Primeiramente, um pouco de história: programas pinga-sangue têm origem nos tempos da ditadura. “Um dos pioneiros nesta linha foi Jacinto Figueira Júnior, que estreou, em 1966, o programa "O Homem do Sapato Branco" e permaneceu no ar com seu show de misérias por vários anos”, escreveu o filósofo e teólogo padre Jaime Carlos Patias, em “O telejornal sensacionalista, a violência e o sagrado”. Jacinto começou na TV e depois foi também para o rádio. Várias outras figuras pioneiras, como Gil Gomes, Afanásio Jazadji e o furioso apresentador Carlos Alborghetti, começaram como radialistas de noticiário policial antes do fim do regime.
Depois vieram o “Aqui Agora”, um ambicioso e bem financiado projeto de jornalismo sensacionalista que duraria até 1997 e o "Brasil Urgente" com o apresentador José Luiz Datena. Quem viu a cobertura jornalística de um programa pinga-sangue, viu todas.
Atualmente, somos atingidos o tempo todo por notícias adversas, vindas de todos os lugares: televisão, internet, redes sociais, mensagens no celular e, o pior, nos chegam sem interrupção, 24 horas por dia, sete dias por semana. Ellen G. White alerta:
“As condições do mundo mostram que estão iminentes tempos angustiosos. Os jornais diários estão repletos de indícios de um terrível conflito em futuro próximo” (Serviço Cristão, p. 57).
Importante que você saiba é que, quando nosso cérebro percebe uma situação como ameaçadora, o sistema nervoso simpático aumenta a produção de cortisol e adrenalina, fazendo com que os batimentos cardíacos e a respiração acelerem. O perigo faz também com que nossa pressão suba e os músculos se contraiam. Até aqui, obviamente, nada de anormal, pois fomos preparados ao longo de toda nossa vida para lidarmos com as adversidades da vida.
Entretanto, quando esse processo deixa de ser ocasional e se torna crônico e repetitivo, as reações sentidas pelo corpo são potencializadas e podem, dessa forma, dar início a uma série de efeitos prejudiciais como, por exemplo, reduzir o calibre dos vasos que, com o passar do tempo, aumentam o risco de hipertensão, de arritmias cardíacas, dos problemas de pele, distúrbios digestivos e, finalmente, tem o poder de reduzir nossa capacidade mental. Ellen G. White aconselha:
"Os que não querem cair presa dos enganos de Satanás, devem guardar bem as vias de acesso à mente; devem-se esquivar de ler, ver ou ouvir tudo quanto sugira pensamentos impuros. Não devem permitir que a mente se demore ao acaso em cada assunto que o inimigo possa sugerir. O coração deve ser fielmente guardado, pois de outra maneira os males externos despertarão os internos, e a mente vagará em trevas" (Fundamentos do Lar Cristão, p. 133).
Além disso, sabe-se que, à medida que o contato com as notícias desfavoráveis volta a acontecer, nosso cérebro começa a criar uma espécie de "barreira de proteção" emocional – um tipo de anestesia psicológica -, fazendo com que nos acostumemos de maneira progressiva aos fatos ruins, ou seja, nos fazendo ficar mais tolerantes e insensíveis aos fatos. Ellen G. White adverte:
"Satanás está empregando todos os meios para tornar populares o crime e o vício aviltante. A mente é educada de maneira a familiarizar-se com o pecado. A conduta seguida pelos que são baixos e vis é posta perante o povo nos jornais do dia, e tudo que pode provocar a paixão é trazido perante eles em histórias excitantes. Ouvem e leem tanto acerca de crimes aviltantes que a consciência, que já fora delicada, e que teria recuado com horror de tais cenas, se torna endurecida, e ocupam-se com tais coisas com ávido interesse" (Patriarcas e Profetas, p. 336).
De acordo com alguns pesquisadores, a exposição ao conteúdo negativo e violento, advindos dos meios de comunicação, muitas vezes, pode ter efeitos emocionais danosos e mais duradouros. Portanto, a exposição às temáticas mais carregadas das mídias, pode exacerbar e contribuir para o desenvolvimento do estresse, ansiedade, depressão ou ainda o conhecido transtorno de estresse pós-traumático – aquele descrito pelos soldados que retornam de uma guerra.
Eu também, assim como você, tenho, muitas vezes, a clara impressão de que o mundo está, literalmente, desmoronando à nossa volta, que as coisas só pioram, que a insegurança aumenta, estamos mais infelizes etc. Como você, também sinto que tudo já se tornou meio que "normal", não é verdade? Como se não houvesse outra possibilidade a não ser a de resignação.
Sempre há uma saída, entretanto. Minha sugestão é a de que possamos, de alguma forma, começar a tentar regular a quantidade de tempo de exposição aos fatos negativos. Como cuidamos de nosso sono ou de nossa alimentação, evitando frituras, por exemplo, penso que seria interessante começar a adotar uma atitude de um pouco mais de resguardo em relação a esse entorno mais negativo. Como? Destine menos tempo e menor atenção a esses fatos, simples assim. Ellen G. White dá uma preciosa dica:
"Sabes que nosso corpo é composto do alimento que assimila. Ora dá-se o mesmo com a nossa mente. Se fazemos a mente demorar-se nas coisas desagradáveis da vida, não teremos nenhuma esperança. Precisamos demorar-nos nas cenas prazenteiras do Céu" (Manuscrito 7, 1888).
E se você tem filhos, recomendo conversar com eles sobre como estão se sentindo em relação às notícias ruins. Afinal de contas eles também prestam atenção nos meios de comunicação e nas conversas dos adultos com quem convivem. Ellen G. White deixa este sábio conselho aos pais:
"Devemos fazer todo o possível para nos colocarmos, e a nossos filhos, em posição onde não vejamos a iniquidade que é praticada no mundo. Devemos guardar cuidadosamente nossa habilidade de ver e ouvir, para que essas coisas más não entrem em nossa mente. Quando os jornais chegam em casa, quase desejo escondê-los, para que as coisas ridículas e sensacionalistas não sejam vistas. Parece que o inimigo é responsável por muitas coisas que aparecem nos jornais. Todo mal que pode ser encontrado é descoberto e desnudado perante o mundo" (Fundamentos do Lar Cristão, p. 133).
A Palavra de Deus nos dá esta maravilhosa promessa: "O que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue, e fecha os seus olhos para não ver o mal. Este habitará nas alturas" (Isaías 33:15, 16). Concluo com este pensamento de Ellen G. White:
"Os que desejam ter a sabedoria que vem de Deus devem tornar-se néscios no pecaminoso conhecimento deste século, para serem sábios. Devem fechar os olhos, para não verem nem aprenderem o mal. Devem fechar os ouvidos, para que não ouçam o que é mau e não obtenham o conhecimento que lhes mancharia a pureza de pensamentos e de ação. E devem guardar a língua, para que não profira palavras corruptas e o engano se encontre em sua boca" (O Lar Adventista, p. 76).
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