segunda-feira, 15 de março de 2021

O DEDO APONTADO

O gesto de apontar o dedo é muito comum. Apontamos nosso indicador em uma variedade de situações, com diversas finalidades, mas, em geral, o que esse gesto faz é colocar algo, que não somos nós, no centro das atenções. Se alguém me pergunta, por exemplo, onde fica determinada rua e eu aponto o dedo em uma direção, o que meu dedo põe no foco não sou eu, mas, sim, a tal rua. Se eu mostro uma pessoa com o meu dedo, o assunto em questão é a pessoa, não eu. Portanto, invariavelmente, o gesto de apontar tira quem aponta dos holofotes e põe em destaque quem é apontado. Devemos, porém, tomar cuidado com o que o dedo apontado para o outro diz a nosso respeito.

Uma das maneiras de fugir das próprias responsabilidades é desviando as atenções para os erros alheios. Muitas vezes, quando não queremos encarar os nossos problemas e as nossas falhas, usamos como estratégia apontar o dedo para os erros de outra pessoa qualquer, a fim de que todos os olhos se voltem para ela e, com isso, nossas questões deixem de ser o assunto em pauta. É por essa razão que, por exemplo, candidatos a cargos eleitorais costumam atacar seus adversários, para afastar as atenções dos próprios podres, jogando os podres do outro no ventilador. É uma tática comum e bastante usual.

Por que esse assunto é espiritualmente importante? Porque a fé cristã exige de nós uma atenção constante aos nossos defeitos. O que devo trabalhar prioritariamente são as minhas deficiências; as dos outros vêm depois. O evangelho nos confronta a todo instante com nossas falhas e exige de nós arrependimento. Porém, como se arrepender se sempre tentamos nos justificar de nossas falhas apontando o dedo para o próximo?

Costumo desconfiar de gente que só vive botando o dedo na cara dos outros. Cristãos que dedicam a vida a apontar a falha alheia muito provavelmente deveriam se preocupar com os próprios pecados com muitíssimo mais atenção. E, para pôr em prática o que estou defendendo neste texto, deixe-me apontar o dedo para a minha cara e não a sua: anos atrás, na época em que eu agia como o “apologeta da verdade” e dedicava meus pensamentos, meus textos, minhas horas e minhas energias a “denunciar os erros da Igreja” e a atacar os hereges e os equivocados, foi o período da minha vida em que eu mais deveria ter prestado atenção aos meus defeitos. Algo errado com denunciar os hereges e equivocados? Claro que não. Mas eu deveria, antes disso, ter prestado atenção e tratado os meus próprios conceitos, modos de agir, valores e motivações. O resultado de ter posto o dedo na cara alheia e não na minha: acabei doente, física e espiritualmente.

Esse fenômeno acontece em diversas instâncias. Esposas e maridos conformados com seus procedimentos antibíblicos apontam o dedo para o cônjuge ao serem confrontados com seus pecados e dizem “ah, mas você…”. Pronto. Tirou o foco das próprias atitudes horríveis e o pôs na falha do outro para não ter de se reconhecer errado e fazer algo a respeito. Patrões que não querem se assumir como exploradores dos empregados põem o dedo na cara do governo e dizem “ah, mas o governo…”. Cidadãos comuns que dão propina a policiais ou funcionários do governo tentam aliviar sua consciência apontando o dedo para o Planalto e dizendo “ah, mas os políticos…”. E assim por diante.

Você tem apontado o dedo? Nenhum problema quanto a isso, se a sua motivação for apontar para corrigir com amor e se, antes, tenha feito uma profunda autoanálise. Nossa prioridade é examinar a nós mesmos e buscarmos, nós, o arrependimento. Responda, com sinceridade e transparência: seu dedo apontado tem como motivação a amorosa edificação e correção do seu próximo ou uma pretensa superioridade moral e espiritual sua? Será que você aponta as falhas dos demais por amor a eles ou porque, afinal de contas, você é o tal, o defensor da verdade, o paladino mascarado do evangelho? Pior: será que seu dedo apontado não tem por finalidade tirar as atenções das próprias falhas?

Temos de tomar cuidado para não apontar dedos com motivações espúrias. Porque, na maioria das vezes em que apontamos para o próximo sem que nossa motivação seja, única e simplesmente, o amor, estamos incorrendo em dois pecados abomináveis: a hipocrisia e a arrogância.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

Textos selecionados de Ellen G. White

Digo com tristeza que existem entre os membros de igreja línguas desenfreadas. Há línguas falsas, que se alimentam com a maldade. Há línguas astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento, insinuações hábeis. Entre os amantes da tagarelice, alguns são atuados pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Alguns ocultam seus sentimentos reais, enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo suspeitam, dos males alheios. Enquanto muitos negligenciam sua própria alma, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e condenar os outros.

Foram os cristãos autorizados por Deus a criticarem-se e condenarem-se mutuamente? Será honroso, ou mesmo honesto, extrair dos lábios de alguém, à guisa de amizade, segredos que lhe foram confiados, e em seguida fazer reverter em seu prejuízo o conhecimento assim alcançado? Será caridade cristã, apanhar todo boato que por aí flutue, desenterrar tudo que lance suspeita sobre o caráter de outro, e então ter prazer em empregá-lo para o prejudicar? [1]

Demorando-se continuamente nos erros e defeitos dos outros, muitos se tornam dispépticos religiosos. Os que criticam e condenam uns aos outros estão transgredindo os mandamentos de Deus, e são-Lhe uma ofensa. Irmãos e irmãs, afastemos o entulho da crítica e suspeita e murmuração, e não desgastei os nervos externamente. Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável. [2]

Há os que pensam de si mais do que convém. Falam mal de seus irmãos porque, feito por estes um trabalho, o examinam e dizem quão diferentemente eles o teriam feito; no entanto, sua previsão não teria sido nada melhor do que a de seus irmãos, tivessem eles estado em seu lugar.

Mantende-vos afastados da cadeira de juiz. Todo julgamento é dado ao Filho de Deus. Satanás atua zelosamente para levar os homens a pecar neste ponto. Satanás exulta quando pode difamar ou ferir um seguidor de Cristo. Ele é o "acusador dos irmãos". Deverão os cristãos ajudá-lo em sua obra? O espírito de tagarelice e maledicência é um dos instrumentos especiais de Satanás para semear discórdia e luta, para separar amigos e minar a fé de muitos na veracidade de nossas crenças. Aqueles cuja língua é tão franca em proferir palavras de crítica, os habilidosos interrogadores que sabem extorquir expressões e opiniões que foram introduzidas no espírito mediante o lançar sementes de separação, esses são missionários seus. Sabem repetir as expressões extorquidas de outros, como sendo originadas por aqueles que eles tão astutamente levaram para terreno proibido. Essas pessoas parecem ver sempre algo que deva ser criticado e condenado. Entesouram tudo que seja de natureza desagradável, e então envenenam outros. Sua língua está pronta para exagerar todo o mal. Que grande bosque um pequeno fogo incendeia! Nunca permitais que vossa língua e voz sejam empregados em descobrir e exagerar os defeitos de vossos irmãos; pois o registro do Céu identifica os interesses de Cristo com aqueles que Ele comprou com Seu próprio sangue. “Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos”, diz Ele, “a mim o fizestes” (Mateus 25:40).

Devemos aprender a ser leais uns aos outros, ser verdadeiros como o aço na defesa de nossos irmãos. Olhai para vossos próprios defeitos. É melhor descobrirdes um de vossos próprios defeitos, do que dez de vosso irmão. Lembrai-vos de que Cristo orou por esses irmãos Seus, para que pudessem ser um, como Ele é um com o Pai. Lutai, no máximo de vossa capacidade, para estar em harmonia com vossos irmãos segundo a extensão da medida de Cristo, assim como Ele é um com o Pai. [3] Sede todos compassivos, amando os irmãos. O verdadeiro valor moral não procura elevar-se a um lugar mediante pensar mal e falar mal, desmerecendo outros. Toda inveja, todo ciúme, toda maledicência e incredulidade têm de ser afastados dos filhos de Deus. [4]

Não devemos permitir que nossas perplexidades e desapontamentos nos corroam a alma, tornando-nos impertinentes e impacientes. Não haja discórdia, nem suspeitas ou maledicência, para não ofendermos a Deus. Meu irmão, se abrires teu coração à inveja e a vis suspeitas, o Espírito Santo não poderá habitar contigo. Busca a plenitude que há em Cristo. Trabalha de modo por Ele indicado. Que cada pensamento, palavra e ato O revele. Precisas de um diário batismo do amor que nos dias dos apóstolos os tornava todos de um mesmo comum acordo. Esse amor trará saúde ao corpo, espírito e alma. Circunda tua alma com uma atmosfera que fortaleça a vida espiritual. Cultiva a fé, a esperança, o ânimo e o amor. Reine a paz de Deus no teu coração. [5]

1. Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 22-24
2. Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, p. 635-638
3. Nos Lugares Celestiais, p. 181
4. Manuscrito 144
5. Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 493

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