurado o Centro Cristão Tokai, em Kakegawa (Shizuoka), em um antigo ponto de entretenimento e karaokê. Ali, Imayuki pretende treinar imigrantes brasileiros para evangelizar japoneses.
"É a expectativa, mas a realidade é mais difícil do que nós imaginamos", relata. "Toda igreja que tem mais de 30% de imigrantes é difícil, pois dificilmente os nativos vão aderir. Primeiro, precisamos alcançar e treinar os imigrantes brasileiros. Depois, a partir deles, pretendemos alcançar os japoneses." Nos encontros aos sábados, a unidade de Kakegawa reúne cerca de 80 participantes; entre eles, apenas 2 japoneses.
Com seu primeiro templo no Brasil fundado em 1896, a Igreja Adventista é bastante estruturada e, no Japão, inclui instituições como dez escolas elementares, asilos, cursos de enfermagem e teologia, hospitais em Tóquio, Kobe e Okinawa.
"Nossa filosofia não é só o Evangelho, é o estilo de vida", comenta.
Igrejas japonesas são vistas como sombrias e sérias, enquanto igrejas internacionais são consideradas mais amigáveis. No treinamento, diz Imayuki, a ideia é enfatizar a assertividade e a expressividade brasileiras, mas equilibrando-as com a cultura japonesa, mais reservada.
Segundo o pastor, há dois focos principais dos adventistas antes de conquistar os japoneses: despertar o interesse de jovens brasileiros e de outros estrangeiros asiáticos presentes no arquipélago, como filipinos, nepaleses e vietnamitas. "É preciso trabalhar a mentalidade desses jovens: eles precisam conhecer a cultura japonesa, mas manter a identidade deles. É difícil professar a fé nesse país. É um longo caminho."
Com informações da BBC News Brasil
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