O judaísmo do tempo de Jesus não era um bloco religioso fechado, mas um mosaico de segmentos que divergiam em pontos importantes. Alguns desses grupos são mais conhecidos (confira abaixo), enquanto outros, como os hemerobatistas e boteanos, são pouco estudados. Entender as crenças e expectativas dessas seitas torna mais claros os diálogos e os ensinos registrados nos evangelhos.
Fariseus
Como partido, surgiram no 2º século a.C. e foram uma reação conservadora à influência grega. Por isso, desenvolveram uma teologia de separação étnica e ritual. Davam ênfase excessiva à guarda dos mandamentos, à tradição dos anciãos e à purificação ritual. Grupo mais popular e importante da época, alguns de seus integrantes apoiaram Jesus (Jo 3:1-9; 7:50; 19:39; At 5:34-39); outros se tornaram cristãos (At 15:5); e muitos deles foram advertidos por Cristo (Mt 23; Lc 12:1).
Saduceus
Principais opositores dos fariseus, beberam da cultura grega e viam na política o caminho para o bem-estar de Israel. Associados ao poder, à riqueza e ao sumo sacerdócio, aceitavam como inspirado apenas o Pentateuco e não valorizavam a tradição, nem acreditavam em anjos, demônios, e na vida futura. Jesus e João Batista criticaram os saduceus (Mt 16:6; 3:7). Cristo chegou a silenciar o grupo (Mt 22:34). E eles cooperaram para matar Cristo e perseguir a igreja.
Zelotes
Eram patriotas com motivação religiosa. Talvez tenham surgido depois que Judas, o galileu, se levantou contra uma tributação após o recenseamento de Quirino, em 6 d.C. (At 5:37). Tinham crenças parecidas com a dos fariseus, mas não aceitavam espécie alguma de governo sobre eles. A grande revolta zelote de 66 d.C. resultou na destruição de Jerusalém em 70 d.C. Simão, um dos discípulos de Cristo, foi um zelote (Lc 6:15; At 1:13); Barrabás, o salteador, provavelmente (Jo 18:40).
Essênios
Levaram as ideias do farisaísmo ao extremo. Vestiam-se de branco e tomavam banhos rituais de imersão diariamente. A maioria não se casava e vivia no deserto. Evitavam o comércio, se afastaram dos sacrifícios no templo, possuíam bens em comum, amavam-se uns aos outros, mas odiavam os de fora. Rejeitavam a ressurreição do corpo e esperavam um Messias sacerdotal e outro político, que fariam uma “nova aliança” com eles. Provavelmente, João Batista teve contato com essa seita.
Herodianos
Grupo mais tardio dos cinco. Pouco se sabe sobre ele, além de duas referências bíblicas, ambas negativas (Mt 22:16; Mc 3:6; 12:13; ver Mc 8:15). Tinham estreita relação com os saduceus e o Sinédrio. Ao que parece, eram galileus que desejavam ver descendentes de Herodes governando a Palestina, em vez de estrangeiros ou do próprio Messias e seus seguidores.
Publicanos
Esses coletores de impostos nas províncias do Império Romano eram detestados pelos judeus e muitas das vezes envolviam-se em corrupção cobrando das pessoas além do que deveriam. E sofriam um grande repúdio da casta religiosa dos fariseus. Mateus, o evangelista, foi publicano e Zaqueu (publicano bastante conhecido por sua corrupção) também chegou a se converter.
Escribas
Surgiram como copistas reais inicialmente no reinado de Salomão. Porém, após o retorno do cativeiro babilônico, os escribas ganharam maiores responsabilidades, sendo considerados doutores da lei. Para alguém exercer tal função deveria começar seus estudos aos 14 anos e só eram aptos para legislar após os 40. Tinham forte ligação com os fariseus e foram acusados por Jesus por colocarem regras pesadas demais para suportar, onde nem os mesmos conseguiam seguir.
Gnósticos
Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo era baseado em duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustentava um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os Gnósticos acreditavam que a matéria era essencialmente perversa e que o espírito era bom. Como resultado dessa pressuposição, eles acreditavam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tinha valor algum porque vida verdadeira existia no reino espiritual apenas. Seu conceito já existia na época de Jesus, porém foi mais forte no início da igreja primitiva.
Fontes: Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, de Francis Nichol (ed.) [CPB, 2013]; Manual Bíblico SBB (SBB, 2008); People of the New Testament World: An Illustraded Guide, de William A. Simmons (Hendrickson, 2008); Wilson Paroschi, doutor em Teologia com especialização em Novo Testamento; Bíblia Center.
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