Recentemente, ministros da economia do G7, grupo formado por alguns dos países mais ricos do mundo, apresentaram a proposta de criar um imposto mínimo global sobre os lucros de empresas multinacionais. Até 2023, o plano é que 139 nações adotem esse novo imposto de pelo menos 15% sobre uma parcela dos lucros das grandes companhias. O imposto seria pago onde as empresas operam e vendem seus produtos.
A iniciativa tem como meta controlar uma estratégia comum entre grandes multinacionais, principalmente do setor de tecnologia: operar em vários países, mas registrar contabilmente seus lucros em paraísos fiscais, onde os impostos são menores. Para além da aparente confusão de números, estima-se que isso representaria para o Brasil, por exemplo, um acréscimo na arrecadação anual em torno de 5 bilhões de reais. Em condições ideais, esse aumento de recursos pode proporcionar aos países beneficiados, inclusive aos mais ricos, melhores condições para desenvolver políticas públicas de amparo social.
A proposta do G7 é significativa, entre outros fatores, por ser um reconhecimento das falhas e distorções de como gigantes transnacionais têm utilizado seus recursos. De fato, de acordo com a Bíblia, o problema não se encontra no dinheiro em si, mas no “amor ao dinheiro”, “a raiz de todos os males” (1Tm 6:10).
Por isso, logo no início da trajetória do povo de Deus, Israel foi ensinado a manter um sistema sólido de beneficência social, a fim de evitar que as injustiças prevalecessem. Entre as orientações específicas estavam a lei da respiga (Dt 24:19, 20); a permissão para se alimentar da plantação de alguém, caso estivesse passando por ela (Dt 23:25); a exortação para cuidar das pessoas necessitadas (Dt 15:11); o segundo dízimo, separado no terceiro e no sexto anos em cada ciclo de sete, destinado aos levitas, estrangeiros, órfãos e às viúvas (Dt 14:22-29); e a celebração do jubileu, a cada 50 anos (Lv 25:10). Essas instruções foram dadas para conter o egoísmo e evitar que a sociedade israelita fosse marcada pela exploração e desigualdade.
Apesar disso, Israel desobedeceu à ordem do Senhor e deu espaço para a injustiça avançar. Em certo sentido, o ministério dos profetas pré-exílicos foi marcado por fortes críticas a essa situação (Is 1:22-24; Jr 5:26-29; Am 2:6-8). Mesmo depois do exílio, Deus enviou mensagens de repreensão aos judeus, porque continuavam negligenciado o cuidado aos mais vulneráveis (Zc 7:9, 10; Ml 3:5), ainda que tivessem experimentado, eles mesmos, um longo período de aflição.
Essas orientações e repreensões do Antigo Testamento ecoam nos ensinos de Cristo e nas cartas apostólicas. Jesus declarou que Seus seguidores seriam recompensados no juízo pela compaixão genuína demonstrada aos desamparados (Mt 25:34-40), e a igreja em seus primórdios se destacou por sua generosidade (At 2:44, 45; 4:32-35; 1Co 16:1-4; Tg 1:27).
O testemunho bíblico, portanto, indica que Deus espera de nós uma atitude proativa em favor dos pobres e desamparados. Ainda que não sejamos protagonistas neste grande tabuleiro que se tornou a economia mundial, somos chamados a minimizar, com nosso exemplo, escolhas de consumo e recursos, os impactos da desigualdade social ao nosso redor. Por menor que seja nossa contribuição, Ellen White escreveu que “é o serviço feito de coração que torna a dádiva valiosa” (Conselhos Sobre Mordomia, p. 176). E o Senhor jamais Se esquecerá disso!
Wellington Barbosa (via Revista Adventista)
Nota do blog: A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no ministério de Cristo, e tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as mudanças que queremos ver no mundo.”
Um discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de outros. O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos.
Sobre o plano de Deus para sanar a desigualdade em Israel, Ellen White diz: "O povo devia ser impressionado com o fato de que era a terra de Deus que se lhes permitia possuir por algum tempo; de que Ele era o legítimo possuidor, o proprietário original, e de que desejava se tivesse consideração especial pelos pobres e infelizes. A mente de todos devia ser impressionada com o fato de que os pobres têm tanto direito a um lugar no mundo de Deus como o têm os mais ricos. Tais foram as disposições tomadas por nosso misericordioso Criador a fim de minorar o sofrimento, trazer algum raio de esperança, lampejar uma réstia de luz na vida dos que são destituídos de bens e se acham angustiados" (Beneficência Social, p. 174).
E ela diz mais: "A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado" (Beneficência Social, p. 190).
Ao vermos seres humanos em aflição, seja devido ao infortúnio, seja por causa do pecado ou outra coisa qualquer, nunca diga: “Não tenho nada com isso”. É necessário que haja sacrifício prático pelo bem-estar de outros, seja onde quer que estejamos, ou qual for nossa profissão; pois para isso também fomos criados, para sermos as mãos bondosas do Criador aqui neste planeta.
Jesus resumiu a lei moral dos dez mandamentos em apenas dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mateus 22:37-39). Como cristãos, deveríamos estar atentos às necessidades de nossos semelhantes, buscando sempre uma ocasião oportuna para prestar ajuda.
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