terça-feira, 9 de novembro de 2021

A IMPORTÂNCIA DO TESTEMUNHO

Deus espera que o maior número possível de pessoas compreenda Seu amor, Seus ensinos, e se prepare para ser cidadão de Seu reino. Mas para que as pessoas ouçam desse amor, é necessário que alguém lhes conte sobre isso. E quem o fará? Os anjos? O próprio Deus? Sim, essas são possibilidades. Mas Deus preferiu deixar essa missão de testemunhar com Seus filhos e filhas. Se experimentamos as boas novas do evangelho, não podemos ficar calados.

A Bíblia diz em 2 Reis 7:9: “Então disseram uns aos outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos. Se esperarmos até a luz da manhã, algum castigo nos sobrevirá; vamos, pois, agora e o anunciemos à casa do rei.”

Jesus manda-nos testemunhar. A Bíblia diz em Mateus 28:18-20: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

Neste sentido, testemunhar é um imperativo que se fundamenta em cinco ideias:

1. Devemos testemunhar porque assim oferecemos oportunidade de salvação a todas as pessoas.

2. Devemos testemunhar porque isso agrada a Jesus Cristo.

3. Devemos testemunhar porque, quando testemunhamos, nós mesmos crescemos.

4. Devemos testemunhar porque, ao fazê-lo, estamos sendo fiéis a Deus.

5. Devemos testemunhar porque essa é uma responsabilidade de quem ama a Deus e às pessoas.

Além de demonstrar compromisso com Deus e Sua missão, testemunhar demonstra que compreendemos totalmente o propósito de nossa vida. Igualmente, testemunhar significa revelar o nobre caráter do Senhor em nossa vida e em nosso discurso.

O que podemos aprender com os primeiros adventistas
O culto dos primeiros adventistas tinha elementos diferentes das reuniões religiosas de hoje, que ligavam as pessoas a Deus e umas às outras. O estudo das Escrituras na Escola Sabatina e o sermão bíblico eram complementados pela “reunião social”, tempo destinado ao testemunho. Esse momento era junto com a Escola Sabatina ou na parte da tarde. E ele era marcado por testemunhos, encorajamento, troca de experiências, gratidão pela providência divina, confissão e até mesmo exortação. 

Quando jovem, Ellen Harmon era introvertida e tímida. Na virada de 1843 para 1844, ela teve coragem de orar em voz alta pela primeira vez durante uma reunião na casa de seu tio, em Portland, no Maine (EUA). Aquela prece foi importante e transformadora para ela, pois Ellen havia se angustiado com dúvidas sobre sua conversão. 

Ela disse: “Enquanto orava, o peso e a agonia de coração que havia tanto tempo eu suportava deixaram-me, e a bênção do Senhor desceu sobre mim, semelhante ao orvalho suave. Louvei a Deus de todo o meu coração. [...] O Espírito de Deus pousou sobre mim com tal poder que não pude ir para casa naquela noite. Quando voltei para casa, no dia seguinte, grande mudança havia ocorrido em meu espírito” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 31). 

Pouco depois disso, numa reunião milerita em Portland, ela deu seu testemunho: “A singela história do amor de Jesus para comigo caiu-me dos lábios com perfeita liberdade, e meu coração estava tão feliz por ter-se libertado de seu cativeiro de escuro desespero que perdi de vista o povo ao meu redor e parecia-me estar sozinha com Deus. Não encontrei difi culdade em expressar minha paz e felicidade, a não ser nas lágrimas de gratidão que me embargavam a voz quando falei do prodigioso amor que Jesus havia demonstrado para comigo” (p. 32). 

Quem estava nessa reunião era Levi Stockman, um pastor metodista-milerita com quem Ellen havia conversado em particular sobre suas lutas. Ele ficou tão tocado com o testemunho dela que “chorou em voz alta”, louvando a Deus pela mudança daquela menina que até pouco tempo estava tão desanimada e vencida pelo medo.

Ellen, que mais tarde foi chamada para o ministério profético, recebeu um pedido, pouco tempo depois, para contar seu testemunho numa igreja próxima dali. Ao expressar seu amor por Jesus, com o coração submisso e olhos lacrimejantes, ela sensibilizou muitos da congregação a entregar a vida a Deus (Life Sketches, p. 41). 

Tempo para testemunhos
Essa experiência de Ellen White era típica dos cultos dos primeiros adventistas. Ao longo do século 19 e início do século 20, havia no serviço de adoração coletiva de nossa igreja um período específico para o testemunho. As pessoas eram convidadas a reagir à mensagem pregada, falando da sua experiência com Deus. 

Esses momentos, que ficaram conhecidos como “reuniões sociais” (social meetings), aconteciam até mesmo nas assembleias administrativas da igreja, como na organização da Associação de Michigan (1861) e da Associação Geral (1863). Segundo Tiago White relatou na revista da denominação, havia espaço nesses encontros administrativos para a pregação da Palavra e testemunhos curtos dos irmãos e irmãs. Com isso, “um espírito calmo, doce e amoroso” havia permeado essas reuniões (Review and Herald, 8 de outubro de 1861, p. 148; 26 de maio de 1863, p. 204). 

Vários líderes da igreja daquela época colocaram as reuniões sociais no coração do evangelismo e da organização de novas congregações. Eles recomendavam que, quando um evangelista realizasse séries em novas regiões, fosse nomeado um líder local que conduzisse as reuniões sociais ali. O objetivo era que esses encontros gerassem relacionamentos profundos e que, por meio deles, fossem identificadas pessoas que pudessem assumir a liderança da nova congregação. Só então, depois desse processo, a igreja era organizada (Review and Herald, 15 de outubro de 1861, p. 156). 

Essa abordagem foi endossada por Ellen White na Austrália, em 1894. J. O. Corliss havia introduzido um momento de testemunho pessoal na pequena congregação de Seven Hills, seguindo a sugestão de uma mensagem comovente da pioneira adventista. Ellen White entendia que a reunião social era uma oportunidade de os novos fiéis serem treinados como testemunhas de Cristo. 

Sobre essa experiência, ela relatou: “Tivemos então uma reunião social. Esse foi um novo exercício para aqueles que tinham recém-chegado à fé, mas o irmão Corliss chamou um após outro para serem testemunhas do Senhor Jesus, até que todos os crentes, exceto um, deram o próprio testemunho” (Manuscrito 32, 1894). 

Cultos breves
A mensageira do Senhor deu conselhos práticos para que esses momentos de testemunho não fossem dominados por uma ou duas pessoas. “Deve haver um espírito de confissão a Deus e um reconhecimento de Suas bênçãos, com ação de graças”, ela recomendou na carta 279 de 1905 (Manuscript Releases, v. 9, p. 97). “Em conclusão, eu diria: No sábado, quando o povo se reunir para o culto, que o discurso seja curto e que todos tenham a oportunidade de dar seu testemunho”, complementou a pioneira na Carta 187 de 1904. 

Hoje, podemos entender melhor a razão do sucesso dessas primeiras reuniões sociais dos adventistas. Compartilhar experiências pessoais nos ajuda a entender nossa necessidade da bênção de Deus, além de estabelecer conexões entre as pessoas. É uma oportunidade singular para que o Espírito Santo impressione a mente das pessoas e una nosso coração ao de Deus e uns dos outros. A Bíblia está repleta de testemunhos pessoais. Creio que o Espírito Santo usa essas histórias de provação e fé, junto com as nossas contemporâneas, para gerar reavivamento pessoal e congregacional. Essa é uma das razões para amarmos os Salmos, porque eles expressam honestamente a necessidade do coração, que anseia por confissão, petição, promessa, louvor aos atos grandiosos de Deus. 

Nos dias que antecedem a volta de Jesus, o povo de Deus vencerá Satanás pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do nosso testemunho de, mesmo diante da morte, não amar a própria vida (Ap 12:11). Por isso, não podemos nos calar.

Merlin D. Burt (via Revista Adventista)

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