Deus espera que o maior número possível de pessoas compreenda Seu amor, Seus ensinos, e se prepare para ser cidadão de Seu reino. Mas para que as pessoas ouçam desse amor, é necessário que alguém lhes conte sobre isso. E quem o fará? Os anjos? O próprio Deus? Sim, essas são possibilidades. Mas Deus preferiu deixar essa missão de testemunhar com Seus filhos e filhas. Se experimentamos as boas novas do evangelho, não podemos ficar calados.
A Bíblia diz em 2 Reis 7:9: “Então disseram uns aos outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos. Se esperarmos até a luz da manhã, algum castigo nos sobrevirá; vamos, pois, agora e o anunciemos à casa do rei.”
Jesus manda-nos testemunhar. A Bíblia diz em Mateus 28:18-20: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
Neste sentido, testemunhar é um imperativo que se fundamenta em cinco ideias:
1. Devemos testemunhar porque assim oferecemos oportunidade de salvação a todas as pessoas.
2. Devemos testemunhar porque isso agrada a Jesus Cristo.
3. Devemos testemunhar porque, quando testemunhamos, nós mesmos crescemos.
4. Devemos testemunhar porque, ao fazê-lo, estamos sendo fiéis a Deus.
5. Devemos testemunhar porque essa é uma responsabilidade de quem ama a Deus e às pessoas.
Além de demonstrar compromisso com Deus e Sua missão, testemunhar demonstra que compreendemos totalmente o propósito de nossa vida. Igualmente, testemunhar significa revelar o nobre caráter do Senhor em nossa vida e em nosso discurso.
O que podemos aprender com os primeiros adventistas
O culto dos primeiros adventistas tinha
elementos diferentes das reuniões religiosas de hoje, que ligavam as pessoas
a Deus e umas às outras. O estudo
das Escrituras na Escola Sabatina e o sermão
bíblico eram complementados pela “reunião
social”, tempo destinado ao testemunho. Esse
momento era junto com a Escola Sabatina ou
na parte da tarde. E ele era marcado por testemunhos, encorajamento, troca de experiências,
gratidão pela providência divina, confissão e
até mesmo exortação.
Quando jovem, Ellen Harmon era introvertida e tímida. Na virada de 1843 para 1844, ela teve coragem de orar em voz alta
pela primeira vez durante uma
reunião na casa de seu tio, em
Portland, no Maine (EUA). Aquela
prece foi importante e transformadora para ela, pois Ellen havia se
angustiado com dúvidas sobre sua
conversão.
Ela disse: “Enquanto orava, o
peso e a agonia de coração que
havia tanto tempo eu suportava
deixaram-me, e a bênção do Senhor
desceu sobre mim, semelhante ao
orvalho suave. Louvei a Deus de
todo o meu coração. [...] O Espírito
de Deus pousou sobre mim com
tal poder que não pude ir para
casa naquela noite. Quando voltei
para casa, no dia seguinte, grande
mudança havia ocorrido em meu
espírito” (Testemunhos Para a
Igreja, v. 1, p. 31).
Pouco depois disso, numa reunião milerita em Portland, ela deu
seu testemunho: “A singela história do amor de Jesus para comigo
caiu-me dos lábios com perfeita
liberdade, e meu coração estava
tão feliz por ter-se libertado de
seu cativeiro de escuro desespero
que perdi de vista o povo ao meu
redor e parecia-me estar sozinha
com Deus. Não encontrei difi culdade em expressar minha paz e
felicidade, a não ser nas lágrimas
de gratidão que me embargavam
a voz quando falei do prodigioso
amor que Jesus havia demonstrado
para comigo” (p. 32).
Quem estava nessa reunião era
Levi Stockman, um pastor metodista-milerita com quem Ellen
havia conversado em particular
sobre suas lutas. Ele ficou tão
tocado com o testemunho dela
que “chorou em voz alta”, louvando
a Deus pela mudança daquela
menina que até pouco tempo estava
tão desanimada e vencida pelo
medo.
Ellen, que mais tarde foi chamada para o
ministério profético, recebeu um pedido, pouco
tempo depois, para contar seu testemunho numa
igreja próxima dali. Ao expressar seu amor por
Jesus, com o coração submisso e olhos lacrimejantes, ela sensibilizou muitos da congregação
a entregar a vida a Deus (Life Sketches, p. 41).
Tempo para testemunhos
Essa experiência de Ellen White era típica dos
cultos dos primeiros adventistas. Ao longo
do século 19 e início do século 20, havia no
serviço de adoração coletiva de nossa igreja
um período específico para o testemunho. As
pessoas eram convidadas a reagir à mensagem
pregada, falando da sua experiência com Deus.
Esses momentos, que ficaram conhecidos
como “reuniões sociais” (social meetings),
aconteciam até mesmo nas assembleias administrativas da igreja, como na organização da
Associação de Michigan (1861) e da Associação Geral (1863). Segundo Tiago White relatou
na revista da denominação, havia espaço nesses encontros administrativos para a pregação
da Palavra e testemunhos curtos dos irmãos
e irmãs. Com isso, “um espírito calmo, doce e
amoroso” havia permeado essas reuniões
(Review and Herald, 8 de outubro de 1861,
p. 148; 26 de maio de 1863, p. 204).
Vários líderes da igreja daquela época colocaram as reuniões sociais no coração do evangelismo e da organização de novas congregações. Eles recomendavam que, quando um
evangelista realizasse séries em novas regiões,
fosse nomeado um líder local que conduzisse
as reuniões sociais ali. O objetivo era que esses
encontros gerassem relacionamentos profundos e que, por meio deles, fossem identificadas
pessoas que pudessem assumir a liderança
da nova congregação. Só então, depois desse
processo, a igreja era organizada (Review and
Herald, 15 de outubro de 1861, p. 156).
Essa abordagem foi endossada por Ellen
White na Austrália, em 1894. J. O. Corliss
havia introduzido um momento de testemunho pessoal na pequena congregação de Seven
Hills, seguindo a sugestão de uma mensagem
comovente da pioneira adventista. Ellen White
entendia que a reunião social era uma oportunidade de os novos fiéis serem treinados como
testemunhas de Cristo.
Sobre essa experiência, ela relatou: “Tivemos então uma reunião social. Esse foi um
novo exercício para aqueles que tinham recém-chegado à fé, mas o irmão Corliss chamou um
após outro para serem testemunhas do Senhor Jesus, até que todos os crentes,
exceto um, deram o próprio testemunho” (Manuscrito 32, 1894).
Cultos breves
A mensageira do Senhor deu conselhos práticos para que esses
momentos de testemunho não fossem dominados por uma ou duas
pessoas. “Deve haver um espírito
de confissão a Deus e um reconhecimento de Suas bênçãos, com
ação de graças”, ela recomendou
na carta 279 de 1905 (Manuscript
Releases, v. 9, p. 97). “Em conclusão, eu diria: No sábado, quando o
povo se reunir para o culto, que
o discurso seja curto e que todos
tenham a oportunidade de dar
seu testemunho”, complementou
a pioneira na Carta 187 de 1904.
Hoje, podemos entender melhor
a razão do sucesso dessas primeiras reuniões sociais dos adventistas. Compartilhar experiências
pessoais nos ajuda a entender
nossa necessidade da bênção de
Deus, além de estabelecer conexões
entre as pessoas. É uma oportunidade singular para que o Espírito
Santo impressione a mente das
pessoas e una nosso coração ao
de Deus e uns dos outros.
A Bíblia está repleta de testemunhos pessoais. Creio que o Espírito Santo usa essas histórias de
provação e fé, junto com as nossas
contemporâneas, para gerar reavivamento pessoal e congregacional. Essa é uma das razões para
amarmos os Salmos, porque eles
expressam honestamente a necessidade do coração, que anseia por
confissão, petição, promessa, louvor aos atos grandiosos de Deus.
Nos dias que antecedem a volta
de Jesus, o povo de Deus vencerá
Satanás pelo sangue do Cordeiro
e pela palavra do nosso testemunho de, mesmo diante da morte,
não amar a própria vida (Ap 12:11).
Por isso, não podemos nos calar.
Merlin D. Burt (via Revista Adventista)
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