sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

ESPÍRITO DE COMPETIÇÃO

Quando ouvimos a palavra “competição”, muitas vezes pensamos nas modalidades esportivas disputadas em ginásios ou estádios. Embora esse seja o exemplo mais comum, devemos dar um passo atrás para visualizar o quadro mais amplo. Ao fazer isso, não estamos sozinhos.


Ellen White abordou a questão da rivalidade nas quadras e campos. No contexto das corridas de bicicleta que invadiram a cidade de Battle Creek, Michigan (EUA), em sua época, ela comentou que havia um espírito de discórdia e disputa tal qual nos jogos com bola. Para ela, essa rivalidade era “uma ofensa a Deus” (Carta 23b, 1894).

No entanto, Ellen White escreveu com mais frequência a respeito de competição no contexto mais amplo da vida, indo muito além dos jogos esportivos. Várias vezes ela descreveu a competição como a luta humana pela supremacia e usou as palavras “concorrência” e “rivalidade” de maneira indissociável.

EXEMPLOS BÍBLICOS
Frequentemente a pioneira adventista citava as Escrituras quando falava sobre competição. Ela declarou que o desejo de exaltação própria de Lúcifer (Is 14:12) havia gerado conflito no Céu (O Desejado de Todas as Nações, p. 435). E observou que o espírito de rivalidade entre Jacó e Esaú (Gn 25:29-34; 27) resultou em engano e nos posteriores desentendimentos entre as irmãs Lia e Raquel, trazendo amargura para o lar de Jacó (Patriarcas e Profetas, p. 189 e 190).

A mensageira do Senhor também escreveu que Salomão se iludiu com a ideia de que era a imponência dos edifícios que dignificava “a obra de Deus”. Segundo ela, o rei de Israel quis seguir os padrões da época dele e competir com outras nações (Review and Herald, 18 de janeiro de 1906).

Cristo também enfrentou o espírito de rivalidade entre Seus discípulos, quando discutiram sobre quem seria o maior (Mt 18). O Mestre Se esforçou para mostrar para eles que a lógica da supremacia era comum nas sociedades daquele tempo, mas que o reino de Deus é diferente (Mc 10:35-45), pois se pauta pela disposição para o serviço (O Desejado de Todas as Nações, p. 432).

Em outro lugar, Ellen White fez referência à metáfora de Paulo, que comparou as corridas do 1º século com a vida cristã (1Co 9:24-27). O apóstolo apelou para que seus leitores seguissem o exemplo de compromisso e disciplina dos competidores, mas ressaltou que, na “corrida celestial”, a conquista de um não prejudica a dos outros; todos podem ganhar. É verdade também que há uma competição cósmica, na qual todos desempenhamos uma parte; porém, nossa luta não é contra outros seres humanos (Ef 6:12), e sim contra forças espirituais. Não é sem razão que uma das estratégias de Satanás no grande conflito entre o bem e o mal é “alimentar o espírito de rivalidade” (Review and Herald, 6 de agosto de 1901).

PERIGO NA ORGANIZAÇÃO ADVENTISTA
Ellen White abordou a competição e a rivalidade em vários contextos. Quando alguns membros de igreja começaram um hospital em Boulder, no Colorado (EUA), para competir com uma instituição que já estava estabelecida ali, ela declarou que aquelas pessoas estavam “fazendo a obra de Satanás” (Carta 262, 1907). 
 
Em outra ocasião, a pioneira disse que estava “doente, aflita e decepcionada” porque duas editoras estavam competindo entre seus periódicos e sobre quem publicava mais ilustrações em seus materiais (Manuscrito 2, 1902). Em seu livro Medicina e Salvação, Ellen White advertiu que as instituições da igreja não deveriam competir com instituições não denominacionais, fosse em “tamanho ou suntuosidade” (p. 158). 
 
RELACIONAMENTOS
Não era apenas a rivalidade institucional que a preocupava, mas a competição entre as pessoas. Para ela, conforme afirmou numa reunião em Oakland, na Califórnia (EUA), não deveria existir nenhuma “partícula de rivalidade” entre os funcionários da igreja (Carta 53, 1887).
 
Membros em geral também foram orientados pela profetisa nessa direção. Alguns adventistas estavam sendo muito competitivos nos negócios, mostrando interesse apenas no lucro e desonrando o testemunho que se espera do “povo peculiarmente leal a Deus” (Manuscrito 41, 1901). No âmbito familiar, ela também tinha suas preocupações: “O pecado de muitos pais é competir nas questões de vestuário e ostentação com seus vizinhos e membros da igreja” (Manuscrito 12, 1898). 
 
Segundo Ellen White, cultivar o espírito de competição resulta em desunião, conflito, desconfiança e ciúme. Na visão dela, a rivalidade era a maior fraqueza das igrejas (Carta 136, 1900), pois afetava a espiritualidade e o testemunho de todos aqueles que se envolviam com esse sentimento (Manuscrito 139, 1899; Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 173). 
 
Tragicamente, quando há rivalidade, o Espírito Santo Se entristece, os anjos ministradores são afastados e o propósito de Deus é frustrado (Review and Herald, 6 de agosto de 1901). Por outro lado, a unidade desencadearia as bênçãos divinas (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 175). 
 
O MELHOR JEITO DE VIVER
Ainda que Ellen White tenha tratado dos riscos do espírito competitivo, sua ênfase estava na solução desse traço da natureza humana pecaminosa. Por isso, ela escreveu mais a respeito de cooperação, unidade e espírito de serviço altruísta do que sobre rivalidade (The Publishing Ministry, p. 158). 
 
De acordo com a profetisa, quando a primazia do eu é sublimada pela exaltação de Cristo, o ser humano transformado se esforça não para ganhar dos outros, mas para viver em harmonia com o próximo (Carta 152, 1899). 
 
O oposto ao espírito de competição é encontrado nos atributos do espírito de Cristo: humildade, graça e amor. O reino Dele é estabelecido por meio dessas armas (O Desejado de Todas as Nações, p. 439). Com Deus no centro, não há rivalidade, mas cooperação mútua (Carta 176, 1901).

John Wesley Taylor (via Revista Adventista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário