Talvez uma das palavras
mais utilizadas no contexto atual do mundo em que uma pandemia provocou
profundas mudanças em nossas rotinas e grandes prejuízos às populações. A
empatia está “em alta”. O dicionário Michaelis apresenta, em sua versão
on-line, as seguintes definições para a palavra: “habilidade de
imaginar-se no lugar de outra pessoa”, “compreensão dos sentimentos,
desejos, ideias e ações de outrem”. Dessas duas concepções,
compreende-se o porquê de se falar tanto em empatia: é uma habilidade
essencial que precisamos desenvolver, em especial em um momento em que
tantas pessoas estão sofrendo pelos mais diversos motivos. Mas como
colocar a empatia em prática sem ficar apenas no discurso?
Por um mundo de empatia
Sabe
aqueles dias em que você não está bem, ou quando você analisa a sua vida
e percebe que as coisas não estão nem um pingo do jeito que você
gostaria? Ou, ainda, quando acontece algo que tira o nosso chão e nos
deixa sem rumo? Nesses momentos, a tristeza é inevitável, assim como o
sentimento de impotência diante da vida, de tal maneira que a chama que
nos mantém firmes enfraquece. Precisamos, então, de pessoas capazes de
se colocar no nosso lugar e, de algum modo, sentir a nossa dor. Ou seja,
precisaremos da empatia dos que nos cercam, para que percebamos que não
estamos sozinhos e que, por mais dolorosa que seja a caminhada,
chegaremos ao final.
Em uma sociedade tão
individualista e egoísta como a nossa, torna-se extremamente difícil
encontrar pessoas empáticas. Cada um pensa na sua satisfação pessoal e
na resolução dos problemas que unicamente o incomodam, de forma que não
há um olhar contemplativo em relação ao todo, para que possamos enxergar
que a vida não se circunscreve apenas à nossa existência e que as
outras pessoas também têm problemas e dores, já que são seres humanos
como nós também somos.
Dessa forma, para que se possa ter empatia, antes é necessário fugir do
senso comum, que prega apenas valores individualistas voltados para o
próprio umbigo. Em outras palavras, jamais conseguiremos possuir empatia
se o nosso mundo se circunscrever somente a nós, de modo que o outro
seja algo totalmente inóspito e sem as mesmas constituições emocionais
que as nossas.
Para ter empatia, é indubitável que o indivíduo permita ser tocado por
um dor que não é sua e esteja aberto àquele novo mundo à sua frente. É
preciso permitir ter as suas veias e artérias invadidas por um corpo
estranho, com pensamentos diferentes dos seus, problemas diferentes dos
seus e monstros diferentes dos seus. É preciso estar aberto a um ser
que, mesmo diferente, precisa de um olhar e de um afago que o faça
sentir que não está atravessando aquela tormenta sozinho.
No entanto, em uma sociedade em que o egoísmo predomina, é difícil
encontrar pessoas que realmente possuem a capacidade de colocar-se no
lugar do outro. Pessoas que vão além da simpatia, que é importante, mas
não supre de modo algum a falta da empatia. Quando estamos tristes, não
precisamos apenas de alguém que só saiba contar piadas e nos queira
levar pra sair. Precisamos de alguém que entenda a nossa dor, que
respeite o nosso luto e que demonstre que, apesar de incômoda, aquela é
uma situação que faz parte da vida e que devemos enfrentá-la, por mais
que seja difícil.
Precisamos de pessoas que sejam capazes de também mostrar a suas
feridas, revelar os seus medos e confessar as suas fraquezas, para que
percebamos que não somos os únicos que choramos e, às vezes, temos
vontade de desistir. Não se trata de provocar “felicidade” em função de
uma tristeza alheia, mas de demonstrar a humanidade que há em nós, que
faz coisas belas e grandiosas e também tem fraquezas, dores e angústias.
Isto é, demonstrar que todos nós caímos e precisamos de ajuda e que a
dor, que agora sentimos, outros já sentiram e sentem, de modo que não há
motivo para desespero, pois o fardo que parece insuportável, outros já
suportaram, bem como não é necessário carregá-lo sozinho, pois há alguém
para dividir esse fardo e ajudá-lo a sair dessa situação.
Assim, ter empatia é ter o coração aberto para outra vida que precisa de
nós naquele momento. É saber que, naquele lugar, poderia ser eu, você
ou qualquer um. É ter a sensibilidade para perceber que não é porque uma
determinada situação não mexe conosco, que não mexe com o outro; que
não é porque algo não aperta o nosso peito, que o outro não possa sentir
o seu peito esmagado.
Ter empatia é entender que as pessoas são diferentes, sofrem por coisas
diferentes, reagem às situações internas e externas de modo diferente,
mas que, acima de tudo, são seres humanos que, em meio a divergências,
fazem a mesma coisa: sentem. E, assim, precisam ser ouvidas,
compreendidas e acarinhadas, pois o que há de mais nobre na empatia é
essa capacidade de sentir uma dor que talvez jamais nos incomodasse, mas
que nos incomoda pelo outro, em razão do outro e por isso é, ao mesmo
tempo, tão pesada e bela e faz com que sintamos o âmago de outro ser
ecoando dentro de nós.
Como diz Kundera: “Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor co-sentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos.”
Como diz Kundera: “Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor co-sentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos.”
Falta de empatia
Sem empatia há corruptos, traidores, violentos, assassinos,
aproveitadores, charlatões, enrolões, abusadores, perversos,
impacientes, intolerantes, presunçosos, folgados, procrastinadores,
indiferentes.
Sem empatia, há contratos quebrados, acordos não cumpridos, identidades
roubadas, lares destruídos, milhões desviados, trabalhos mal feitos,
filas cortadas, favorecimentos ilícitos, chutes nos carros, cortadas no
trânsito.
Sem empatia, alguns acreditam ser mais merecedores que outros e,
portanto, se dão à comodidade de serem cegos, surdos e mudos para
qualquer necessidade que não seja a sua própria. Sem empatia há o “venha
a nós, mas ao vosso reino, NADA”.
A falta de empatia é o câncer do mundo, mas sua presença, a cura dele.
Falta de empatia na igreja
A nossa igreja parece estar cheia de pessoas simpáticas e pouco
empáticas. Receber alguém na minha igreja com um sorriso e a paz do
Senhor é ser simpático, o que é muito legal, mas ir à rua, ouvir as
pessoas, entender o que elas vivem e sentem é ser empático, o que é
melhor ainda.
Um evangelho vivido apenas de púlpito não me parece empático. Ele dita
apenas as regras para você se enquadrar no time. Já o evangelho vivido
no trabalho, na faculdade, na vizinhança pode se tornar empático, pois
as chances são maiores de entender o dilemas vivido pelas pessoas em seu
contexto social. A palavra empatia não está na Bíblia, mas ser empático
é ser misericordioso, e feliz é aquele que tem misericórdia, pois serão
também tratados com misericórdia. Vejamos estes dois pensamentos de
Ellen G. White:
"Aprendam
acerca das necessidades dos outros! Esse conhecimento desperta empatia,
que é a base para um ministério eficaz. Ao tentarem aprender acerca das
tremendas necessidades das pessoas... vocês tornar-se-ão menos
egocêntricos e mais capazes de simpatizar com a situação desesperada de
milhões" (Um Convite à Diferença, p. 91).
"Que maravilhoso pensamento este, de que Jesus tudo sabe acerca das
dores e aflições que sofremos! Em todas as nossas aflições foi Ele
aflito. Alguns dentre nossos amigos nada sabem da miséria humana e da
dor física. Nunca ficam doentes, e portanto não podem penetrar
plenamente nos sentimentos daqueles que se acham doentes. Jesus, porém,
Se comove com o sentimento de nossa enfermidade. Ele é o grande
missionário médico. Tomou sobre Si a humanidade e colocou-Se à cabeceira
de uma nova dispensação, a fim de que possa reconciliar justiça e
compaixão" (Manuscrito 19, 1892).
Através de Seu exemplo amoroso, Jesus nos ensina a ter empatia.
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