O Dia do Trabalhador é comemorado neste sábado, 1º de maio. Mas muitas pessoas não veem o trabalho como algo abençoado. Afirmam que o trabalho é resultado da desobediência de Adão e Eva no jardim do Éden, ou seja, o trabalho seria uma espécie de maldição que o ser humano teria recebido de Deus por haver pecado. Deus disse a Adão: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra” (Gn 3:19). Será que Deus estava amaldiçoando o trabalho em si?
Vejamos então o que escreveu Ellen G. White no livro Nossa Alta Vocação, p. 219:
"Deus colocou nossos primeiros pais no Paraíso, circundando-os de tudo quanto era útil e belo. Em seu lar edênico não faltava coisa alguma que lhes pudesse servir ao conforto e felicidade. E a Adão foi dado o trabalho de cuidar do jardim. O Criador sabia que Adão não poderia ser feliz sem ocupação. A beleza do jardim encantava-o, mas isto não era suficiente. Precisava de ter trabalho que chamasse ao exercício os maravilhosos órgãos do corpo. Houvesse a felicidade consistido em nada fazer, e o homem, em seu estado de inocência, haveria sido deixado sem ocupação. Mas Aquele que criou o homem sabia o que seria para sua felicidade; e assim que o criou designou-lhe um trabalho. A promessa da glória futura, e o decreto de que o homem deve trabalhar pelo pão de cada dia, vieram do mesmo trono.
Quando o corpo está inativo, o sangue corre indolentemente, os músculos decrescem em dimensões e resistência. … O exercício físico, e um abundante uso de ar e luz solar — bênção que o Céu a todos concedeu abundantemente — dariam vida e forças a muitos doentes esqueléticos. … O trabalho é uma bênção, não uma maldição. O trabalho diligente guarda muitos, jovens e adultos, dos laços daquele que 'ainda encontra algum malfeito para as mãos ociosas'. Ninguém se envergonhe de trabalhar; pois o trabalho honesto é enobrecedor. Enquanto as mãos se acham ocupadas nas tarefas mais comuns, a mente pode estar cheia de elevados e santos pensamentos.
A sonolência e a preguiça destroem a piedade, e ofendem o Espírito de Deus. Um poço estagnado exala desagradável odor; mas uma corrente pura esparge saúde e alegria pela terra. Nenhum homem ou mulher convertido pode deixar de ser um trabalhador. Há certamente e sempre haverá emprego no Céu. Os remidos não viverão num estado de sonhadora preguiça. Resta um repouso para o povo de Deus — repouso que eles encontrarão em servir Aquele a quem devem tudo quanto possuem e são."
Cuidado com os extremos
Quando chega a sexta-feira, muitos trabalhadores exclamam aliviados: “Graças a Deus que hoje é sexta-feira!” Para a maioria deles, o trabalho é um mal necessário. É apenas um meio de sobreviver e obter as coisas necessárias à vida. Eles trabalham pensando nos intervalos de descanso e almoço, na hora de ir para casa, nos fins de semana e nas férias – e no salário, no fim do mês, é claro.
São os que, em pleno domingo, seja no campo de esporte, em casa com a família, assistindo televisão, ou no clube com os amigos, de repente são tomados por uma estranha sensação de desânimo que lhes estraga o restante do dia, e é desencadeada por uma simples lembrança: “Amanhã é segunda-feira!”
Cristina, relações-públicas de uma empresa, afirma que entra numa agonia profunda quando ouve a música-tema do Fantástico, no domingo. Para ela, essa música virou símbolo da segunda-feira e marca o fim do descanso e o começo de uma sensação de vazio. Para este grupo, o trabalho é um obstáculo à felicidade.
No extremo oposto estão os viciados em trabalho. Trabalham no horário do almoço, após o expediente, levam trabalho para casa, trabalham aos domingos e feriados e aguardam com impaciência a chegada da segunda-feira. Os resultados dessa intemperança surgem com o tempo: nervos à flor da pele, estresse, insônia e outros distúrbios.
Nenhum desses extremos é recomendável. O grupo ideal é aquele que combina de modo equilibrado trabalho e lazer. Que diz na sexta-feira: “Graças a Deus que é sexta-feira!”, e na segunda: “Graças a Deus que é segunda-feira!”
Quando os apóstolos voltaram de sua primeira viagem missionária, a ordem que o Salvador lhes deu, foi: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco" (Marcos 6:31). Eles haviam trabalhado com dedicação total pelo povo, e isso lhes esgotara as forças físicas e mentais. Era seu dever repousar. As compassivas palavras de Cristo se dirigem a nós hoje em dia, da mesma maneira que aos discípulos. Ellen White escreveu no livro Obreiros Evangélicos, pp. 243-246:
"Deus é misericordioso, cheio de compaixão, razoável em Seus requisitos. Ele não nos pede que sigamos uma maneira de proceder que dará em resultado a perda de nossa saúde física, ou o enfraquecimento das faculdades mentais. Ele não quer que trabalhemos sob pressão ou tensão até ficarmos exaustos, com prostração nervosa. Quando um obreiro tem estado sob grande pressão de cuidado e ansiedade, achando-se esgotado no corpo e na mente, deve afastar-se e descansar um pouco, não para satisfação egoísta, mas para que esteja melhor preparado para os deveres futuros. Temos um inimigo vigilante, que se acha sempre em nossas pegadas, pronto a se aproveitar de qualquer fraqueza que possa auxiliá-lo em tornar suas tentações eficazes. Quando a mente está esgotada e o corpo enfraquecido, ele intensifica sobre a alma suas mais cruéis tentações. Economize o obreiro suas forças e, quando fatigado pela lida, vá à parte, e comungue com Jesus."
Alguns dos melhores homens que a obra adventista já teve incorreram nesse erro: “Tiago White, John Loughborough, Urias Smith, Hiram Edson e outros estiveram à beira da morte por causa de transtornos físicos causados pelo excesso de trabalho” (Revista Adventista, fevereiro, 1981, p. 7).
João N. Andrews, nosso primeiro missionário à Europa, morreu com apenas 54 anos de idade. “Ellen White, como conselheira do Senhor, frequentemente o aconselhara a não trabalhar tanto, e a cuidar melhor de sua saúde. Andrews prometeu tentar, mas declarava que seu excesso de trabalho se justificava porque o êxito da causa o requeria [...] Perto do fim ele confessou, arrependido, que havia agido mal” (História do Adventismo, p. 181, 182).
Ao invés de ser algo cansativo, entediante ou um instrumento de exploração, Deus sempre desejou que o trabalho fosse uma bênção, que desse sentido para a vida. Os aspectos negativos relacionados ao trabalho acompanharão nossa rotina apenas enquanto durar as consequências do pecado. No Éden, Adão trabalhou, e na Terra restaurada, os salvos continuarão a trabalhar, não “em vão”, porque aproveitarão ao máximo essa atividade (Is 65:21-23). Quem espera um paraíso sem trabalho vai se decepcionar, pois Deus trabalha e os anjos também.
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