quarta-feira, 25 de agosto de 2021

QUEM É O MEU PRÓXIMO?

Este maravilhoso texto que apresentamos abaixo está no capítulo 54 "O Bom Samaritano" do livro O Libertador de Ellen G. White. Ele é baseado em Lucas 10:25-37.

Enquanto Cristo ensinava o povo, “um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e Lhe perguntou: ‘Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?’” (Lc 10:25). Os sacerdotes e rabinos tinham pensado que apanhariam a Cristo com a pergunta que induziram o doutor da lei a fazer. No entanto, o Senhor não entrou em discussão. “O que está escrito na Lei?”, Ele disse. “Como você a lê?” Jesus desviou a pergunta sobre salvação para o tema da observância aos mandamentos de Deus.

O doutor da lei disse: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento” e “ame o seu próximo como a si mesmo”. Jesus disse: “Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá” (v. 27, 28).

Aquele doutor da lei vinha estudando as Escrituras a fim de conhecer o seu verdadeiro significado. Em sua resposta sobre as exigências da lei, ele não atribuiu nenhum valor ao amontoado de instruções quanto às cerimônias e ritos. Em lugar disso, apresentou os dois grandes princípios dos quais dependem toda a lei e os profetas. Essa resposta, elogiada por Cristo, deu ao Salvador vantagem sobre os rabinos.

“Faça isso e viverá”, Jesus disse. Ele apresentou a lei como uma unidade divina. Não é possível guardar um mandamento e quebrar outro, pois o mesmo princípio permeia todos eles. Amor supremo a Deus e amor imparcial ao próximo são os princípios a ser observados na vida.

As palavras firmes de Cristo convenceram o doutor da lei. Ele não havia mostrado amor às pessoas que o cercavam. Contudo, em vez de se arrepender, tentou se justificar dizendo: “Quem é o meu próximo?

Entre os judeus, essa pergunta provocaria interminável discussão. Os pagãos e os samaritanos eram estrangeiros e inimigos, mas onde se faria distinção entre as pessoas de sua própria nação e entre as diferentes classes da sociedade? Será que eles deviam considerar a multidão ignorante e descuidada – os “imundos” – como próximos?

Jesus não denunciou o fanatismo dos que estavam ali, atentos às Suas palavras, só para condená-Lo. Em vez disso, apresentou uma história singela que retratava o amor do Céu fluindo sobre as pessoas. A bela ilustração tocou o coração de todos e arrancou do doutor da lei uma confissão da verdade. A melhor maneira de lidar com o erro é apresentar a verdade. “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado” (v. 30- 32). Isso foi um fato real, conhecido exatamente como Jesus contou. O sacerdote e o levita estavam no grupo que escutava as palavras de Cristo.

A estrada de Jerusalém para Jericó descia por um barranco pedregoso e inóspito, infestado de ladrões. Era, muitas vezes, cenário de situações de violência. Foi ali que os assaltantes atacaram o viajante, deixando-o quase morto. O sacerdote apenas olhou na direção do homem ferido. O levita tinha convicção do que devia fazer, mas se convenceu de que nada tinha que ver com o caso.

Esses dois homens pertenciam à categoria especialmente escolhida para representar a Deus diante do povo. Esperava-se que fossem capazes “de se compadecer dos que não têm conhecimento e se desviam” (Hb 5:2).

Os anjos do Céu contemplam a aflição da família de Deus na Terra, preparados para cooperar com homens e mulheres no alívio da opressão e do sofrimento. Todo o Céu observava para ver se o coração do sacerdote e do levita seria tocado pela piedade da miséria humana. O Salvador tinha instruído os hebreus no deserto, ensinando-lhes uma lição muito diferente daquela que o povo agora estava recebendo dos seus sacerdotes e mestres. Por meio de Moisés, Ele havia dado a mensagem que o Senhor Deus “defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro. [...] Amem [portanto] os estrangeiros”. “Amem-no como a si mesmos” (Dt 10:18, 19; Lv 19:34).

Treinados na escola do fanatismo nacional, o sacerdote e o levita se tornaram indivíduos egoístas, de mente estreita e exclusivistas. Ao olharem para o homem ferido, não conseguiram identificar se ele era judeu. Pensaram que talvez fosse um samaritano, e se afastaram.

No entanto, passou por ali um samaritano que teve compaixão da vítima. O samaritano sabia muito bem que, se a situação dos dois fosse inversa, o estrangeiro, judeu, mostraria desprezo e passaria de largo. Ele próprio poderia estar em perigo por ficar naquele lugar por mais tempo. Mas, para ele, o que importava era que ali estava um ser humano em necessidade e sofrimento. Ele tirou suas próprias vestes e o cobriu. O azeite e o vinho trazidos para a viagem foram usados para curar e aliviar o sofrimento do homem ferido. Colocou-o sobre o seu animal e o conduziu lentamente, em passo uniforme, de modo que o estranho não fosse sacudido, o que aumentaria o seu sofrimento. Levou-o para uma pensão e cuidou dele toda a noite, velando por ele ternamente.

Na manhã seguinte, antes de seguir viagem, o samaritano colocou o homem aos cuidados do dono da pensão, pagou a conta e deixou um depósito em seu favor. Ainda não satisfeito, tomou providências para qualquer necessidade futura, dizendo: “Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver”.

Ao terminar a história, Jesus olhou nos olhos do doutor da lei e disse: “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” O doutor da lei respondeu: “Aquele que teve misericórdia dele”. Jesus disse: “Vá e faça o mesmo” (Lc 10:36, 37). Assim, a pergunta “Quem é o meu próximo?” ficou respondida para sempre. Nosso próximo é toda pessoa que precisa da nossa ajuda, cada alma ferida e machucada pelo inimigo, todos os que são propriedade de Deus.

Na história do bom samaritano, Jesus apresentou um retrato de Si mesmo e de Sua missão. A humanidade tem sido ferida, roubada e deixada quase morta por Satanás, mas o Salvador deixou a Sua glória para vir nos resgatar. Ele curou nossas feridas, nos cobriu com Seu manto de justiça e, à própria custa, tomou todas as providências em nosso favor. Mostrando Seu próprio exemplo, Ele diz aos Seus seguidores: “Como Eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” (Jo 13:34).

O samaritano tinha obedecido aos conselhos vindos de um coração bondoso e amoroso. Fazendo isso, provou ser praticante da lei. Cristo disse para o doutor da lei: “Vá e faça o mesmo”.

A lição não é menos necessária hoje. O egoísmo e a fria formalidade quase têm extinguido o fogo do amor, dissipando as graças que deveriam deixar o caráter perfumado. Muitos dos que professam o nome de Jesus têm esquecido que os cristãos devem representar Cristo. A menos que mostremos sacrifício prático para o bem dos outros onde quer que estejamos, não somos cristãos, não importa o que declaremos ser.

Cristo pede que nos unamos a Ele para salvar a humanidade. Ele disse: “Vocês receberam de graça; deem também de graça” (Mt 10:8). Muitos estão perdidos e se sentem envergonhados e tolos. Estão sedentos de ânimo. Olham para os seus erros até serem levados ao desespero. Se formos, de fato, cristãos, ao vermos seres humanos em aflição, seja por alguma calamidade, seja por causa do pecado, nunca diremos: “Isso não me diz respeito”.

A história do bom samaritano e o caráter de Jesus revelam o verdadeiro significado da lei e o que significa amar nosso próximo como a nós mesmos. E quando os filhos de Deus mostram amor por toda a humanidade, também estão dando testemunho do caráter das leis do Céu. “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor está aperfeiçoado em nós” (1Jo 4:12).

Ellen G. White complementa o seu pensamento no livro Beneficência Social (pp. 45-46): 

"Qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível. Devemos cuidar de todo caso de sofrimento e considerar-nos a nós mesmos como instrumentos de Deus para aliviar os necessitados até o máximo de nossas possibilidades. Devemos ser coobreiros de Deus. Alguns há que manifestam grande afeição por seus parentes, amigos e favoritos, e no entanto deixam de mostrar bondade e consideração aos que necessitam de terna simpatia, aos que necessitam de bondade e amor. Com fervor de coração perguntemo-nos a nós mesmos: Quem é o meu próximo? Nosso próximo não são meramente nossos associados e amigos especiais; não simplesmente os que pertencem a nossa igreja, ou que pensam como nós pensamos. Nosso próximo é toda a família humana. Devemos dar ao mundo uma demonstração do que significa praticar a lei de Deus. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Sem o exercício desse amor, a mais alta profissão de fé não passa de hipocrisia."

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