quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

NATAL DOS EXCLUÍDOS

Feliz Natal! Pra quem? 19 milhões de brasileiros com fome, 13,5 milhões desempregados, milhares de crianças sem um teto... Não há felicidade sem garantia de vida digna para o nosso povo. O registro da imagem acima feito pelo fotógrafo João Paulo Guimarães no município de Pinheiro, a 333 km de São Luís, no Maranhão, tem chamado atenção nos últimos dias. Uma foto tirada em um lixão da cidade mostra Gabriel, de 12 anos, que acompanhava a mãe no local, feliz ao encontrar uma árvore de Natal em meio aos entulhos. Com a repercussão da imagem, Gabriel acabou ganhando uma árvore nova, além de outras doações arrecadadas em uma campanha online.

A epopeia do casal Maria e José ─ os excluídos da sociedade judaica que não tiveram direito a uma estalagem para abrigar o seu filho Jesus que estava prestes a nascer, hoje, são simbolizados por aqueles que nesse Natal estão longe das mesas repletas de guloseimas e vinhos; são representados por aqueles que estão bem distantes do burburinho da cidade engalanada e repleta de efêmeros atrativos. O drama dos pais de Jesus que não foram acolhidos pela sociedade daquela época, se repete diariamente na pele dos excluídos de nossa sociedade. Vejamos o que Ellen G. White nos convoca a fazer nesta época do ano:

“As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar" (O Lar Adventista, p. 482).

"Pelo mundo os feriados são passados em frivolidades e extravagância, glutonaria e ostentação. ... Milhares de dólares serão gastos de modo pior do que se fossem lançados fora, no próximo Natal e Ano Novo, em condescendências desnecessárias. Mas temos o privilégio de afastar-nos dos costumes e práticas desta época degenerada; e em vez de gastar meios meramente na satisfação do apetite, ou com ornamentos desnecessários ou artigos de vestuário, podemos tornar as festividades vindouras uma ocasião para honrar e glorificar a Deus" (Review and Herald, 11 de dezembro de 1879).

A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no ministério de Cristo, tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as mudanças que queremos ver no mundo.”

Um discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de outros. 
 
Ellen G. White escreveu: “A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado” (A Ciência do Bom Viver, p. 163). Quantas vezes, mesmo empenhados na obra de Deus, nós nos entusiasmamos com novos projetos, métodos e alvos, e, contudo, somos indiferentes para com os que sofrem.
 
O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos. Como Cheryl Sanders o expressa:

“O reino preparado desde a fundação do mundo é um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para entrar nesse reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a partir da abundância que recebeu como legado de Deus. E o evangelho declara que a vida eterna é a recompensa daqueles que cuidam da vida. Aqueles que alimentam os famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse mandado bíblico é negar lealdade ao reino e ao Rei” (Ministry at the Margins, p. 28).

A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?

“Mas não necessitamos de ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas ao pé do leito dos doentes, nas choças de pobreza, nos apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos nos Seus passos" (O Desejado de Todas as Nações, p. 616).

Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).

Concluo com estas importantes exortações de Ellen G. White para nós:

“O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e sensível.” (Beneficência Social, p. 168)

"A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado." (Beneficência Social, p. 188-190)
 
Deus nos convoca, hoje, a ajudarmos o próximo. Juntos, em amor, compaixão, bondade e misericórdia em prol de um irmão necessitado de esperança, de pão, de uma oportunidade, de uma chance para mudar sua vida.

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