quarta-feira, 28 de julho de 2021

ATIVIDADES ESPORTIVAS

Entre as denominações cristãs, a Igreja Adventista do Sétimo Dia se destaca por sua visão integral acerca da saúde. Fundamentados em argumentos teológicos, os adventistas defendem que o cuidado com as dimensões física, mental e espiritual faz parte de uma experiência religiosa enriquecedora (1Ts 5:23; 3Jo 2). Entretanto, a Bíblia não fala de modo específico ou normativo sobre a prática de esportes.

No Antigo Testamento, existem poucas referências a práticas esportivas. De modo geral, essas atividades estavam mais relacionadas com habilidades militares do que com um treinamento esportivo ou momento recreativo (Jz 20:16; 1Sm 20:20-22, 35-38; 2Sm 2:18; 1Cr 12:2).

Por sua vez, o Novo Testamento, especialmente os escritos de Paulo, contém várias alusões aos esportes ou a temas relacionados (1Co 9:24-27; 2Tm 4:7; Hb 12:1). No entanto, o uso que o apóstolo faz desse assunto é ilustrativo. Parece evidente em seus textos que ele apenas se utiliza de exemplos conhecidos e validados por seu público-alvo primário como recurso retórico. É importante destacar que, em seus dias, os Jogos Olímpicos eram muito conhecidos e estavam intimamente relacionados com o paganismo.

Ellen White escreveu sobre atividades esportivas e, a partir de suas orientações, pode-se concluir que ela fazia distinção entre atividades físicas, atividades recreativas e atividades competitivas.

Em harmonia com seu pensamento acerca de saúde integral, a autora estimulou a prática de atividades físicas. Ela foi categórica ao afirmar que “os estudantes devem fazer exercício vigoroso” (2016a, p. 210). Em sua concepção, esses exercícios deveriam ser tarefas manuais úteis que, além de estimular o corpo, preparariam os jovens para a vida (2014, p. 354). Isso incluía o desenvolvimento de atividades em contato com a natureza (2016a, p. 212). Ademais, Ellen White apoiava a recreação sadia, que “proporciona descanso ao espírito e ao corpo” (ibid., p. 207). Mesmo os jogos com bola não eram de todo condenados por ela (2015b, p. 322), desde que se mantivessem dentro dos limites de uma brincadeira espontânea, sem desenvolver o espírito da rivalidade ou competição.

Por outro lado, Ellen White foi contundente ao reprovar atividades como “boxe, futebol [football], jogos de equipe e esportes com animais” (Carta 27, 1895; ver 2016a, p. 210). Ela tinha preocupações quanto à natureza de alguns esportes específicos, bem como com o perigo de que eles se tornassem todo-absorventes. Além disso, era totalmente contrária a atividades que promovessem qualquer traço de competitividade (2016b, p. 101, 102) ou alta estimulação física e mental (2004, p. 131; 2015a, p. 627).

Por anos, a prática de esportes em instituições educacionais adventistas foi tema de debates e questionamentos, especialmente ao Ellen G. White Estate. Em 1959, Arthur White publicou um documento intitulado “Sports in Seventh-day Adventist academies and colleges”, em que concluiu dizendo: “Vejo claramente a distinção entre um dia de recreação no qual certos jogos podem ser jogados e o desenvolvimento de times bem treinados em nossos institutos e faculdades, para engajamento em um programa esportivo.”

Em 1988, um documento da Associação Geral intitulado “Atividades competitivas” trouxe como exemplos de práticas que desenvolvem os aspectos físico, mental e espiritual as seguintes atividades ao ar livre: “natação, ciclismo, equitação, esqui, canoagem, ginástica, jardinagem, caminhada, acampamento, coleção de pedras, mergulho, exploração de cavernas” (2005, p. 32).

Princípios editoriais
1. O uso de práticas esportivas como ilustração é um recurso possível, mas deve-se cuidar quanto à menção a determinados tipos de esportes, especialmente aqueles que incentivam a competitividade exacerbada, a violência, o desafio à vida e procedimentos como a mentira e a dissimulação.

2. A prática de atividades físicas e recreativas condizentes com a visão integral de saúde adventista deve ser promovida nas diversas publicações produzidas pela igreja.

3. Esportes agressivos, que expõem seus praticantes ao risco de morte, alinhados a filosofias contrárias à cosmovisão bíblico-adventista ou de reputação duvidosa não devem ser promovidos sob nenhuma circunstância.

Bibliografia
Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2005). “Atividades competitivas” (p. 26-34), em Declarações da igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
Graybill, R. (1974). Ellen G. White and competitive sports. The Ministry, julho (p. 4-7).
McArthur, B. (2018). Jogos e esportes (p. 1011-1014). Em Fortin, D., & Moon, J. (eds.). Enciclopédia Ellen G. White. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
Nieman, D. (1988). Do sports belong in SDA schools? Ministry, agosto (p. 4-9).
White, A. (1959). Sports in Seventh-day Adventist academies and colleges. Disponível em: <https://tinyurl.com/ybv4pzu4>.
White, E. (2004). Filhos e filhas de Deus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2014). Conselhos aos professores, pais e estudantes. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2015a). Conselhos sobre saúde. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2015b). Mensagens escolhidas (v. 2). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2016a). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2016b). Parábolas de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.


Nota do blog: Aqui apresentamos os princípios dos escritos de Ellen White e também algumas dicas que podemos usar para fazermos nossas escolhas na área das atividades físicas, esportes e recreação:

"Não condeno o simples exercício de brincar com uma bola; mas isto, mesmo em sua simplicidade, pode ser levado ao excesso. Preocupam-me muito os resultados quase sempre inevitáveis que vêm na esteira de esportes competitivos. Eles levam a um gasto de dinheiro que devia ser aplicado em levar a luz da verdade às almas que não conhecem a Cristo. Divertimentos e gasto de meios para satisfação própria, que levam passo a passo à glorificação do eu, bem como o treinamento nesses jogos para obtenção de prazer produzem amor e paixão pelas coisas que não favorecem o aperfeiçoamento do caráter cristão" (O Lar Adventista, p. 499).

"É a glória de Deus que se tem em vista nesses jogos? Eu sei que não é. O caminho de Deus e Seus propósitos são perdidos de vista. A maneira como seres inteligentes se aplicam, ainda em período de experiência, está se sobrepondo à revelada vontade de Deus e pondo em seu lugar as especulações e invenções do instrumento humano, com Satanás a seu lado a imbuir-lhes o espírito. ... O Senhor Deus do Céu protesta contra a ardente paixão cultivada pela supremacia nos jogos assim tão empolgantes" (O Lar Adventista, p. 500).

"Outros jogos atléticos, embora não tão embrutecedores, são pouco menos reprováveis, por causa do excesso com que são praticados. Estimulam o amor ao prazer, alimentando assim o desprazer pelo trabalho útil, a disposição de evitar os deveres práticos e as responsabilidades. Tendem a destruir a graça pelas sóbrias realidades da vida e seus prazeres tranquilos. Desta maneira, abre-se a porta para a dissipação e desregramento, com os seus terríveis resultados" (Educação, pp. 210 e 211).

“Em regra, o exercício mais proveitoso aos jovens será encontrado nas ocupações úteis. Desde a infância os esportes devem ser tais que promovam não somente o crescimento físico, mas também o mental e espiritual. Ao adquirir força e inteligência, achará o melhor recreio para ela em alguma espécie de esforços que sejam úteis. Aquilo que treina as mãos para a utilidade e ensina o jovem a encarar com a sua participação nos encargos da vida é o mais eficaz na promoção do crescimento do espírito e do caráter” (Educação, p. 215 - adaptado).

“Quanto tempo é gasto por seres humanos inteligentes em jogos de bola! Mas acaso a satisfação nesses esportes dá aos homens o desejo de conhecer a verdade e a justiça? Mantêm a Deus em seus pensamentos? Levá-los-á a indagar: Como vai com a minha alma?” (Conselhos Professores, Pais e Estudantes, p. 456).

“Não tenho conseguido encontrar nenhum caso em que Jesus tenha ensinado os Seus discípulos a empenharem-se na diversão do futebol [americano] ou em jogos de competição, a fim de fazerem exercício físico, ou em representações teatrais; e, no entanto, Cristo era nosso modelo em todas as coisas. Cristo, o Redentor do mundo, deu a cada um a sua obra, e ordena: 'Negociai [ocupai-vos, na versão inglesa] até que Eu venha.' (Lucas 19:13)” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 229).

“Alguns dos mais populares divertimentos, tais como o futebol e o boxe, se têm tornado escolas de brutalidade. Estão desenvolvendo as mesmas características que desenvolviam os jogos da antiga Roma. O amor ao domínio, o orgulho da mera força bruta, o descaso da vida, estão exercendo sobre a juventude um poder desmoralizador que nos aterra” (Conselhos sobre Saúde, p. 189).

“Exercícios ginásticos ocupam um lugar útil em muitas escolas, mas se não houver uma supervisão cuidadosa eles podem ser levados ao extremo. Muitos jovens, pelas proezas de força que tentam realizar nos salões de ginástica, têm trazido sobre si lesões para toda a vida” (O Lar Adventista, p. 499).

"O lugar que devia haver sido ocupado por Jesus foi usurpado por vossa paixão por jogos. Preferistes vossos divertimentos aos confortos do Espírito Santo. Não seguistes o exemplo de Jesus, que disse: 'Eu desci do Céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade dAquele que Me enviou.' (João 6:38)" (Mensagens Escolhidas 1, p. 136).

"Os esportes enervantes despertam ao máximo todas as paixões" (Testemunhos Seletos 3, p. 231).

"Aqueles cujos hábitos são sedentários devem, quando o tempo permitir, fazer exercício ao ar livre todos os dias, de verão e de inverno... O exercício aviva e equilibra a circulação do sangue, mas na ociosidade o sangue não circula livremente, e não ocorrem as mudanças que nele se operam, e são tão necessárias à vida e à saúde" (A Ciência do Bom Viver, p. 238 e 240).

“Nós não deveríamos ignorar as atividades que proveem exercício e recreação. Contudo, essas atividades devem ser manejadas dentro dos limites, a fim de que não percam o seu propósito e alimentem o egoísmo” (Manuscript Releases 1, p. 391).

"Na presente época a vida se tornou artificial e os homens degeneraram. Conquanto não possamos voltar completamente aos hábitos simples daqueles tempos primitivos, deles podemos aprender lições que tornarão nossos momentos de recreio o que este nome implica: momentos de verdadeira construção de corpo, espírito e alma" (Educação, p. 211).

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