sábado, 8 de janeiro de 2022

DEUS COMO MÚSICO

Deus ama a música. O livro de Jó fala de anjos cantando como trilha sonora da Criação (Jó 38) e em homenagem ao nascimento de Jesus (Lucas 2). Entretanto, ninguém gravou esta música e ninguém foi transportado ao céu e de lá voltou com o Livro de Partituras Celestes para Vozes Humanas. Embora cá na Terra haja quem diga saber qual é a música do Céu!

Temos uma tendência a achar que as músicas religiosas de antigamente eram superiores às atuais músicas da igreja. Mas isso não passa de uma de nossas autoilusões favoritas, aquela que nos faz dizer “ah, no meu tempo era diferente”.

Não há razão alguma para pensar que o louvor dos tempos do Antigo Israel era superior ao de nosso tempo. Os corações sinceros de hoje não são menos sinceros que os de antigamente. O louvor não é menos aceito por Deus hoje que antes.

A música praticada nos cultos do Antigo Israel era bela e elevava os corações ao Senhor? Sim e não. O povo não se tornava melhor por causa da música. O efeito musical dura muito pouco. O povo se tornava melhor aos olhos de Deus ao praticar a bondade, ao andar em humildade com Deus, ao seguir sem hipocrisias Sua lei.

Hoje, a forma musical é diferente daquela praticada nos tempos antigos, mas o Deus é o mesmo. Como nos tempos do Antigo Testamento, as pessoas hoje ouvem uma música e podem ser tocados por ela ou podem ser indiferentes ao seu efeito. A atitude de louvor de um pode ser honesta e verdadeira e a de outro pode estar corrompida pela vaidade. E isso dificilmente é resultado da música ou do instrumento, mas das intenções pessoais.

O rei-músico Davi recebeu instruções sobre diversas atividades e utensílios do templo. Mas não recebeu uma letra e nem uma partitura. A inspiração musical não é inspiração verbal. Deus não passa os dias a soprar notas, acordes e versos no ouvido dos compositores. A inspiração é de pensamento.

Davi reconhecia a fonte de sua inspiração (2 Samuel 23: 1, 2). Mas isso não quer dizer que ele recebia as notas e acordes como um exercício rítmico-melódico ditado por Deus. Quando Deus dá uma canção à Moisés (Deuteronômio 31:19), ou quando organiza a liturgia do templo (2 Crônicas 25), isto já não é inspiração; é uma revelação direta feita pelo próprio Deus.

Por outro lado, "não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram [...] As palavras recebem o cunho da mente individual" (Mensagens Escolhidas 1, p. 21). Assim, a interpretação correta da inspiração divina é a que considera que Deus inspira o pensamento e motiva a criatividade do artista e do escritor, mas o modo como ele escreve ou as palavras que ele escolhe são um processo humano.

No processo criativo, o artista escreve, apaga, pensa, repensa, modela, descarta, volta a usar. Um músico escreve com vários outros músicos na cabeça. É uma atividade em que se conjuga intuição emocional e análise fria. E Deus, como músico e amante da música, inspira e, por que não?, admira a criatividade e a arte de Sua criatura em sincero louvor.

Joêzer Mendonça (via Adoração Adventista)

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