Uma foto. Um mundo nela. Formidável e espantosa. Amoleceu minhas pernas. Amor, dor, revolta, esperança. Tudo ali. Imagem que seca a garganta, embrulha o estômago e reposiciona valores. Imediatamente. Começar a semana vendo isso faz dos problemões, probleminhas.
Ela acaba de ganhar o prêmio máximo de Foto do Ano no Siena International Photo Awards 2021. O fotógrafo Mehmet Aslan eternizou um lírio no pântano. Sorrisos impossíveis. O pai perdeu a perna na explosão de um mercado sírio. O filho nasceu sem as pernas por deformações resultantes dos remédios que sua mãe tomou após ser envenenada com gás sarin. Ambos se completando no que falta.
Confesso que me emocionei. Tenho uma filha. Temos nossos sonhos. E nossas lutas. Até atravessar o oceano pra notar a felicidade mais improvável que existe. A guerra na Síria já interrompeu 388 mil vidas. Seu bizarro aniversário de 10 anos machucando gente merece um golpe mortal na insensibilidade. E esta foto faz isso. Mata a morte com esperança.
“Os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação” (2Co 1:5). Percebe a plenitude na saudade? O que nos falta é do tamanho do que Deus preenche. Se o amor de um pai e um filho se imortalizou num instante, o Calvário é outro instante que nos eterniza perante o universo.
Está difícil? Desalentador? Quer desistir? Deserto insuportável? Traiçoeiro? Na terra arrasada dos seus dias há uma promessa germinando onipotente: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13:5). Você pode olhar esta imagem pela limitação injusta e desanimadora. Ou ver a superação indescritível da fé no que a humanidade tem como maior grandeza: amar acima da falta do amor.
Por isso, acredite na ternura do Pai do Céu. Ele também carrega marcas de guerra. O pecado nos amputou a todos. Mas Seus braços nos sustentam com mãos perfuradas. Cicatrizadas. Podemos sentir a brisa das alturas. Tudo passará. Vai melhorar. Renascer. Até que o tempo não conte mais tempo.
Em um sorriso sem fim.
Odailson Fonseca (via instagram)
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